05 setembro, 2014




Vem!
Vem de mansinho…
Deixa-me ficar
nesta penumbra,
nesta meia luz.
Senta-te amor, devagarinho…
Assim…
Eu quero escutar
essa música dolente,
que a tua luz traduz!
Vem contar-me contos…



Conta-me a vida dos ciganos
nómadas, errantes.
Dize-me dos orientais
que têm paixões brutais
e dos seus haréns,
as cenas sensuais…



Dá, meu amor,dá alegria,
põe muita cor nessas novelas…
Vem contar-me coisas belas!
Veste as ciganas bronzeadas
de lenços de ramagens!



Dá tons vivos às imagens…
Veste-as de cores encarnadas!
Fala-me dessas tribos selvagens
enfeitadas com penas multicores
e coisas esquisitas,
desenhando tatuagens
no peito das favoritas!
- Dize-me dos teus amores…



Enche de luz e de estridora
minha alcova sombria!
Dá-me alegria…
Incendeia meu sangue arrefecido!
E depois meu amor…



Depois…
deixa-me sonhar…
Delirar,num sonho belo,
rubro, colorido!

Judith Teixeira




Deito fora as imagens,
Sem ti
para que me servem as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente
passageira e verídica.
Preciso habituar-me
ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor
de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas
e que mais ninguém
ouve a não ser eu.
Serei feliz
sem as imagens.
As imagens
não dão felicidade
a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil
inventar-te, e eu te inventei.
Posso passar
sem as imagens
assim como
posso passar sem ti.
E hei-de ser feliz
ainda que isso
não seja ser feliz.

Raul de Carvalho





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