16 fevereiro, 2010

Sobre ser raro e comum...




Claro, e porque não pensaria? 

Sou raro? Sou Comum? Ambos?
Você é raro, comum, ambos?

Todos somos raros, apesar de muitos serem raros e comuns...
não há problema nisso...

O problema é querer SER diferente... uma identidade postiça
que nega as semelhanças... e vira cartão postal
e vitrine de exposição, palco... para a platéia ávida...
por ... qualquer coisa... que se pretenda igual a si mesma!

Uma "nova identidade" calcada sobre velhas manias
e aberrações instituidas do MESMO jeito de ser = comum e monótono.
(De excêntricos narcisistas o mundo está cheio... e de comuns mortais,
algo como vacas-de-presépio, também).

Ótima maneira de ser igual (a todos) mantendo a ilusão
de ser diferente. Quem ganha é o Ego e quem perde é
a diferença e os processos de ruptura e diferenciação!

Diferença não é diferente!!!


Os excêntricos não são furados (na sua identidade postiça)
por qualquer coisinha... são tão duros, engessados e rígidos...
que se precisa duma britadeira e de uma metralhadora giratória.... 
kkkkkkkkkkkkkkk

Por vezes, é possível furá-los com... uma faquinha
ou um um florete... pelos interstícios... as brechas,
mas só por vezes e exige... muita paciência, boa vontade
e devir sensibilidades atípicas... kkkkk

Noutras vezes.. a vida se encarrega.. e, quando vamos ver...
já estão murchos e sem brilho... furados como um balão
num dia de festa de criança... frágeis durezas...

Mas, paradoxo dos paradoxos, prontos para "se levantar",
erguer a cabeça e seguir"... fazendo o mesmo
(nova identidade forjada no velho e na mesmice) de forma diferente.


Ora, nenhuma apologia do diferente
mas um estímulo à produção de diferença 
(não aquela identitária, que se pretende reconhecível 
e igual a si mesma,
a cada momento 
e a cada tempo; outra cilada!), 
mas uma que se desconheça... para se encontrar e, 
autopoeticamente,
ir se constituindo 
num novo hibridismo de atitudes e ações 
que vão se dando...
nos inúmeros encontros com a vida...
sempre produtora e criativa!

Meu convite: seja raro. 
Incomum...
sem deixar de ser comum!

Paciência e paciência e paciência:
todas diferentes uma das outras...

Mais de uma paciência é necessário para isso...
E não só...

Mas, esta é outra questão...

4 comentários:

Kátia disse...

Legal, Cesar, você não parar de estimular e encorajar as pessoas, nesse seu iluminado espaço, a se iluminarem também.

Ser raro é a arte de ser nós mesmos. Dura arte, às vezes... A auto-estima deve estar em alta porque a imagem que fazemos de nós mesmos é importante para o aprimoramento ou para o desenvolvimento de personalidades singulares, não acha? Cada pessoa é ímpar e cada uma tem seus dons, seus talentos. Não há ninguém igual a ninguém, portanto não existem fórmulas e regras a serem seguidas.
Ser raro é conhecer-se a cada dia e agir de acordo com você mesmo diante de cada situação.

Sejamos nós mesmos!!! E pelas diferenças existentes, aprendamos a jamais impor nossa vontade e nossas verdades ao outro. Que saibamos deixar que eles sejam eles mesmos.

.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Kátia querida, minha comentarista mor no blog, adoro cada palavrinha sua aqui... e os elogios que me faz - e ao blog, os quais aceito- vejo-os como decorrentes da sua luz!

Personalidades singulares podem ser excêntricas e absolutamente comuns nessa constituição de excentricidade.
Um identidade constituída para "ser diferente"...

Todos somos diferentes. Ímpares, como você diz, com nossos dons e talentos.
Não falo sobre isso, mas sobre processos de ruptura com a ordem vigente que estabelece e se vincula com o individualismo.

Vejo que a diferença, para se afirmar como tal, necessita, provoca, busca ATRITO(s). Ela não se dá em territórios neutros de aceitação passiva, mas requer uma luta, uma batalha, um certo enfrentamento... que se dá com o comum e ordinário, caso contrário, entramos nas acepções do individual.

Singularidade, do jeito que estou falando, nada tem a ver com individual, com indivíduo e com identidade. pelo contrário, tem a ver com o coletivo e com processos de ruptura dessa produção em série de indivíduos... diferentes.

Deixar que o outro seja ele mesmo já é um ato autoritário, pois envolve a permissão (oposto da proibição). Ora quem somos nós para dar ou deixar de dar permissão para o outro ser o que for que ele seja? E para permitir?

Deixar que o outro seja ele mesmo... também é um ato de amor, já que o aceitamos e/ou respeitamos como se coloca, com seus talentos e características próprias (mas não necessariamente singulares!) Sei que você está falando nesse segundo sentido... rs... mas não podia deixar de provocar um... pouquinho.

