15 maio, 2011

Redes Sociais e a fragilidade nos primeiros contatos: banalização





- Está cada vez mais difícil fazer amizades!
- Como assim?
- Tem muitos fatores que atrapalham...
- Tais como?
- O individualismo. Os egos inflados, a banalização dos afetos (ontem me chamaram de querido em menos de dez minutos de amizade, sem nem me conhecer e não tendo a mínima idéia de como isso me irrita), o desejo de agradar (uma verdadeira traça!), a pressa em se tornar íntimo e próximo de-um-desconhecido, a falta na atenção e na definição de critérios para pedir para adicionar...
- Ah, você está falando em redes sociais e internet!
- Sim, especificamente, mas quase tudo isso vale para fora da rede também. As tentativas de seduzir para chamar atenção; a tendência de querer muitos dados (ou de já tê-los adquirido por intermédio de um perfil não fake feito por quem se expõe, como eu...) e não dar praticamente nenhum...
- Chega de exemplos.
- Não, não chega.
- O desejo de amizade instantânea por parte do solicitante, como se isso fosse absolutamente possível e factível; menções a foto e textos como se isso significasse conhecimento da "essência" do outro; frustração e descontentamento frente a mínimas contrariedades (expressas por aaafffffffffsss).
Intolerância com perguntas que visam "dar luz" para questões básicas de apresentação entre quem é fake e quem não é. Etc.
- Que bom que chegou nos  etecéteras!
- Engraxadinho.
- Mas, sério agora, o que o deixou tão frustrado?
- Não foi frustrado. Foi chocado e surpreso com essa onda de babaquice que acontece e que pauta a vida de muitos nas redes sociais. E, mais do que isso, a própria dificuldade que se dá nos (des)encontros por esse meio.
- Conte-me mais!
- Ontem tive uma das "amizades" mais rápidas no orkut (e no facebook): levou cerca de uma hora!
- Haahahaha. Só você mesmo. Se adicionaram nos dois?
- Sim. Ela decidiu que queria me add porque quase não entra no orkut.
- E você quase não entra no fb!
- Sim, eu disse isso a ela e, então, começamos a falar nos dois ao mesmo tempo... olha só que legal!
- Debochado!
- Pior que não. Foi legal mesmo... só que ela tem perfil fake no orkut e havia me dito que no fb... ela "é ela mesma"... rsrsrs... cheguei lá... a mesma foto fake do orkut. Você está entendendo? Igual!
- Sim. Daí você questionou. Claro.
- Claro. Sabe o que ela me disse? "Procura nas minhas fotos..."
Procurei... tinha uma loira várias vezes repetidas na tal pasta "fotos do perfil" que tem lá. Copiei o link e enviei para ela... perguntando se era aquela (depois mandei mais um ou dois links de fotos "candidatas" a ser
ela). Sabe o que a criatura me disse? "Procura loiro!" hahahahaha
Que petulância!
Comecei a achar que ela tava, tipo, me tirando. E perguntei isso pra ela.
Não respondeu, claro.
- Claro. E daí?
- Daí que, depois de algumas perguntas e algumas respostas - ela que já havia me dito que estava meio triste hoje e por isso estava lendo poesias da Patrícia (isso no terceira ou quarta "conversa" no orkut...
muito antes de chagarmos no fb) - me disse que eu estava enlouquecendo ela falando nas duas redes ao mesmo tempo.
Eu falei que era ela quem estava me enlouquecendo com esse joguinho de
procura-foto. Falei que jogo de esconde-esconde não era comigo.
- RSRSRSRSRSRSRS
- Ela se "emputeceu" ou se divertiu... e resolveu me mostrar quem ela era.
Pasme: postou (em tamanho grannnnnde) a primeira foto que eu havia enviado no link. Acho que ela não queria que eu tivesse dúvidas de que aquela era ela.
- Desaforada. Garanto que, além de loira, era de... gêmeos.
- Acertou na mosca. Adora movimentos rápidos e não dá conta.
Ar contaminado.
- Preconceito astrológico?
- Não. Pós-conceito.
- Com amostragem de UMA loira?
- Hahaha. Claro que não. Você sabe daquela geminiana que durou um mes na minha página. Aquela que dizia que quem mora no Rio de Janeiro tem que estar bem e não é passível de preocupações porque a cidade e a natureza são lindas!
- Ahhh sim, me lembro bem. E tem outras ainda...
- Não me relembre...Acho que vou incluir no perfil a informação de que não adiciono geminianos... rsrsrsrs
- Hahahahaa... sei que é mentira..
Tá e o quê mais?
- Depois que procurei por todo o fb dela alguma informação que comprovasse o que ela dizia - que não era fake - e não achei nada...disse-lhe que iria deletá-la do orkut e que, se quisesse, poderíamos continuar no fb.
- E ela?
- Ficou indignada; teve um ataque de ego e me deu duas respostas, uma em cada rede: no orkut disse que não tinha mais idade (45) para brincadeiras...(isso eu soube quando falei que ela iria sentir saudades da inquisição quando eu começasse a lhe fazer perguntas... ao que ela respondeu dois minutos depois...
"adorei sentir saudades"... o que me surpreendeu e me fez perguntar do quê ou de quem... hahahahaha - patético!)
- Coitada. Zero devir criança (ou como querem os menos avisados... criança interna desmaiada, em coma ou mortinha. Que Deus a abençoe e ilumine, fazendo nascer nela o lindo humor e a beleza de saber brincar...
mesmo com amigos "iniciantes"). Esquece ela.
- Já 'esqueci', Aqui é só comentários.
E no facebook, o que ela respondeu.
- Que iria me deletar no fb, ora. Normal... kkkkkkkkkkkkkkk
Que tinha feito uma má escolha em me pedir para add... rsrsrsrsrs
Eu comentei que eu também. Daí deletei tudo o que escrevi para ela (e ela para mim),
num e noutro. E fim.
- Aleluia! Até que enfim! Que novela xarope.
(Não a que está me contando. A que viveu com ela...)
 Mas a inquisição DELA foi bem pior que a sua. Realmente "caça às bruxas"...
ou melhor, magos na fogueira... rsrsrsrs
- Sim. Um espanto completo.
- Bem que você tentou. Mas desse jeito, sem condições...
- Uma "amizade relâmpago". Início, meio e fim.
Isso que comecei dizendo para ela que costumo não adicionar fakes, mas que achei legal algumas postagens dela (graças ao fato da página dela não estar cadeada, uma pequena vantagem que muitos fakes têm).
- Sim. A amizade é construção ou afinidades instantâneas. Quando flui, flui.
Quando não, não. E enfim...
E mesmo sendo construção... ainda assim há incertezas e desencontros...
nada é lindo, perfeito, maravilhoso, etc, o tempo todo... 
Não flui SEMPRE como um rio de águas mansas através de montanhas idílicas tendo apenas o céu azul
e os passarinhos cantando num parque cheio de flores e grama... como testemunha.
- Sim.
- Aquilo que você falou antes, sobre o individualismo, egos e banalização...
Bem isso.
Muitos se comportam como se pudessem dizer, fazer o que bem entendem, sem se ater às regras, limites, respeitos e singularidades... isso que seu perfil é bem claro no que você espera e na maneira como aponta o seu jeito no orkut...
Enfim...
- É, e, veja, o que estamos aprendendo sobre os relacionamentos e sobre as relações-entre-humanos nos encontros presenciais (kkkkkkkkkkkkkkkk) vale plenamente para os que estabelecemos nas redes sociais.
- Sim, até me lembrou de uma fala da Taraza e outra da Odrade - até mesmo de Paul e do verme tirano - que falam sobre...
- Não. Citações de Duna agora não...
- Também lembrei uma fala do mago-mor (com letras minúsculas)...
- Quem sabe você me conta - e declama Duna - enquanto fazemoS o almoço?
- Apreciei profundamente o S indicando plural!
- Já sabe qual o cardápio?
Filé de peito de frango à milanesa ao molho de nata, cenoura crua ralada, arroz e...
- Batatas fritas!
- Sim.
- Vamos!!!


