29 agosto, 2009

Canto I....... II......... e III, por Tonho França





Canto I
(Tonho França)


Vi em sangue os pulsos da virgem
Cortado por navalhas de rosários e conchas
Dos seus pés sem vida, brotavam brumas de hóstias azuis.
Eram vermelho-uva os lábios da virgem
Tinha no hálito a plumagem galopante dos ventos
E cabelos que geravam leopardos e esfinges gregas
Seus olhos guardavam o canto das planícies e dos rios
E desde o princípio era ali que as noites se alimentavam
Vi em sangue os pulsos da virgem
E demônios que dançavam invisíveis sobre sua fronte
Do útero seco das consciências ouviam-se o crepitar das macieiras em chamas
Não dobrei meus joelhos, nem meus dedos tocaram a ferida
Preferi perder-me na fenda eterna da loucura
E ter em meus olhos, escamas e guizos de vertigem
De quem viu em sangue, os pulsos da virgem.


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Canto II

(Poema dedicado a Celso de Alencar)


Ouço cavalos em galope sobre as ondas
com asas de amálgamas e serpentes
e cascos de tempo e algas.
Dos seus olhos vertia a noite
Entre ventos de fúria e calmaria
com sete línguas de fogo
sete mandíbulas famintas
sete vozes distintas
e todas diziam meu nome
Não vi anjos ou amigos
Nem senti o calor das preces ou salmos
Nem o halo frio das condenações
Apenas o trotar em minhas retinas
Das patas de algas dos cavalos
E a morte em trajes marinhos
Dissolvendo meu nome
Em cânticos de mel e sal.

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Canto III

(Tonho França)



Meus olhos guardam os segredos da morte

A vi em sua plenitude

Com seios claros em ágata e flores

dentes de sabre e línguas de fogo

nos lábios o hálito cítrico do veneno dos deuses.

A vi em sua plenitude

olhos em tons de universo, sacro e profano

galgando ao vento com cascos de corsa

braços maiores que demônios e anjos

recriando a vida

em seu útero infinito

divinamente humano




28 agosto, 2009

Faço poesia, por Otto




FAÇO POESIA
Otto


Adoro fazer poema e poesia

Entrar no mundo real,
E também da fantasia...

Brincar com as palavras
Distribuí-las em versos
Fazer rimas, Ou não...
Passar uma emoção...
Mostrar um sentimento...

Quando vem a inspiração

Deixo escorrer pela mão
Tudo o que sai da alma,
e também do coração...

Coração que se abre

Que as vezes chora...
E sangra!
Fica triste e amargurado

E manda recado para os olhos

Que derramam lágrimas

Que pingam no papel

E borram o que escrevi...

Mas com o tempo tudo seca
Passa!

E o coração volta a ser feliz
Dá pulos de alegria...

E dá vários recados para a boca

Que abre o maior sorriso,

E solta uma gargalhada...
A vida fica mais bonita!

O sorriso derrama no papel

E faz de mim um menestrel

Aí, deixo tudo registrado

Às vezes um ser mal amado...

Outras loucamente apaixonado...

Apaixonado pelo amor

Apaixonado pela vida...

Vida que ensina a escrever

E a fazer poesia...

Viu?

Pois é assim,

Que eu faço poesia...



27 agosto, 2009

A relação parte-todo e todo-parte





As teorias analíticas
priorizam a parte,
e lêem o todo
através delas.
As teorias sistêmicas
priorizam o todo
e lêem a parte através dele.


A teoria da complexidade
de Edgar Morin diz que
a parte está no todo e o todo
está na parte e que ambas
na sua mútua relação são
objetos da ação
do sujeito cognoscente.
A esquizoanálise diz que,
além disso, faz se necessário
olhar o que está ENTRE a parte
e o todo, buscar as fissuras
e as linhas de fuga.
(Cerriky - CRK))




26 agosto, 2009

Anjos, por Mellís





Anjos

(Mellíss)

De repente, como um sorriso que chega na brisa,

nossa alma percebe uma terna presença,

um cálido beijo, um toque invisível ...

São os anjos, dizendo que também somos anjos,

de uma forma ou de outra,

anjos encarnados, anjos disfarçados, anjos entre os anjos ...

Um longo suspiro nasce em nós,

e por segundos sorvemos o néctar do instante magnífico,

imensurável infinito que sequer compreendemos ...

Ah, esses anjos que nos falam !, nossos anjos que se calam,

quando tocam nossas asas, essas, que não vemos.



