26 dezembro, 2010

Martha Medeiros sobre qualidade




Qualidade é amor que se sustenta, 
é amizade que não é um blefe, 
é confiança que não é traída, 
é demonstrar o que se sente, apertar a mão com firmeza, 
dizer não e dizer sim com a mesma honestidade, 
é a inocência de uma fé generalizada e crença na própria natureza.

- Martha Medeiros - 



25 dezembro, 2010

Dueto (para os anjos) no dia de Natal, ou CHAGALL DUET - Jon Anderson




CHAGALL DUET
- Jon Anderson -

Demande-mot de tout changer
Car dans mon coeur, l'air que je respire
Attise la flamme de mon desir
Rien que ton nom me met en feu

I need to know if I'm secure
As all my plans call from the dark
And need for light and I
So young to know my life

We sepak of love
I never felt as Ido with you
Such as the mood
My feet don't even touch the ground
Then all at once
As one and one with love
I only care
You're never far from me
To be my friend
All my dreams begin with you
To be my guide
Each breathing moment
I need the spark
Each singing flame
I need the soul
Each whispered sigh
We've walked the earth
Each song we sing
We've climbed the stars
To fly to the sun


Sweet angel, did i have to see for myself?
Your eyes are my eyes that spin me round and round
All love is the colour of the spiritual ground
We've walked, yes we've walked by his side
As all is one, so this we are
Holding the flower, being the star

You left so young
Tu es douceur
I am alone
L'amour c'est toi
But here you'll stay
Ma vie c'est toi
Not near, not far
Mon ame c'est toi
You've been my life
Mon coeur c'est toi
Tonight I'm yours
For evermore
A tout jamais!




24 dezembro, 2010

O Natal, as palavras, o silêncio, os vivos e os mortos: Bençãos de LUZ para todos








O Natal pede palavras
de encorajamento, de confraternização.
Pede saudações afetivas e afetuosas
aos que amamos e queremos bem.
Pede retorno das esperanças e solicita
a volta dos sonhos (quase) perdidos.

O Natal pede palavras de carinho, de amor...
que sejam verdadeiras e que brotem do
íntimo dos corações e mentes sintonizados
com as energias de paz, fraternidade e igualdade.

O Natal também pede liberdade e autenticidade, pois o aniversariante, 
um herege maravilhoso que ousou levantar sua voz contra as injustiças
(até hoje) vigentes em sua época,  fez-se ouvir naquilo que ele teve de diferença
e de semelhança com os seus contemporâneos.
Ele não teve medos ao derrubar as mercadorias dos vendedores 
e de expulsá-los do templo em Jerusalém. 
Também não teve medos em reconhecer-se divino e dizer-se filho de um mesmo Pai.
Um Pai comum a toda a humanidade.

O Natal também pede silêncio.
Um silêncio reflexivo, imanente com os diálogos próprio e com o dos outros.
Pede um silêncio sem palavras e sem desejos.
Pede um silêncio de paz.
Paz consigo.
Paz com o outro.
Paz com a natureza.
Paz com a divindade (se nela se acredita).

O Natal pede que aceitemos a Vida e a Morte,
pois que delas nada podemos, a não ser vivê-las.

Viver a morte?
Sim a nossa, a dos outros... que é diária.
Morte de desejos (que se esgotam),
morte de idéias, afetos, expectativas... enfim...
E pede à vida que se faça viva.

A você que está lendo essas linhas,
o meu desejo de que encontre mais de si
nas palavras e no silêncio que você se proporcionará
nesse Natal e que esse Natal lhe proporcionará.

Aos meus mortos* e aos meus vivos
um beijo
um forte, 
grande 
e apertado 
abraço:
FELIZ NATAL !!!


*mortos fisicamente, no corpo físico
*mortos pela distância e pelo fim da relação, 
mas vivos no corpo E na minha memória

23 dezembro, 2010

FELIZ NATAL PARA TODOS



Lindas, Boas e
Auspiciosas


Vibrações 
Positivas
pra Você ! 