(De "Conversas informais sobre as redes sociais e a banalização nos vínculos quando da tentativa de fazer novos amigos", por iniciados da cor azul e espadas de bainha dupla)





13 maio, 2011

As regras do jogo, por Odrade, de Duna





"Limite-se a observar,
e deixará de
compreender o que é
essencial em sua própria
vida.



O objeto pode ser formulado
deste modo: viva a melhor
vida que puder. A vida é um
jogo, cujas regras você
aprende se mergulhar nele
e jogá-lo completamente.



Do contrário você se
desequilibra,
continuamente
surpreso com as mudanças
nas jogadas.
Os não-jogadores
sempre lamentam e se
queixam de que a sorte
sempre os ignora.



Recusam-se a ver que
podem criar um pouco
de sua própria sorte".

- Darwi Odrade
(Em: "As Herdeiras
de Duna")























Fluir... em Osho, Duna e nas conversas entre iniciados






 "Seu conceito pessoal de sanidade 
vinha daqueles tempos. 
A capacidade de equilibrar-se em mares estranhos. 

A capacidade de manter seu eu mais 
profundo, apesar das ondas
inesperadas."

"No íntimo, sou feliz comigo mesma. Não 
me importo de estar só." Não que alguma
Reverenda Madre estivesse alguma vez só, 
verdadeiramente, depois que a agonia da
especiaria a tivesse inundado 
com Outras Memórias.

"Flutuo, logo sou."

(Darwi Odrade, em
As Herdeiras de Duna)

.......................

- Se você flui é incompreendido.

- Como assim?

- Fluir é não ser!

- Pronto. Está em crise!

- Não. Já saí dela. Ou melhor: sai da crise
que quiseram me imputar!

- Quem tentou fazer isso?

- Todos.

- Como todos?

-Todos os que esperam constância, 
coerência o tempo todo. Todos os
que desejam respostas iguais para
perguntas repetidas ou novas 
perguntas. Todos que querem e
esperam controlar você com as 
demandas que lhe lançam e com
as perguntas e respostas mentais 
que criam nos seus diálogos fictícios
e que tomam como 'o real'. Ficam à 
espera de que aconteça tal como 
imaginaram: querem certezas!

- A vida é incerta e seus 
acontecimentos também.

- Você VIVE isso ou discursa?