25 agosto, 2009

Da amizade como modo de vida, ou sobre o devir homossexual: Michel Foucault e Felix Guattari dialogam aqui





Nessa bela entrevista, em vermelho no final desta postagem, Michel Foucault nos mostra que A amizade como modo de vida é uma possibilidade que está colocada para além das noções amplamente difundidas das identidades de gênero.

Digo está para além porque rompe exatamente com o vício de praticar relações verticais, ou seja, aquelas em que há uma dominância instituida pelo hegemônico masculino - e seus muitos representantes - e que se perpetua estabelecendo relações de poder. Nessas relações verticais há um que manda e outro que obedece; um que sabe e outro que não sabe; um que manipula e outro que se deixa manipular; um, que geralmente é homem e, outro, que geralmente, é mulher; um que é adulto e outro que é jovem, adolescente ou criança; um que é jovem e, portanto, mais sintonizado com as ferramentas que seu tempo lhe oferece e outro que é velho e, portanto, considerado ultrapassado, obsoleto... quando não... ultrapassado em suas ferramentas!

Abordando o homossexualismo como condição não identitária, o entrevistado mostra que é possível e desejável sair dos modos de representação dominante e midiático-institucionais e buscar outras maneiras de viver a vida e o desejo, os quais não necessariamente passam pela prática de atos sexuais, nesse caso, homossexuais.

Ora, isso é o que Felix Guattari chama de devir homossexual, um fluxo de força e energia que atravessa homens e mulheres hetero e homo desejantes que estejam abertos para relações horizontais, ou seja, nesse caso, aquelas em que está fora de foco e de centro a prática da hierarquia vertical. Relações permeadas por uma "igualdade" que não é somente semelhante, mas que pruduz diferenciação no extrato e no imaginário social enquanto práticas , atitudes e ações desinstitucionalizantes, ou para usar outra palavra igualmente longa e complicada: desterritorializantes.

Vivemos em territórios imaginários, identitários e instituidos tidos como corretos, certos e inquestionáveis: desejo de absoluto e medo do novo.
Na desterritorialização promovida pelo devir homossexual, ou por qualquer outro devir, há um novo que se anuncia como quebra das práticas instituidas nas relações interpessoais... que possibilita outra inserção social, afetiva e existencial entre as pessoas: desejo de mudança que aciona o medo de perder o conhecido, estável e supostamente seguro.

Entre esses dois medos, o de ser engolfado pelo novo (e virar gay) e o de perder a estabilidade segura, produzem-se novas maneiras de viver, amar e gostar da vida e das pessoas sem a ditadura de sexualidade, sem a necessidade de definições que enclausurem o desejo de vida à uma identidade de gênero.

Guattari é muito claro em seu texto contido no Micropolítica Cartogradias do Desejo, quando fala das diferenças entre identidade e singularidade.
ele diz assim:

"Identidade e singularidade são duas coisas completamente diferentes.
A singularidade é um conceito existencial; já a identidade é um conceito
de referenciação, de circunscrição da realidade a quadros de
referência, quadros esses que podem ser imaginários.
Essa referenciação vai desembocar tanto no que os freudianos
chamam de processo de identificação, quanto nos procedimentos policiais,
no sentido da identificação do indivíduo - sua carteira, de identidade,
sua impressão digital, etc. Em outras palavras, a identidade é aquilo
que faz passar a singularidade de diferentes maneiras de existir por
um só e mesmo quadro de referência identificável. Quando vivemos
nossa existência, nós a vivemos com as palavras de uma língua que
pertence a cem milhões de pessoas;nós a vivemos com um sistema
de trocas econômicas que pertence a todo um campo social;
nós a vivemos com representações de modos de produção
totalmente serializados. No entanto, nós vamos morrer e viver
numa relação totalmente singular com esse cruzamento.
O que é verdadeiro para qualquer processo de criação
é verdadeiro para a vida." (p.68 e 68)


Ele diz ainda:

O traço comum, entre os diferentes processos de singularização
é um devir diferencial que recusa a subjetivação capitalística.
Isso se sente por um calor nas relações, por determinada maneira de desejar,
por uma afirmação positiva da criatividade, por uma vontade de amar,
por uma vontade de simplesmente viver ou sobreviver,
pela multiplicidade dessas vontades. É preciso abrir espaço para que isso aconteça.
O desejo só pode ser vivido em vetores de singularidade. (p.47)

Guattari nos diz, também que "... todas as relações são trabalhadas pelo devir homossexual." (p.73)

Assim, voltando á entrevista de Michel Foucault, podemos nos perguntar:

- O que tem a amizade haver com sexo, sexualidade?
- O que tem a amizade a ver com homossexualismo... ou heterossexualismo (sou estranho, não soa?)
- E, principalmente: o que amizade como forma de vida tem a ver com devir homossexual?