Ó sino da minha aldeia, por Fernando Pessoa





Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

O Tempo Passa? Não Passa, por Carlos Drummond de Andrade




O Tempo Passa? Não Passa
Carlos Drummond de Andrade


O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda a hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade.



Há algumas pessoas que se destacam para nós na multidão, por Ana Claudia Saldanha Jácomo





Há algumas pessoas 
que se destacam para nós
 na multidão.

Dançam conosco com mais leveza nessa coreografia bela, 
e também meio atrapalhada, dos encontros humanos. 
Muitas vezes tentamos explicar, em vão, 
a exata medida do nosso bem-querer. 
A doçura de que é feito o olhar que lhes dirigimos. 
Os gestos de que somos capazes para ajudá-las 
a despertar um sorriso grande. 
E somente sentir nos bastaria se ainda não estivéssemos 
tão apegados à necessidade de classificar todas as coisas. 
De confiná-las entre as paredes das explicações.


Por elas nos sentimos capazes das belezas mais inéditas. 
Se estão felizes, é como se a festa fosse nossa. 
Se estão em perigo, a luta é nossa também. 
E não há interesse algum que nos mova em direção a elas, 
senão a própria fluência do sentimento. 
Sabemos quem são e elas sabem quem somos e ficamos muito 
à vontade por não haver enganos nem ilusões entre nós. 
Ao menos, não muitos. 
Somos aceitos, queridos, bem-vindos, 
quando o tempo é de sol 
e quando o tempo é de chuva. 
Na expressão das nossas virtudes 
e na revelação das nossas limitações. 
E é com esses encontros que a gente 
se exercita mais gostoso no longo aprendizado do amor.


- Ana Claudia Saldanha Jácomo -


17 dezembro, 2010

Diferentes formas de desconstrução: Clarice Lispector, Fernando Campanella, Roseana Murray e Jéferson de Souza Tenório






Mas nem sempre é necessário 
tornar-se forte. 
Temos que respeitar 
nossas fraquezas. 
Então, são lágrimas suaves, 
de uma tristeza legítima 
à qual temos direito. 
Elas correm devagar 
e quando passam pelos lábios 
sente-se aquele gosto um pouco 
salgado, produto de nossa dor 
mais profunda.
Clarice Lispector


Há os que buscam continentes,
eu fico,é bem menos sólida
a terra de que me sustento. 
(Ah, a densidade dos anjos,
os imprecisos firmamentos.)

Há os que apostam em veleiros
e desafiam os ventos,
eu passo.

Eu do mar vou abrindo os búzios
que a fúria cega 
às vezes consente.

Meu lanceé a configuração 
do silêncio.

Fernando Campanella

Dead Can Dance - In The Wake Of Adversity 
  
Cocteau Twins - Lazy calm

EQUILIBRISTA 

Procura-se um equilibrista que 
saiba caminhar na linha que divide a noite 
do dia que saiba carregar nas mãos um fino 
pote cheio de fantasia que saiba escalar 
nuvens arredias que saiba construir ilhas 
de poesia na vida simples de todo o dia. 
- Roseana Murray -



O tempo abandonado

Já reparou quanta poesia há num relógio  parado?
Um relógio estragado é uma afronta, um protesto
Contra o tempo inventado pelos homens

Um relógio parado desafia a velocidade.
Um ponteiro estático não marca o tempo
Marca permanência. Exerce eternidade.

O trágico silêncio dos ponteiros
É uma elegia às horas mortas

Cada ato de um relógio estragado
Desassossega o efêmero.

Um relógio inútil desafia todos os minutos
Ilude o atraso, dói o tempo...

Um tempo morto, esquecido, abandonado.

Jéferson de Souza Tenório 



15 dezembro, 2010

Emoção e Razão, uma conversa mágica sobre o encanto e o encantamento





O maior perigo na magia e na leveza é tentar sufocá-las através do uso da razão... para entender... nem amigos e nem inimigos precisam disso!
O mago-mor disse ao iniciado que a magia estava escondida dos olhos comuns num lugar onde eles não a encontrariam... no pátio mais interno
do castelo. Apontou, indicando o caminho, e alertou: mas cuide para não cair. O iniciado não comprendeu e não viu a magia... precisou retomar as lições. É assim que se dão as aprendizagens...