- Vai ficar me incomodando, agora?
Lançando seus desafios de "regente
da própria vida e do universo pessoal, 
onde se criam mundos dentro de mundos, 
dentro de mundos, dentro de mundos"?

- Você gosta de provocar.

- E você de ser provocado!

- Certo. Gostamos de ambos.

- Sim. 

- Mas, me responda: Vive 
ou discursa?

- Ambos. Nem só um, nem só outro.
Não é possível estar 'ligado' o tempo todo.

-  Claro. Então, voltando... ao que interessa:

- Tudo interessa!

- Não me interrompa.

- Siga.

- Eu dizia: "Fluir é não ser". E você chamou
isso de crise!

- Estava brincando. A incompreensão é
decorrente da desinformação, da falta de
vontade e/ou da teimosia vingativa.

- Essa foi boa. Vou anotar nos meus anais.

- Vai trocar de lugar comigo agora?

- Não. Que falta de senso de humor...

- Não é nada disso e, para provar, vou
lhe contar uma historinha Zen que o Mestre
nos contou ontem. Ele disse que era de um
outro homem considerado como Mestre. O 
nome dele é Osho.

- Sim, o das belas roupas e bom gosto. Eu usaria
todas aquelas túnicas bordadas e longas... 
nada convencionais.

- Excêntrico?

- Ele ou eu?

- Não vou responder.
Ouça a histórinha.

- Ok. Fala!

- Assim:


"Existe uma história zen: havia dois mosteiros vizinhos, l
ado a lado. Ambos os mestres serviam-se de alguns meninos 
pequenos para resolver pequenos assuntos. Os meninos iam 
ao mercado buscar coisas para seus mestres, às vezes legumes, 
às vezes outras coisas. Os mosteiros eram antagônicos entre si, 
mas as vezes os meninos agiam apenas como meninos: 
eles esqueciam das doutrinas e se encontravam no caminho, 
conversavam e divertiam-se. Isto era proibido: eles não deveriam 
conversar, porque o outro mosteiro era o inimigo.

Um dia, o menino que pertencia ao primeiro mosteiro veio e disse: 
"Eu estou confuso. Quando ia para o mercado, eu vi o menino 
de outro mosteiro e perguntei: "Aonde você vai?", e ele respondeu: 
"Para onde quer que o vento sopre"; e eu fiquei perdido, sem saber 
o que dizer. Ele criou um quebra-cabeça para mim".

O mestre disse: "Isso não é bom. Ninguém do nosso mosteiro jamais 
foi derrotado por alguém do outro mosteiro, nem mesmo um criado. 
Você tem que pegar aquele menino. Amanhã pergunte novamente: 
"Aonde você vai?, e ele responderá: "Para aonde quer que o vento 
sopre"; então você diz: "E se não houver nenhum vento, então ...?".

O menino não conseguiu dormir a noite inteira. Tentou e tentou conceber 
o que aconteceria no dia seguinte; ele ensaiou muitas vezes. 
Ele perguntaria e o outro menino responderia, e ele daria a sua 
nova resposta.

No dia seguinte, ele esperou no caminho. O menino do mosteiro vizinho 
chegou, e ele perguntou-lhe: "Aonde você vai?"

O menino respondeu: "Para onde quer que os meus pés me levem".

E lá estava ele perdido sobre o que fazer. A resposta era categórica, 
e a realidade era imprevisível. Ele voltou muito tristee disse ao mestre: 
"Aquele menino não é confiável. Ele mudou e eu fiquei perdido sobre 
o que fazer".

Então o mestre disse: "Amanhã, quando ele disser: "Aonde quer que 
os meus pés me levem", você diz: "E se você for aleijado e não tiver 
pernas, então ...?".

Novamente ele não conseguiu dormir. No dia seguinte, foi esperá-lo bem 
cedo na estrada, e quando  menino chegou, ele perguntou: "Aonde você vai?". 
E o menino respondeu: "Vou buscar legumes no mercado".

Ele voltou muito transtornado e disse ao mestre: "Aquele menino é impossivel: 
ele contnua mudando".

A vida é aquele menino. Continua mudando. A realidade não é um fenômeno 
fixo. Você tem que estar presente, espontaneamente para ela, só então a 
resposta será real. Se sua resposta é definida previamente, então você já 
está morto, você já perdeu. O amanhã virá, mas você não estará lá; você 
estará preso dentro do ontem, aquilo que é o passado.

Lembre-se, a vida é sempre incerta. Tudo o que é morto é certo, a vida é 
sempre incerta. Tudo que é morto é sólido, rígido; sua natureza não pode 
ser mudada. Tudo que é vivo está mudando, movendo-se; é um fluxo, uma 
coisa líquida, flexível; pode voltar-se para qualquer direção. Quanto mais 
você adquire certezas, mais você perderá vida. E esses que sabem, sabem 
que a vida é Deus. Se você perder vida, você perde a Deus".
(Raízes e Asas -Osho fala sobre o Zen )

(De "Conversas entre iniciados do grau 7 - verde)





10 maio, 2011

As imagens do amor e as imagens no amor








Vem!
Vem de mansinho…
Deixa-me ficar
nesta penumbra,
nesta meia luz.
Senta-te amor, devagarinho…
Assim…
Eu quero escutar
essa música dolente,
que a tua luz traduz!
Vem contar-me contos…



Conta-me a vida dos ciganos
nómadas, errantes.
Dize-me dos orientais
que têm paixões brutais
e dos seus haréns,
as cenas sensuais…



Dá, meu amor,dá alegria,
põe muita cor nessas novelas…
Vem contar-me coisas belas!
Veste as ciganas bronzeadas
de lenços de ramagens!