Vou me deter a responder alguns aspectos da terceira dessas perguntas.
Ainda é comum ouvirmos que "homens não choram" (alguém duvida de que isso ainda exista... basta passar alguns dias com crianças numa escola em Educação Infantil e/ou participar de uma reunião de pais, especialmente quando os próprios pais, gênero masculino, estão presentes); "você não pode ser um frouxo, um sensível, um mole" (palavras dirigidas a Tarso, pelo seu pai, na novela Global "Caminho das Índias); "não é possível haver uma amizade verdadeira entre homens e mulheres porque, inevitavelmente, eles vão acabar na cama, não tem como... evitar e, daí, estraga a relação..."

Frases como essas, de cunho sexista e identitário estão sendo ditas, repetidas... aos milhões, todos os dias.
Elas são alguns dos inimigos públicos e privados do devir... de todos os devires.
São também os inimigos invisíveis e ocultos, porque, na sua aparição-sem-questionamentos ficam e ganham força de perpetuação nos processos de subjetivação institucional midiáticos vigentes.
Isso só para falar nos exemplos mais grosseiros, corriqueiros e autoevidentes.

Também sabemos das tentativas, quase sempre infrutíferas, mas, ocasionalmente trágicas de casais gays, homens e mulheres, de constituir uma união estável-familiar-economica-instituida... exatamente nos moldes das familias "heteroxessuais"... desejos de absoluto que não dão passagem ao devir... e nem às amizades, no sentido que estou abordando aqui, porque formam... guetos, redutos, repetições... 'do mesmo'... que querem combater e modificar.
O mesmo acontece com os punks, darks, blacks e todas as tribos que não são permeadas pelos devires, nesse caso, o devir homossexual.

Ora, como pode um devir homossexual, cósmico, molecular, mulher, planta, animal, sensibilidades atípicas, ou qualquer outro, furar esse estado das coisas e instituir algo... diferente... disso?

Ora, o devir homossexual tem tudo a ver com a amizade, na medida em que ele, atravessando sujeitos abertos e desejantes de novos e diferentes modos de existência... permite outras práticas... mais horizontais e transversais, marcadamente aquelas que NÃO repetem modelos pré fabricados e automatizados por práticas viciadas e viciantes de se relacionar com a própria ( e a do outro) identidade (de gênero, espiritual, profissional, familiar, de vizinhança...)

O modo de vida homossexual ao qual se refere Foucault muito pouco ou quase nada, o que dá no mesmo, tem a ver com a prática sexual, o coito, o homoerotismo, embora eles possam estar presentes nas relações de amizade.

A amizade como modo de vida me parece ser uma possibilidade linda de simplesmente ser/estar em relação ao outro, independente do sexo desse outro, mas na dependência da eroticidade desse outro e no que ela, essa eroticidade-poética, mais do que carnal, desperta e afeta em... ambos!

Uma amizade assim constituída permite intimidades, sociabilidades, práticas profissionais, relacionamentos com "papéis sociais" completamente fora da hierarquia dominadora-dominante e institui diálogos (e não mais monólogos familiares e conjugais) desfamiliarizados e tidos como óbvios; abre espaços inéditos de questionamento, discordância e posicionamento em relação às diferenças... que, nesse caso, agora são estimuladas, desejadas e preservadas como um ninho de acolhimento do novo... novo esse que é co-produzido numa rede mutável de intensidades concreto-abstratas em cada encontro.


Esse devir homossexual está ligado à curiosidade, ao descobrimento, ao entendimento, ao aprendizado acerca de mim, do outro e da NOSSA RELAÇÃO... na contramão do controle... vertical, neurótico e instituido.

Não é lindo?

Cesar RK - Cerriky


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Abaixo o texto-entrevista de Foucauld.




Da amizade como modo de vida

De l'amitié comme mode de vie. Entrevista de Michel Foucault a R. de Ceccaty, J. Danet e J. le Bitoux, publicada no jornal Gai Pied, nº 25, abril de 1981, pp. 38-39. Tradução de wanderson flor do nascimento.