...


O mago-mor ficou satisfeito porque seu pupilo estava em silêncio: ele estava aprendendo que a magia não se pensa e não se fala... ela se faz e se dá através do encantamento.
Ou melhor: através de um encantamento... poção que fala ao coração!


...

Quando o discípulo finalmente aprendeu como é a magia e como se dá
o encantamento - e se transformou num mago - ele teve um longo acesso de riso... e tanto se divertiu com a futilidade da sua busca
de entendimento, que soltou seu coração e foi embora. Não havia mais nada para ele no pátio mais interno do castelo: a magia estava dentro dele... no seu coração e nos seus olhos!!!


Nós usamos espadas para cortar
energias... e não... pessoas!
E... ainda assim, como um rito,
um símbolo!!!
(Aforismos da Iniciação)


Só é possível despertar
ou conseguir o encantamento
porque o amor... é livre
e nasce por si próprio.
Ele de nada depende
e não pode ser fabricado
nem induzido por rituais
e encantamentos.
Mas Mestre, espere.
Não será o amor algum
tipo de feitiço?
O amor não é um tipo
de encantamento?

- Oh sim.
O amor encanta por si só,
mas não depende de um ritual.
Ele se basta.
Assim como o encantamento,
que se sente por alguém,
ou por algo... também é
um tipo de amor.
Amor e encantamento andam juntos,
mas não estão associados à ilusão...
a não ser que haja rituais -
não especificados nos manuais -
feitos de forma sistemática
e inconsequente!
(risada)


"I bring truth and understanding
I bring wit and wisdom fair,
Precious gifts beyond compare.
We can build a world of wonder,

I can make you all aware.
I will find you food and shelter,
Show you fire to keep you warm
Through the endless winter storm.

You can live in grace and comfort
In the world that you transform."

"I bring love to give you solace
In the darkness of the night,
In the Heart's eternal light.
You need only trust your feelings;

Only love can steer you right.
I bring laughter, I bring music,
I bring joy and I bring tears.
I will soothe your primal fears.
Throw off those chains of reason
And your prison disappears."


O iniciado percebeu que era preciso
muita-coisa-e-quase-nada para
alcançar esse aprendizado, mas
se sentia sem paciência.
Sua pressa e sua angústia
- consequencias de ter a visão
aberta - atormentavam-no.
As injustiças que sofria
e testemunhava pareciam muito
maior do que as justiças que
conseguia promover com a verdade.

Não conseguia párar de pensar
na resposta enigmática dada
pelo mago-mor à sua pergunta.
Ele dissera que para desenvolver
a paciência.. era preciso acender
a luz e... ascender à luz!

O que ele não sabia
- amnésia causada pela aflição
EM resolver - era que a luz já
estava acesa e, nela,
ele estava ascendendo!

Ele sabia O QUE e PARA ONDE olhar!!!
E viu um mundo diferente!!!

Seu coração estava em paz
e sua mente estava tranquila.
Ele sabia que não era preciso
fazer tudo ao mesmo tempo
e "dar conta" de todos os
aprendizados simultaneamente.

Amanhã, como sempre acontece,
seria um novo dia e ele poderia
retomar tudo...

Pronunciou mentalmente para todos
os seres invisíveis e para o mestre...
aquela palavrinha milenar com sentido
tão atual: NAMASTE.


Todos os textos desta postagem
são fragmentos do marcador
O mago.
Todas as postagens originais e as
relacionadas estão no link abaixo.
A maior parte delas estão em "postagens mais antigas" 
e estão no início do marcador.
Confira, são só 55 ao todo. 
rsrsrsrsrs
Um abraço.
 Boa semana pra você.




The thinker wizard works
with words...
and worlds!!!
And he loves it!