Dá tons vivos às imagens…
Veste-as de cores encarnadas!
Fala-me dessas tribos selvagens
enfeitadas com penas multicores
e coisas esquisitas,
desenhando tatuagens
no peito das favoritas!
- Dize-me dos teus amores…



Enche de luz e de estridora
minha alcova sombria!
Dá-me alegria…
Incendeia meu sangue arrefecido!
E depois meu amor…



Depois…
deixa-me sonhar…
Delirar,num sonho belo,
rubro, colorido!

Judith Teixeira




Deito fora as imagens,
Sem ti
para que me servem as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente
passageira e verídica.
Preciso habituar-me
ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor
de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas
e que mais ninguém
ouve a não ser eu.
Serei feliz
sem as imagens.
As imagens
não dão felicidade
a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil
inventar-te, e eu te inventei.
Posso passar
sem as imagens
assim como
posso passar sem ti.
E hei-de ser feliz
ainda que isso
não seja ser feliz.

Raul de Carvalho



09 maio, 2011

Drummond, Nietzsche e Espinosa: afetos alegres, tristes e a razão.






O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede.
Nada espera,mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste?
Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade 





Drummond fala num amor que lembra paixão.
Ele fala num sentimento que parece
resistir ao tempo, a tudo e a todos e
se manter inviolável e inalterado.
E possível isso? O que é isso?
É amor? É paixão?
É amor-paixão.
É paixão-amor?
É paixão triste?

Que afeto é esse?


Nietzsche, Espinosa e Psicanálise. 
Como o senhor chegou a essa união? Como e por que direcionou seus estudos neste sentido?
André Martins Fiz doutorado em Filosofia na França, com o Clément Rosset, que é um grande filósofo e muito irreverente. Cheguei para fazer o doutorado e assistia a todas as aulas dele, que tinham as salas lotadas. Uma das disciplinas foi Teoria Psicanalítica, no curso de Filosofia. Foi aí que comecei a me interessar por Psicanálise, a comprar livros e a ler bastante. Paralelamente a isso, meu interesse sempre foi Nietzsche - também Deleuze e Foucault - e depois Espinosa, que chegou de forma arrasadora na minha vida e me conquistou. São autores que estão pensando o mundo sensível e de alguma forma as reações afetivas. É um tema próximo da Psicanálise. Por me interessar por esses autores, por uma filosofia imanente e não transcendente, por uma filosofia que pensa a vida, acabei me deparando com a questão dos afetos. E, a partir daí, fui também estudar Psicanálise, mas dentro desse percurso individual. Ao chegar ao Brasil, fiz um segundo doutorado em Teoria Psicanalítica e sou membro de sociedades psicanalíticas no Brasil e na França. Aí tudo começou a fazer sentido, a se juntar.



Nietzsche e Espinosa foram incompreendidos em vida e tidos como malditos ao longo da história da Filosofia. Além deste perfil em comum, o que mais aproxima esses dois filósofos?
Martins O que os aproxima é o que está na origem do fato de eles terem sido incompreendidos e malditos. As filosofias de um e de outro têm pontos comuns que sempre foram polêmicos, pouco aceitos. O próprio Nietzsche me ajuda a responder a essa pergunta porque, em um cartão-postal que escreveu a um amigo, falou que se reencontra em Espinosa em cinco pontos capitais e também na tendência geral de sua filosofia. Ambos tomam o conhecimento como o mais potente dos afetos. O conhecimento ser visto como um afeto é algo completamente diferente da tradição filosófica. E é dito como sendo o afeto mais potente. O conhecimento, neste caso, tanto para Nietzsche quanto para Espinosa, é o conhecimento não só da realidade como dos próprios afetos. Se conhecemos a maneira como somos afetados, como funcionamos - nossas reações e motivações afetivas -, esse conhecimento é o que mais tem poder sobre os nossos afetos e, portanto, sobre as nossas ações. A tradição filosófica sempre buscou uma verdade a priori, ou seja, uma verdade em si ou formalmente verdadeira. Tanto Espinosa, no século XVII, quanto Nietzsche, no século XIX, tentam mostrar que uma verdade formal não existe. Segundo eles, nós só existimos no mundo sensível, na realidade, então a verdade consiste em conhecer esse mundo no qual a gente se insere e não conhecer uma verdade que seja formalmente impassível ou imutável. Esse é o grande ponto em comum entre eles, a tendência geral da filosofia dos dois que os distingue de toda a história da Filosofia.