– Você tem cinquenta anos. É um leitor deste jornal que existe há dois anos. O conjunto destes discursos te parece algo de positivo?

Que o jornal exista, é algo de positivo e importante. Ao seu jornal, o que eu pediria era que, lendo, eu não tivesse que colocar a questão da minha idade. Ora, a leitura me força a colocá-la. E eu não fiquei muito contente com a maneira que fui levado a fazê-lo. Muito simplesmente, eu não teria lugar ali.

- Quem sabe o problema seja da faixa etária dos que colaboram e dos que lêem: uma maioria entre 25 e 35 anos.

É claro. Quanto mais escrito por pessoas jovens, mais diz respeito às pessoas jovens. Mas o problema não é ceder lugar a uma faixa etária de um lado a outro, mas saber o que se pode fazer em relação à quase identificação da homossexualidade com o amor entre jovens.

Outra coisa da qual é preciso desconfiar é a tendência de levar a questão da homossexualidade para o problema "Quem sou eu? Qual o segredo do meu desejo?" Quem sabe, seria melhor perguntar: "Quais relações podem ser estabelecidas, inventadas, multiplicadas, moduladas através da homossexualidade?" O problema não é descobrir em si a verdade sobre seu sexo, mas, para além disso, usar de sua sexualidade para chegar a uma multiplicidade de relações. E isso, sem dúvida é a razão pela qual a homossexualidade não é uma forma de desejo, mas algo de desejável. Temos que nos esforçar em nos tornar homossexuais e não nos obstinarmos em reconhecer que o somos. O lugar para onde caminha os desenvolvimentos do problema da homossexualidade é o problema da amizade.

- Você pensou isso aos 20 anos ou descobriu no decorrer dos anos?

Tão longe quanto me recordo, desejar rapazes é desejar relações com rapazes. E isso foi sempre, para mim, algo importante. Não forçosamente sob a forma do casal, mas como uma questão de existência: Como é possível para homens estarem juntos? Viver juntos, compartilhar seus tempos, suas refeições, seus quartos, seus lazeres, suas aflições, seu saber, suas confidências? O que é isso de estar entre homens "nus", fora das relações institucionais, de família, de profissão, de companheirismo obrigatório? É um desejo, uma inquietação, um desejo-inquietação que existe em muitas pessoas.

- Pode-se dizer que a relação com o desejo, com o prazer e a relação que alguém pode ter, seja dependente de sua idade?

Sim, muito profundamente. Entre um homem e uma mulher mais jovem, a instituição facilita as diferenças de idade, as aceita e as faz funcionar. Dois homens de idades notavelmente diferentes, que código têm para se comunicar? Estão um em frente ao outro sem armas, sem palavras convencionais, sem nada que os tranquilize sobre o sentido do movimento que os leva um para o outro. Terão que inventar de A a Z uma relação ainda sem forma que é a amizade: isto é, a soma de todas as coisas por meio das quais um e outro podem se dar prazer.
É uma das concessões que se fazem aos outros de apenas apresentar a homossexualidade sob a forma de um prazer imediato, de dois jovens que se encontram na rua, se seduzam por um olhar, que põem a mão na bunda um do outro, e devaneando por um quarto de hora. Esta é uma imagem comum da homossexualidade que perde toda a sua virtualidade inquietante por duas razões: ela responde a um cânone tranqüilizador da beleza e anula o que pode vir a inquietar no afeto, carinho, amizade, fidelidade, coleguismo, companheirismo, aos quais uma sociedade um pouco destrutiva não pode ceder espaço sem temer que se formem alianças, que se tracem linhas de força imprevistas. Penso que é isto o que torna "perturbadora" a homossexualidade: o modo de vida homossexual muito mais que o ato sexual mesmo. Imaginar um ato sexual que não esteja conforme a lei ou a natureza, não é isso que inquieta as pessoas. Mas que indivíduos comecem a se amar, e ai está o problema. A instituição é sacudida, intensidades afetivas a atravessam, ao mesmo tempo, a dominam e perturbam. Olhe o exército: ali o amor entre homens é, incessantemente, convocado e honrado. Os códigos institucionais não podem validar estas relações das intensidades múltiplas, das cores variáveis, dos movimentos imperceptíveis, das formas que se modificam. Estas relações instauram um curto-circuito e introduzem o amor onde deveria haver a lei, a regra ou o hábito.