12 dezembro, 2010

Joshua Cooke e Theodore Roethke sobre o amor e o espírito livre




O amor é o sentimento 
dos seres imperfeitos, 
posto que a função 
do amor é levar o s
er humano à perfeição. 
Como são sábios aqueles 
que se entregam 
às loucuras do amor!

Joshua Cooke


Meus segredos gritam alto.
Não preciso de língua.
Meu coração está 
sempre aberto.
Minhas portas 
estão escancaradas.
Um épico dos olhos, 
meu amor, sem disfarce.
Minhas verdades são todas 
conhecidas de antemão, 
essa angústia auto-revelada.
Estou nu até os ossos, 
minha nudez é meu escudo.
Eu me visto de mim mesmo: 
Conservo o espírito livre.

Theodore Roethke



11 dezembro, 2010

Fernando Pessoa e Jung sobre o uso das técnicas e tocar a alma, sobre estar sozinho e a loucura




Álvaro de Campos
Lisbon Revisited
(l923)
 
NÃO: Não quero nada. 
Já disse que não quero nada. 
Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 

Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 

Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 

Que mal fiz eu aos deuses todos? 
Se têm a verdade, guardem-na! 
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 

Não me macem, por amor de Deus! 
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 

Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 
Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.  
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 

Ó céu azul — o mesmo da minha infância — 
Eterna verdade vazia e perfeita!  
Ó macio Tejo ancestral e mudo, 
Pequena verdade onde o céu se reflete! 
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! 
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta. 

Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!




Conheça todas as teorias,
domine todas as técnicas,
mas quando tocares uma alma humana,
seja apenas outra alma humana.


= Carl Gustav Jung =



................................................


Os profissionais de todos os tipos e graduações 
esquecem que JUNTO com quem lhes demanda um serviço, 
está um ser humano que não necessita só
do serviço, precisa, também, estar acolhido nas suas
necessidades de ser humano:
alguém que sente, pensa, raciocina, vê, e intui.
Um cidadão no pleno gozo dos seus direitos.


Basta pensarmos nos serviços de call center, onde
o consumidor vira uma ameba, uma planária, 
com sistema nervoso rudimentar, e não consegue raciocinar
tamanho o fechamento e ausência de sentimento humano 
e falta completa de raciocínio crítico 
do profissional que vem lhe oferecer o produto.
Imobilizado na impessoalidade de raciocínio do próprio trabalho que executa,
o profissional acaba "formando" um ar de tamanha 
impossibilidade de pensamento que, ambos, acabam por fazer uma
conversa de surdos. 
Um espanto.


Mas não só nesses profissionais que a impessoalidade opera
e o uso da técnica como repetição compulsiva e "sem penso" se instala.
Também nos médicos que dão sua consulta em dez minutos
e só pedem exame e nem olham para os "pacientes".


Também nos recepcionistas de todos os tipos
( um dia presenciei um deles perguntando a um jovem adulto 
se o atendimento no caixa era comum ou especial, para mais de 65 anos. 
Ele perguntou isso OLHANDO para o cliente do banco. 
Olhando sem ver. Cego de repetição. Um burocrata do atendimento.)
e atendentes de "pessoal" (aqui esse termo pode ser usado como
sinônimo de "manada") que ficam completamente emburrecidos
na sua ânsia de executar suas atividades profissionais.


Também com Psicólogos, que dão seus diagnósticos 
e se sentem e comportam como se fossem 
um exemplo de comportamento e saúde mental,
mantendo um espécie de carranca humana inafetável
- uma máscara de profissionalismo técnico.


Também com engenheiros, arquitetos, advogados e
enfermeiros vemos essas materializações inumanas de atendimento.
Presos na técnica, enredados nos números e desejosos 
de "mostrar saber" e competência... 
perpetuam um estado das coisas onde o que está entre e é comum a ambos... 
se perde: sua humanidade, a alma, o pessoal, a diferença.