E quais são os cinco pontos em comum entre os dois enumerados por Nietzsche?
Martins São eles: a não existência do livre-arbítrio; a não existência do mal - e subentende-se, portanto, que não existe também o bem; a não existência de causas finais, ou seja, de que algo existe no mundo porque tem uma finalidade - por exemplo: Deus criou a fruta para alimentar o homem, ou uma dificuldade para que o homem aprenda a superá-la; a não existência do desinteresse - não existe desinteresse, existem ações interessadas interesseiras e ações interessadas não interesseiras, mas sempre existe o interesse e, por fim, o quinto ponto é a negação da ordem moral do mundo: Nietzsche e Espinosa negavam a existência de um sentido moral intrínseco às próprias coisas, aos acontecimentos, à existência. Acho que Nietzsche foi muito feliz em perceber que esses cinco pontos, que são os pilares da tradição filosófica de toda a história da Filosofia, em particular da Modernidade e do Humanismo, são falhos, não existem, são ficções. Nietzsche foi muito preciso em ver que Espinosa já denunciava esses pontos na aurora da Modernidade.


Falamos sobre os pontos em comum. E fazendo o oposto, qual seria o maior ponto de atrito e de divergência entre eles?
Martins Diria que a principal diferença é de foco ou de tonalidade. Nietzsche é extremamente passional no jeito de escrever - na vida pessoal nem tanto, era uma pessoa serena, calma, apaziguadora, mas nos textos é muito passional e provocativo: "sou dinamite", "filosofar com o martelo". Espinosa, por oposição, não só no texto quanto na própria filosofia e, ao que parece, razoavelmente na própria vida pessoal, propõe um controle, um domínio sobre as paixões. Vejo que ambos têm filosofias distintas, porém muito próximas em pontos fundamentais. Nietzsche seria uma versão mais passional, mais apaixonada de um fazer filosófico. Espinosa seria uma versão mais sóbria ou racional desse mesmo fundo filosófico.intensificação das paixões alegres e das alegrias ativas. Quando Nietzsche fala do engajamento apaixonado, ele está pensando no que Espinosa chamaria de "paixões alegres". Mas o foco é diferente, Espinosa não está valorizando as paixões alegres, quer dizer, está, mas sem colocar o foco nelas. O objetivo de Espinosa são os afetos ativos, que estão para além das paixões alegres. Digamos, ter as paixões tristes é negativo para os dois, e aí viriam as paixões alegres e os afetos ativos, as alegrias ativas. Nietzsche não dá ênfase aos afetos ativos, embora eles estejam presentes também na filosofia dele. A ênfase que ele dá é - usando os termos de Espinosa - nas paixões alegres.



Nietzsche está sempre fazendo um elogio do engajamento individual da pessoa naquilo que ela faz. Ele preconiza um envolvimento apaixonado na vida, nas coisas que se faz na vida
O que seriam essas paixões alegres e tristes de Espinosa?
Martins Em Espinosa, um afeto alegre, que pode ser passivo - uma paixão alegre - ou ativo - que é sempre alegre -, é o afeto que aumenta a nossa potência de agir, de pensar, de estar no mundo, de existir. Esse é o afeto alegre: o que nos impulsiona, o que nos expande. É parecido com Nietzsche, que vai falar de uma "Vontade de Potência", que é uma vontade de expansão. O afeto triste, que é sempre passivo, ou seja, é sempre uma paixão triste, em Espinosa, é o afeto que nos oprime, que nos deprime, que vai contra a nossa potência de agir. Nietzsche vai falar contra o ressentimento, que é um afeto triste. Vai falar contra a submissão, contra seguir a moral do rebanho, contra fazer como todo mundo, que são afetos tristes. Muito embora o uso conceitual seja diferente, eles têm uma afinidade de compreensão do que são afetos. Basta pensar: em Espinosa, o afeto é um conceito central; em Nietzsche, também; e isso é raríssimo na história da Filosofia, que o conceito central de uma filosofia seja o afeto.



Afeto é uma palavra de nosso uso corrente, ligada a carinho. 
O que seria o afeto em Espinosa? 
Martins É próximo de sentimento, mas não é exatamente sentimento. Poderíamos dizer que sentimentos são afetos, mas precisamos entender afeto no sentido mais amplo. Somos afetados sempre e inevitavelmente. E esses afetos nos movem, nos motivam, mesmo que não tenhamos consciência disso. Espinosa nos mostra, bem antes da Psicanálise, que são nossos afetos que nos movem, e que a razão não pode modificá-los, a menos que ela se torne uma razão afetiva. Afeto é a reação inevitável a tudo o que nos impressiona, a tudo o que nos marca, a tudo com o qual interagimos. Sofremos afecções e essas afecções, concomitantemente - ao mesmo tempo e não em um segundo momento -, geram afetos. Afetos resultam das interações, não brotam nunca do nada em nós. Em Nietzsche, afeto, no geral, é sinônimo de paixão. Essa paixão pode ser o que Espinosa chama de uma paixão alegre. Nietzsche não faz essa distinção, mas ele está pensando o afeto próximo de paixão e próximo de pulsão - trieb, no original alemão, o mesmo termo que depois Freud vai usar. Nietzsche pensa afeto como um sinônimo de pulsão - o que é muito próximo da ideia de afeto de Espinosa. Enfim, é diferente, mas eles estão em universos conceituais muito próximos.