- Você diz a todo momento: "mais que chorar por prazeres esfacelados, me interessa o que podemos fazer de nós mesmos". Poderia explicar melhor?

O ascetismo como renúncia ao prazer tem má reputação. Porém a ascese é outra coisa. É o trabalho que se faz sobre si mesmo para transformar-se ou para fazer aparecer esse si que, felizmente, não se alcança jamais. Não seria este o nosso problema hoje? Nós colocamos o ascetismo de férias. Temos que avançar sobre uma ascese homossexual que nos faria trabalhar sobre nós mesmos e inventar – não digo descobrir – uma maneira de ser, ainda improvável.

- Isso quer dizer que um jovem homossexual deveria ser muito prudente em relação à imagem homossexual e trabalhar sobre outra coisa?

Isso no que devemos trabalhar, me parece, não é tanto em liberar nossos desejos, mas em tornar a nós mesmos infinitamente mais suscetíveis a prazeres. É preciso, insisto, é preciso fazer escapar às duas fórmulas completamente feitas sobre o puro encontro sexual e sobre a fusão amorosa das identidades.

- Podem-se ver premissas de construções relacionais fortes nos EUA, sobretudo, nas cidades onde o problema da miséria sexual parece resolvido?

O que me parece certo é que nos EUA, mesmo se no fundo a miséria sexual ainda exista, o interesse pela amizade está se tornando muito importante. Não se entra simplesmente na relação para poder chegar à consumação sexual, o que se faz muito facilmente; mas aquilo para o que as pessoas são polarizadas é a amizade. Como chegar, por meio das práticas sexuais, a um sistema relacional? É possível criar um modo de vida homossexual?

Esta noção de modo de vida me parece importante. Não seria preciso introduzir uma diversificação outra que não aquela devida às classes sociais, diferenças de profissão, de níveis culturais, uma diversificação que seria também uma forma de relação e que seria "o modo de vida"? Um modo de vida pode ser partilhado por indivíduos de idade, estatuto e atividade sociais diferentes. Pode dar lugar a relações intensas que não se pareçam com nenhuma daquelas que são institucionalizadas e me parece que um modo de vida pode dar lugar a uma cultura e a uma ética. Acredito que ser gay não seja se identificar aos traços psicológicos e às máscaras visíveis do homossexual, mas buscar definir e desenvolver um modo de vida.

- Não é uma mitologia dizer: "Aí estejam, talvez, as premissas de uma socialização entre os seres, que é inter-classes, inter-idades, inter-nacionais?"

Sim, um grande mito como dizer: não haverá mais diferenças entre a homossexualidade e a heterossexualidade. Por outro lado, penso que é uma das razões pelas quais a homossexualidade se torna um problema atualmente. Acontece que a afirmação de que ser homossexual é ser um homem e que este se ama, esta busca de um modo de vida vai ao encontro desta ideologia dos movimentos de liberação sexual dos anos sessenta. Nesse sentido os "clones" bigodudos têm uma significação. É um modo de responder: "Não receiem nada, quanto mais se seja liberado, menos se amará as mulheres, menos se fundirá nesta polissexualidade onde não há mais diferença entre uns e outros." E não se trata, de modo algum, da idéia de uma grande fusão comunitária.
A homossexualidade é uma ocasião histórica de reabrir virtualidades relacionais e afetivas, não tanto pelas qualidades intrínsecas do homossexual, mas pela posição de "enviesado", em qualquer forma, as linhas diagonais que se podem traçar no tecido social, as quais permitem fazer aparecerem essas virtualidades.

- As mulheres poderiam objetar: "O que é que os homens ganham entre eles e ganham em relação às relações possíveis entre um homem e uma mulher ou entre duas mulheres?”

Há um livro que apareceu nos EUA sobre a amizade entre as mulheres (Faderman, L. Surpassing the Love of Men. New York: William Marrow, 1980). É muito bem documentado a partir de testemunhos de relações de afeição e paixão entre mulheres. No prefácio, a autora diz que ela havia partido da idéia de detectar as relações homossexuais e se deu por conta de que essas relações não somente não estavam sempre presentes, mas que não era interessante saber se se poderia chamar a isso de homossexualidade ou não. E que, deixando a relação desdobrar-se tal como ela aparece nas palavras e nos gestos, apareceriam outras coisas bastante essenciais: amores, afetos densos, maravilhosos, ensolarados ou mesmo, muito tristes, muito obscuros. Este livro mostra também em que ponto o corpo da mulher desempenhou um grande papel e os contatos entre os corpos femininos: uma mulher penteia outra mulher, ela se deixa maquiar e vestir. As mulheres teriam direito ao corpo de outras mulheres, segurar pela cintura, abraçar-se. O corpo do homem estava proibido ao homem de maneira mais drástica. Se é verdade que a vida entre mulheres era tolerada, é somente em certos períodos e a partir do séc. XIX que a vida entre homens foi, não somente tolerada, mas rigorosamente obrigatória: simplesmente durante as guerras.