Também vemos isso nos prestadores de serviços gerais, faxineiras e pedreiros.
Entregadores de gás, motoristas e cobradores de ônibus.
Vemos nos caixas de banco, nos operadores da bolsa de valores e nos 
funcionários públicos de todos os tipos, bem como nas eletricistas,
encanadores, lixeiros, atendentes de balcão e marketeiros.

Com todos os avanços e conquistas adquiridos pelas leis 
e pelos movimentos sociais de proteção ao consumidor,
ainda o que predomina é o uso da técnica-pela-técnica.

No outro lado disso, estão aqueles profissionais que, 
movidos por treinamentos "humanizantes" 
e de respeito ao cliente, desempenham seu papel como bobos da corte. 
Pessoas que são instruídas num verdadeiro mecanismo de lavagem 
cerebral para se tornarem amigos e - imediatamente - íntimos dos clientes.
Vão pegando no braço, sorrindo seu sorriso amarelo-congelado e, pior, 
tocando com a mão o joelho ou a nossa perna. Um nojo.

Num extremo, os técnicos sisudos e impessoais. 
No outro, os profissionais humano-demasiado-humanos.
Duas maneiras diferentes de cometer excessos. 
Por um lado, frio demais; por outro, calor demais. 
Quem perde é a densidade do ar que ambos respiram, a atmosfera
que poderia se criar se algo diferente disso fosse feito.
É preciso ser louco, ter a sua loucura para que isso aconteça.
O Dr. House é um exemplo disso.
Ele aposta no ineditismo e no inusitado.
Põe "sua loucura" a ver e manda firme.

O mais comum, no entanto, é a coexistência de duas variações do mesmo problema:
a) incompetência para gerir a própria existência 
e, b) incompetência para inventar maneiras de viver e fazer da sua própria vida 
uma estratégia  de diferenciação dessas formas bitoladas e bitolantes 
de existir, tanto pessoal como profissional.

Ainda bem que há exceções.

Os textos que dão nome a essa postagem são bem claros
no que se refere à diferença que se produz quando 
somos atendidos por técnicos que efetivamente conseguem 
unir seu saber-fazer ao aspecto humano e social de seu ofício, 
o qual está em imanência com a própria relação que se estabelece
entre os envolvidos e nela está baseada.

Aqui a ênfase é estar sozinho na própria diferença.
Colocá-la, 
explicitá-la, 
manifestá-la, 
pô-la em evidência e, 
através dessa busca e afirmação da singularidade, 
sair de uma situação inoperante 
e instituir um bom encontro,
potencializador de uma outra maneira de se relacionar
consigo próprio e com o outro.

Frases: Chaplin e Caio Fernando de Abreu



"Não devemos ter medo dos confrontos. 
Até os planetas se chocam e do caos nascem 
as estrelas."

Charles Chaplin




"Na vida, as coisas
mais doces custam muito a amadurecer.
Mas isso é
pensamento de gente grande,
deixa pra lá."

- Caio F. Abreu - 

DESLUMBRA O DIA, por Pablo Neruda




Foto de Henri Bonell

DESLUMBRA O DIA

Nada para os olhos do inverno,
nem uma lágrima mais,
hora por hora se arma verde
a estação essencial, folha por folha,
até que com seu nome nos chamaram
para participar de alegria.

Que bom é o eterno para todos,
o ar limpo, a promessa flor:
a lua cheia deixa
sua carta na folhagem,
homem e mulher voltam do mar
com um cesto molhado
de prata em movimento.

Como amor ou medalha
eu recebo,
recebo
do Sul, do Norte, do violino,
do cão,
do limão, da greda,
do ar recém-posto em liberdade,
recebo máquinas de aroma escuro,
mercadorias cor de tormenta,
todo o necessário:
flores de laranjeira, cordéis,
uvas como topázios,olor de onda:
eu acumulo
sem trégua,
sem trabalho,
respiro,
seco ao vento meu traje,
meu coração nu,
e cai,
cai o céu:
numa taça 
bebo
a alegria.

Pablo Neruda
In Memorial de Ilha Negra