Falando um pouco de liberdade. Para Nietzsche e Espinosa, os homens não seriam livres em suas decisões, mas determinados. Determinados de que forma ou pelo quê?
Martins Não é bem assim. O homem pode ser livre em suas decisões, o problema é que o julgamento do homem é que não é livre de seus afetos. Para entendermos a posição dos filósofos, que neste ponto é a mesma, precisamos entender qual é a tradição à qual eles estão se opondo. A ideia do livre-arbítrio é de que o pensamento do homem, ou sua razão, existe de modo dissociado do corpo, de suas ações, do contexto cultural, histórico, social e de todas as relações humanas. É como se existisse uma razão pura, sem influências disso tudo - que seria, na tradição filosófica, a alma ou uma faculdade da alma. Ela teria o arbítrio, ou seja, o julgamento; julgaria de uma maneira isenta de tudo o que é da ordem da realidade. Esse livre-arbítrio é que é contestado tanto por Espinosa quanto por Nietzsche. Para eles, o livre-arbítrio não existe, é uma ficção. Por mais que a pessoa tente pensar de modo isento - isento da própria maneira de ver o mundo, da própria história de vida -, não é possível.



Espinosa mostra, antes da Psicanálise, que são nossos afetos que nos movem, e que a razão não pode modificá-los, a menos que se torne uma razão afetiva
Então a determinação pelos seus afetos seria por essas influências?
Martins O homem pode fazer escolhas livres. Só que essas escolhas não serão livres dos afetos, elas serão relativamente livres no sentido de que ele pode fazer opções, até mesmo racionalmente, mas se optar por algo que vá contra a natureza dele ou contra seus afetos, não vai adiantar nada, pois os seus afetos é que vão prevalecer. Optar por algo que aja sobre seus afetos, isso é o que ele pode fazer.




Mas o homem seria livre para decidir contra os afetos?
Martins Isso é o que a gente faz o tempo todo, não é? Vamos pensar em exemplos concretos: a pessoa quer parar de fumar e não consegue, quer emagrecer e não consegue, quer ser só bonzinho e não consegue. Por quê? Porque ela está na ficção do livre-arbítrio. Em outros termos, Espinosa diz que achamos que a vontade é livre, mas a vontade não é livre. Ela depende do corpo. Vivemos em uma cultura que se autoengana e, neste sentido, a história da Filosofia inteira está errada. Como se fosse possível, eficaz ou vantajoso tomar decisões contrárias ao nosso corpo e aos nossos afetos. Ou, para usar um termo de Espinosa, que é também um termo da Psicanálise, contrário ao nosso desejo. Segundo Espinosa, o desejo é a essência do homem. Então, por exemplo, se quero parar de fumar, o que eu posso fazer racionalmente? Pensar quais são as motivações que me levam a fumar, quais são os afetos que me levam a fumar e aí começar a atacar essas motivações e esses afetos e não simplesmente achar que minha vontade é livre e tentar impor essa vontade contra meu desejo humana. Espinosa e Nietzsche batem nesta tecla o tempo todo: não se pode ir contra a natureza humana. Por mais que se acredite e se iluda de que a vontade é livre, a pessoa não vai conseguir ir contra si mesma. E aí vai gerar o quê? Já misturando com a Psicanálise: vai gerar neurose, depressão, a pessoa vai entrar em crise. Não só em respeito à sexualidade como diversas outras coisas. Se estou sem fazer nada em que me sinta realizado, me expandindo, vou ficar deprimido, abatido. Não adianta uma pessoa que está com uma vida infeliz pensar que precisa ter força de vontade. E aí vêm todos os jargões, tanto da religião quanto da autoajuda, quanto da neurolinguística, de ficar repetindo "eu vou aguentar, eu vou aguentar". Você não está tendo o conhecimento como o mais potente dos afetos. Não está tentando entender o que em você faz que esteja infeliz e o que em você lhe motivaria, lhe deixaria mais realizado.
Tentando resumir: tanto para Espinosa quanto para Nietzsche, o homem pode ser livre em suas escolhas, desde que essa liberdade coincida com o afeto dele ou com o conhecimento dos afetos. Nietzsche não usa esses conceitos, de afetos ativos e passivos, paixões alegres para parar de fumar. É preciso dar uma volta. Espinosa diz que a razão, por mais que conheça uma verdade, não tem nenhum efeito contra um afeto mais forte. É preciso que ela seja afetiva para que possa transformar um afeto. Essa chave muda a história da Filosofia inteira e muda a vida de cada um, no dia a dia, conheça-se Filosofia ou não. Se entendermos que somos seres unos, corpo e alma - Espinosa muda o termo: corpo e mente -, como dois aspectos de uma coisa una que nós somos, então temos de prestar mais atenção em nossos afetos e não ficar dando murro em ponta de faca achando que a vontade pode ser livre ou que o nosso arbítrio pode ser livre. Não vamos conseguir algum efeito positivo impondo contra nós algo que não é possível. Em toda história, o que se fez, por exemplo, em relação à sexualidade? É pecado, tem de coibir, até hoje a igreja católica oprime o desejo sexual. Mas isso é da natureza e tristes, mas diz algo muito próximo. A liberdade em Nietzsche é você coincidir com você mesmo, é desejar o seu destino - fica mais vago, mas vai no mesmo sentido.


