"...gosto das belas coisas claras e simples,
das grandes ternuras perfeitas,
das doces compreensões silenciosas,
gosto de tudo, enfim,
onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade,
de tudo menos do bípede humano, em geral, é claro,
porque há ainda no mundo, graças a Deus,
almas-astros onde eu gosto de me refletir,
almas de sinceridade e de pureza
sobre as quais adoro debruçar a minha".
- Florbela Espanca -
Há momentos que sou partidário do "prefiro os animais" (aos humanos).
Um espécie de cansaço generalizado me invade ao (re)constatar a grande fragilidade do chamado bípede humano pensante, que toma referências ditas "normais" - que nada mais são do que comportamento de massa - para guiar suas atitudes.
Edgar Morin caracteriza, esse aqui chamado bípede humano pela Florbela, como sendo, simultaneamente, homo-sapiens-demens... já que há coexistência de ambos os aspectos em seus modos de proceder... momentos esses, que parecem tirar toda a sua faculdade de pensar e sentir e transformá-lo numa máquina burra, insensível, estúpida, egoísta e enfadonha...
Exemplos disso são:
- a insensibilidade generalizada de muitos quando estão com a mente ocupada com alguma coisa que não o que você está lhes dizendo e que acaba por ter como consequencia grandes mal-entendidos gerados pela falta de atenção e/ou egoismo e medo de escutar o que lhe chega aos ouvidos ou aos olhos.
- as atitudes consideradas politicamente corretas, que se caracterizam por definir regras generalistas e que são socialmente defendidas como sendo de "bom senso" (que palavrinha nojenta") para sustentar posições de massa visando não enfrentar, não polemizar, e não discordar... do que realmente está se passando...
- as piadinhas bestas, infames ou patéticas que muitos fazem para "quebrar o gelo" (outra coisinha nojenta)... no início, no meio, no fim ou em qualquer etapa do "encontro". (Não estou aqui fazendo apologia da seriedade e da falta de humor e de intimidade... já que essas duas coisas nada tem a ver com as ditas piadinhas...).
- a banalização da comunicação, dos vínculos e a inserção de singularidades em quadros gerais de referência, ou seja, tomar como geral o que é particular (e vice-versa), tomar o que é impessoal como pessoal, tomar (e tornar) público o que é privado... e assim por diante.
Enfim...
Resta o consolo que nem todos são assim e que as "almas-astros" ainda existem e podem, como de fato o fazem, (re)aparecer e se mostrar a qualquer momento, quando cessa a pasmaceira e a burrice da ocupação in loco e in vitro e dá lugar a ocupação in vivo.