Anyway, amor e posição política nem sempre andam juntos, mas quando conseguem seguir abraçados...a coisa fica bonita... porque podemos amar e respeitar mesmo pensando, agindo e sentindo de formas completamente diferentes.
Ainda assim, isso não tem a ver com as diferenças.

O que seria produção de diferença, nesse caso, seria a atitude de suavidade e/ou de belicosidade para com esse respeito, que pode (ou não) pedir, necessitar... de atrito e enfrentamento.

O respeito indiscriminado ao (que é) diferente pode produzir vacas de presépio... passivas e inafetáveis, fechadas e opacas.... exatamente em relação à produção de diferença.

O respeito (e o desrespeito, aqui como sinônimo de não aceitação, discordância e enfrentamento) discriminado ao (que é... ou está) "assim chamado diferente"... pode produzir DIFERENÇA.

Um (um?) exemplo meu:
Admiro as pessoas simples, mas não as simplórias e simplistas.

Admiro as pessoas solidárias, mas não as que tem pretensões salvacionistas (que ferem a iniciativa e a liberdade de ação do outro).

Admiro as pessoas amorosas, mas não as que amam demais e estabelecem vínculos simbióticos e prisionais em nome desse "amor".

Ainda assim... isso é relativo, já que, quase sempre, as pessoas não são... simples, solidárias, amorosas o-tempo-todo... isso é cair, de novo e de novo, na noção identitária.

...

E ainda nem falamos sobre ser comum.

kkkkk

Beijão, my dear!

Kátia disse...

Encantaaaaaaaaaaada!!!! Aqui estou eu com cara de uma boba maravilhada. Hahahahahahaha! Realmente, nasceu um novo texto, meu querido! Nasceu também em mim um novo olhar sobre o texto original. Há muito nesse seu comentário para pensar, refletir, concluir... se posicionar. Vou digerir devagarzinho... As a Slowly Woman!

Acredito muiiito que é com ações concretas, sejam elas como forem, que mudamos o 'status quo'. E isso somente acontece a partir da conscientização de cada um.

Quando disse "deixar o outro ser ele mesmo" foi no sentido de respeitar o tempo dele. Foi no sentido de não provocar um certo sentimento de menos-valia com pensamentos e atitudes a levarem o outro a diminuir a sua auto-estima. E, você entendeu. Sabe que provocação e 'desrespeito' são as bases do meu trabalho.

Meus elogios aqui e pra você não se trata de bajulação. São elogios sinceros. É a sua luz, Cesar, que faz brilhar a minha. É como se meu eu-girassol tivesse encontrado o sol... aqui e em você.

.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Encantado estou eu, com as sua volta.

Fico feliz que o estímulo ao refletir-pensar tenha continuado... e você, minha querida, de slowly só tem o discurso... hahaha

Concordo com as ações concretas... e com a conscientização de cada um.

Só vejo (meio) diferente de você o modo como se dá essa conscientização: de modo geral, ter cuidados com a auto-estima e o tempo do outro é importante, sempre que podemos ter uma clara percepção disso para acolher e respeitar essas necessidades... dele.

Por outro lado, acontece de, muitas vexes, não termos isso claro ou não estarmos nos ocupando disso, já que nem sempre estamos numa posição profissional (podemos estar vendo com os olhos da nossa formação e experiência, mas não podemos ou não queremos intervir sob essa ótica... também somos cidadãos!).

A tal da auto-estima (do outro) não está na nossa mão e, penso, muitas vezes nada podemos fazer para melhorá-la ou piorá-la. Isso depende dele E de nós, mas não SÓ de nós.... majoritariamente,.. talvez só dele.... em última instância.... momento em que a relação de poder que se estabelece nesse ENTRE nós... pode
ser prescindível. (Considero esse um território de raridade: quando se consegue deslocar de nós para o outro... essa (sua, do outro) capacidade de gerenciar, gerir a própria auto-estima... e as formas de ver a si próprio).

Penso que essa nossa divergência nas maneiras de ver está acompanhada, senão realmente edificada, sobre os paradigmas que dão sustentação às nossas práticas profissionais... ainda que a provocação e o "desrespeito" façam parte delas e do nosso "fazer" cotidiano.

O beija-flor e a flor estão em íntima relação.
O girassol e o sol, também.

Se o sol daqui a atrai e a faz "virar-se" nessa direção... em busca de luz... venha, volte.. aproveite.... sempre que sentir vontade.

Gostei e fico lisonjeado com sua analogia.
É preciso ter olhos para ver.

Morin nos ensinou que os paradigmas de que dispomos - lentes - para ver, ler, viVER a realidade da vida... são fundamentais para ver o que vemos.
Um estreita relação há entre quem vê e o que é visto.

Assim, se há sol e luz aqui no blog para você... há também em você.
E em mim... para ver isso em você.

Puxa, será que compliquei o que ... é (é?) simples?