Tanto para Nietzsche quanto para Espinosa, a emoção domina a razão? Por isso os dois foram tão malvistos em um mundo dominado pela racionalidade?
Martins Não dá para dizer exatamente que eles propõem que a emoção domine a razão. Na vida real, normalmente a emoção domina a razão. Para Espinosa, é claro que isso é ruim - e isso ajuda a entender a diferença entre os dois. Para ele, a razão tem de dominar. Só que a razão de Espinosa não é a razão da tradição filosófica, é outra razão, é uma razão afetiva. Poderíamos dizer que tanto para Nietzsche quanto para Espinosa, os afetos dominam a razão. Para Espinosa, a razão deve dominar os afetos passivos, mas a própria razão é um afeto ativo. A razão é um afeto. E, em Nietzsche, a emoção deve dominar a razão, porque ele é um pensador passional. Mas aí entram todos os detalhes do pensamento de Nietzsche em que esse domínio da emoção sobre a razão também se dá junto a um elogio do conhecimento, a um elogio de certa razão. O termo que ele vai usar é de uma Gaia Ciência, de uma razão alegre.





Entrevista completa em:

Com os pés na vida real
Tendo os afetos como foco e usando para isso os pensamentos de Nietzsche, Espinosa e teorias psicanalíticas, André Martins diz que a Filosofia só é válida se puder ajudar no dia a dia das pessoas
Por Patrícia Pereira


http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/57/com-os-pes-na-vida-real-tendo-os-afetos-213469-1.asp




08 maio, 2011

Dia das Mães e dia das mães



Dia das Mães (com maísculas)
e
Dia das mães (com minúsculas)

Falar, pensar, homenagear as Mães como categoria Universal
é um perigo, um equívoco porque considera que todas elas são iguais, mesmo quando se sabe que elas não são.
É bonito, romântico, emocionante tentar imaginar que esse papel social é realmente universal.
Imaginar...

Só nessa semana, aqui em Porto Alegre, os jornais noticiaram três casos de crianças que morreram ou foram abandonadas, duas delas dentro dos carros (foram "esquecidas"), pelos pais, os homens. Outra foi abandonada pela mãe ainda com o cordão umbilical...

Tanto as mães quanto os pais, quanto os amigos, os profissionais, os homens, as mulheres... não são iguais. Óbvio.
Óbvio?

Se é assim tão evidente, porque se fala tanto nesses dias comemorativos de forma tão... contrária a essa evidência?

O cinema e a literatura nos mostram muitos tipos de mães: heróicas, abnegadas, amorosas, infantilizadoras, megeras, culpabilizadoras (como a mãe da bailarina no recente Cisne Negro). Cruéis, enlouquecedoras, elegantes, charmosas, bondosas, destemidas, corajosas.
Presentes.
Ausentes.

Muitas mães e muitas mães.
Cada época histórica produz seus sujeitos humanos e os papéis a eles atribuidos. Ainda assim, em todas as épocas, as mães nunca foram iguais.

Nesta data temos uma possibilidade de falar, lembrar, homenagear a mãe.
A nossa.
A minha.
A sua.
A mãe singular. (Por isso a palavra mãe está escrita com letras minúsculas, ainda que eu posso falar da minha MÃE com letras maiúsculas... em 'caps lock').

Aquela que atravessou a existência de cada um de nós...

Ela ou sua substitua... a mãe do peito, a mãe do coração, a mãe da adoção, a mãe por adoção.

Nossa existência é marcada pela mãe que tivemos, que temos.
Cada um de nós traz no corpo, na mente e no espírito as marcas dessa mãe.

Como ela nos segurou. Como era a voz dela. A risada. Os olhos e o olhar.
Como era o jeito de caminhar, sorrir, dormir, comer.
Como ela lidava com as coisas da vida e a vida das coisas.
O que ela gostava e o que preferia.
Que valores, exemplos ela nos passou e quais assimilamos e quais ainda não.
Como era o cabelo dela e como ela lidava com ele.
Seu tipo físico, as roupas que usava; as comidas que fazia, os presentes que nos dava.
Os abraços, o carinho, as reprimendas para nos ensinar...
Os beijos.
Os beijos, os beijos e os beijos!
Tudo isso - e muito mais - podemos lembrar.
Tudo isso - e muito mais - podemos conjugar...
Muitos no presente.
Outros só no passado.

Eu só posso conjugar no passado.
Minha mãe... há muito... partiu...

Com ela apreendi a ser honesto e a dizer a verdade.
Apreendi a não pegar e não mexer no que não me pertence.
Apreendi a acreditar na minha força; a não desistir facilmente; a fazer as coisas do meu jeito, levando em conta a opinião dos outros.
Com ela apreendi que os mimos nem sempre estragam, mas podem atrapalhar... porque ficamos muito bem acostumados (plural para muitos mimos).
Com ela apreendi que amar nunca é demais, e que amor pode ser demais.
Com ela apreendi sobre erros, acertos, perdão; com ela apreendi sobre bondade, força e coragem; com ela apreendi sobre respeitar limites e sobre desafiá-los.
Com ela apreendi a confiar, confiar e voltar a confiar. Até um certo ponto que não dá mais.
Ela plantou em mim uma semente de religiosidade - que deu frutos - e que tranformei em espiritualidade.
Com ela ainda estou apreendendo muitas coisas que não quero citar aqui, mas que ela certamente tentou me ensinar e estou me esforçando por endender e apreender porque considero que ela tinha razão.
Tinha?
Tem!

