20 setembro, 2014


Para me refazer e te refazer volto ao meu estado de jardim e sombra fresca realidade, 

mal existo e se existo é com delicado cuidado.
Em redor da sombra faz calor de um suor abundante. Estou viva.
Mas sinto que ainda não alcancei os meus limites, fronteiras com o que?
Sem fronteiras, a aventura da liberdade perigosa.
Mas arrisco, vivo arriscando.



Estou cheia de acácias balançando amarelas,
e eu que mal e mal comecei minha jornada,
começo-a com um censo de tragédia adivinhando
para que oceano perdido vão meus passos de vida.
E doidamente apodero dos desvãos de mim,
meus desvarios me sufocam de tanta beleza.
Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca.
Clarice Lispector


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