14 abril, 2008

Vem sentar-te comigo, Lídia... por Fernando Pessoa


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento - Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio, Pagã triste e com flores no regaço.

(Fernando Pessoa)

O amor-perfeito e o amor perfeito





O amor perfeito é a exata junção entre a parte e o todo!

É a parte que se sabe todo...
É o todo que se sabe parte...
Sem pretender, jamais, a totalização!

O amor perfeito é feito tão somente de entrega!

A paixão é um tipo de amor totalizante.
Não se sabe parte e só se toma por todo.

A paixão é só desejo de entrega, de si... e busca da entrega, pelo outro!

Pode-se, contudo, viver sem ambos?
(cerikky)


Fragmentos da tragetória do aprendiz dos mistérios




O maior perigo na magia e na leveza é tentar sufocá-las através do uso da razão... para entender... nem amigos e nem inimigos precisam disso! O mago-mor disse ao iniciado que a magia estava escondida dos olhos comuns num lugar onde eles não a encontrariam... no pátio mais interno do castelo. Apontou, indicando o caminho, e alertou: mas cuide para não cair. O iniciado não comprendeu e não viu a magia... precisou retomar as lições. É assim que se dão as aprendizagens...

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O mago-mor ficou satisfeito porque seu pupilo estava em silêncio: ele estava aprendendo que a magia não se pensa e não se fala... ela se faz e se dá através do encantamento.
Ou melhor: através de um encantamento... poção que fala ao coração!

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Quando o discípulo finalmente aprendeu como é a magia e como se dá o encantamento - e se transformou num mago - ele teve um longo acesso de riso... e tanto se divertiu com a futilidade da sua busca de entendimento, que soltou seu coração e foi embora.
Não havia mais nada para ele no pátio mais interno do castelo: a magia estava dentro dele... no seu coração e nos seus olhos!!!

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Ele sabia O QUE e PARA ONDE olhar!!!
E viu um mundo diferente!!!


13 abril, 2008

Sentindo A Paz em si: adendo à breve trilogia


Após ter se permitido ficar na própria companhia e ter estado intimamente com seus pensamentos, sentimentos, perceptos e aprendizagens, o iniciado sentiu-se profundamente em paz: nada precisava ser feito. Tudo precisava ser feito.

E estava sendo feito...
Ele percebeu, tal como ensinara o mago-mor, que a injustiça devia ser liquidada com a espada num único, preciso e elegante corte; no entanto, viu que a injustica, ainda que cortada de tal maneira, não podia ser toda ela decepada. Sobravam... fragmentos, ou mesmo, pedaços... que aderiam de tal forma entre si que pareciam incorruptíveis na sua composição arraigada de moléculas de tirania!

Ele Viu que Isso... era apenas parte de um complexo molecular de desintegração a que chegaria a injustiça, no devido tempo. A paciência, percebeu ele, não era ficar esperando isso acontecer, ou mesmo, Desejar que acontecesse: era apenas Saber... e ir embora, noutra direção.

A paz que sentia... continuava em seu peito. E tranquilo ele permaneceu... indo!

12 abril, 2008

Os belos, as belas e a beleza!




Os belos: o perfume e todas as suas matizes aromáticas... aromas! E os fractais... movimentos em direção ao infinito... kaus e ordem!

A bela: a sensibilidade humana manifestada que... aprecia!


A beleza: esta junção ímpar!


O retiro, para estar consigo! Breve trilogia parte III




Ele decidiu que precisava se ausentar um tempo... para ficar consigo!


Concedeu-se esse benefício ensinado pelos sábios e mestres da escola iniciática... e levou a sua espada, depositando-a ao lado de onde se sentou para contemplar as simplicidades da complexidade e as complexidades da simplicidade.

A luz estava intensa... naquele momento singular!

A paciência e a luz: reflexões do iniciado: breve trilogia II




O iniciado percebeu que era preciso muita-coisa-e-quase-nada para alcançar esse aprendizado, mas se sentia sem paciência.
Sua pressa e sua angústia - consequencias de ter a visão aberta - atormentavam-no. As injustiças que sofria e testemunhava pareciam muito maior do que as justiças que conseguia promover com a verdade.

Não conseguia párar de pensar na resposta enigmática dada pelo mago-mor à sua pergunta. Ele dissera que para desenvolver a paciência.. era preciso acender a luz e... ascender à luz!

O que ele não sabia - amnésia causada pela aflição EM resolver - era que a luz já estava acesa e, nela, ele estava ascendendo!

O mago-mor e o uso da espada: breve trilogia parte I



A espada serve para cortar a injustiça e todas as consequencias negativas que dela advém. O golpe deve ser único, preciso e elegante. (Palavras do mago-mor, em "Introdução Iniciática sobre a arte do corte")

Quando é impossível evitar a injustiça, busca-se elementos para promover e semear a justiça, através do uso intencional, dirigido e contagioso da verdade.
(Fragmentos de "Práticas que configuram justiças absolutas em situações relativas" proferido pelo mago-mor na "Conferência Iniciática acerca dos Procesos Vistos à Posteriori)

Quando é impossível cortar a injustiça e promover a justiça "in loco" toma-se uma atitude de espera, pois as situações que as geraram são relativas e podem se modificar sob a ação inequívoca do divino. Todo o mago deve saber, desde já, que ele está numa situação de aprendizagem acerca dos relativos do absoluto.
(Palavras do mago-mor na Conferência "Interlúdios do Absoluto nos relativos absolutizantes do codidiano")