Ela, que eu amei desde sempre, se foi...
Ela, que eu amo desde sempre, está viva dentro de mim.
Ela, que eu amo desde sempre, me fez (e faz) acreditar que está viva num
outro lugar... e que está bem.

Saudades? Muitas!
Entendimento e aceitação? Quase sempre...
Agradecimento? Sempre!

A ela, essa minha mãe muito amada, o meu beijo carinhoso, o meu abraço bem apertado e o meu agradecimento.
O meu amor com o desejo de saúde, luz e paz sempre!

E também aquelas risadas que dávamos juntos!


06 maio, 2011

The offerings of flowers and incenses


An old post revisited.
Just posted again.
With the add of the first music...
For the lotus...



The offerings of flowers and incenses



















Meu presente de aniversário e uma atitude (um pouco) pretensiosa e inventiva



Eu realmente adoro receber presentes. E presentear.
Adoro especialmente quando o presente que recebo - e aquele que dou também - tem
a capacidade de encher os olhos - de um brilho singular de luz (já que este singular só acontece nessas situações) - e de arrancar exclamações e interjeições peculiares à situação.

Já passei - há muito - da fase de ficar constrangido por dizer o que quero receber e de perguntar
o que o outro deseja. Salvo nas surpresas, já que nem sempre se fala sobre isso.

Já recebi coisas horrendas e que realmente não gostei... as quais "passei adiante", ou seja, doei.
Com frequencia as pessoas presenteiam com coisas que elas gostariam de receber, que acham úteis,
práticas ou bonitinhas... aff.

Muitas vezes prefiro não ganhar presente - material - algum: o abraço, o telefonema e até o Email é
mais gratificante do que uma coisa feia ou que não tem a ver comigo.

Este ano resolvi inovar: estou fazendo solicitação de presente, algo um tanto pretensioso
(aos olhos de alguns, e, sob certo sentido, aos meus próprios), mas também... criativo, inventivo...
espontâneo.
Enviei o scrap (aqui chama post) abaixo para os amigos do orkut e fiz um pequeno texto diferente no meu perfil do Facebook .

As pessoas interessadas já estão respondendo e estou me divertindo muito.
(Talvez eu compartilhe algumas dessas respostas por aqui, sem identificar seus autores, claro).
Se você que é meu amigo real, virtual-real ou virtual e quiser me presentear, basta seguir as instruções... rsrsrsrs.

Se não quiser ou não puder, mas ficou curioso, idem.
Ou seja, a questão é utilizar esse dispositivo para produzir sentidos, desejos, críticas, sensações e "coisas" entre nós... em mim e/ou em vocês.
Bem simples assim.
E, claro, também quero receber meus presentes!





Quer me dar um presente de aniversário?



Um presente que tenha essas sonoridades,
esses aromas, e essas belezas... 
e que tenha MUITO A VER comigo?

Solicite informações enviando
um Email (endereço no perfil) , certo?
Vou ADORAR!
Valeu.
Abração.









































01 maio, 2011

Conversas sobre a dor: poéticas e poiéticas



Recebi do meu amigo Pégasus, o poeta dos indizíves, pelo orkut:


Diria-lhe um dia: aceito a dor e quero vê-la com meus olhos nus. Digo-lhe melhor: não gosto da dor, mas sei que ela é um furor do estar vivo. Que venha a vida e sua carcaça de deusa espalhada pelos becos e latrinas. Quando, livre de todos os ópios e vinhos, eu vir essa dama louca inebriada de caminhos, pegarei-a pelo pescoço onde corre a veia retorcida do cotidiano, tocarei meus lábios em seus lábios que sussurram um imprevisível destino e lá, onde se avolumam seus cabelos de transbordos e sentidos, lançarei meus dedos de unhas sujas, abrindo-lhe as pelugens de gatuna e sentirei na carne da vida, bem onde os pensamentos latejam e a dor se afunda, a existência latindo. Que venha a vida: em sua dolorosa trilha saberei mais de mim e ela saberá que existo. 
(Carlos A. F. Tenreiro).

PS: Cesar, nobre, taurino alado, muito sol em teus profundos. 
Votos do Carlos.

..............................

Respondi imediatamente, enquanto escutava Kansas - que está abaixo - assim:


Fazer a dor doer-em-si-própria
arranhada pelas unhas, que foi,
fá-la saber do guerreiro que habita em mim.

Fazer com a dor um flerte
com esse beijo que lhe dei - roubado -
Fá-la saber do amante, em mim.

Fazer com a dor esse confronto
apontando - como ela me aponta -
a realidade da vida,
Fá-la saber do rei que habita em mim.

Fazer com a dor esse pacto
de mútuo conhecimento,
Fá-la saber do mago, em mim.




A distância ótima




O melhor mesmo é achar
a "distância ótima":
Nem muito perto,
nem muito longe.
Mas suficientemente perto
e suficientemente longe.



All songs by Kansas