Igualmente nos campos de prisioneiros. Havia soldados, jovens oficiais que passaram meses, anos juntos. Durante a guerra de 1914, os homens viviam completamente juntos, uns sobre aos outros, e, para eles isso não era nada, na medida em que a morte estava ali; e de onde finalmente a devoção de um ao outro, o serviço feito era sancionado por um jogo de vida e morte. Fora algumas frases sobre o coleguismo, sobre a fraternidade da alma, de alguns testemunhos muito parciais, o que se sabe sobre furacões afetivos, sobre essas tempestades do coração que puderam haver ali nesses momentos? E alguém pode perguntar o faz que nessas guerras absurdas, grotescas, nesses massacres infernais, que as pessoas, apesar de tudo, tenham se sustentado? Sem dúvida, um tecido afetivo. Não quero dizer que era porque eles estavam amando uns aos outros que continuavam combatendo. Mas a honra, a coragem, a dignidade, o sacrifício, sair da trincheira com o companheiro, diante do companheiro, isso implicava uma trama afetiva muito intensa. Isto não quer dizer:

"Ah, está ai a homossexualidade!" Detesto este tipo de raciocínio. Mas sem dúvida se tem ai uma das condições, não a única, que permitiu suportar essa vida infernal em que as pessoas, durante semanas, rolassem no barro, entre os cadáveres, a merda, se arrebentassem de fome; e estivessem bêbadas na manhã do ataque.
Eu queria dizer, enfim, que qualquer coisa refletida e voluntária, como uma publicação, deveria tornar possível uma cultura homossexual, isto é, possibilitar os instrumentos para relações polimorfas, variáveis, individualmente moduladas. Mas a idéia de um programa e de proposições é perigosa. Desde que um programa se apresenta, ele faz lei, é uma proibição de inventar. Deveria haver uma inventividade própria de uma situação como a nossa e que estas vontades disso que os americanos chamam de comming out, isto é, de se manifestar. O programa deve ser vazio. É preciso cavar para mostrar como as coisas foram historicamente contingentes, por tal ou qual razão inteligíveis, mas não necessárias. É preciso fazer aparecer o inteligível sob o fundo da vacuidade e negar uma necessidade; e pensar o que existe está longe de preencher todos os espaços possíveis. Fazer um verdadeiro desafio inevitável da questão: o que se pode jogar e como inventar um jogo?

- Obrigado, Michel Foucault.



24 agosto, 2009

O mago fala sobre a força atômica das perguntas





Mestre, por que os questionamentos são tão mal recebidos pela maioria das pessoas?

Porque eles desestabelizam o sentimento de poder dos falsos poderosos e põe em evidência a falência das instituições que eles ferrenhamente querem manter de pé.
A constatação de que "nem tudo vai tão bem" como sugerem as aparências, causa medo. Medo do novo e medo de suportar a queda/quebra do (falso) poder que julgam ter.

Falsos poderosos?

Sim, porque seu poder é restrito à fragmentos de particularidade e de especialismos... tome o exemplo dos médicos e seus pacientes.
Paciente é quem tem paciência, não é mesmo?

Sim, mas falsos poderosos?

Sim, porque imaginam que podem pensar pelos outros com seu especialismo e, assim, justificar-racionalizando... tudo.
É pura ilusão de poder. Nada podem sobre o pensar do outro.
Mas uma coisa é importante: eles têm poder, e muito, mas é restrito e frágil. Basta você indagar acerca de outro especialismo... e pronto... desaba tudo!

Entendi: daí querem, a todo custo, edificar um saber "arranha-céus" sobre um fio de nylon.

Exatamente.

E... o poder verdadeiro, alguém o tem?

Todos nós o temos. Mas é o poder de desestabilizar o instituido, desde que nos permitamos fazê-lo com um mínimo de coragem e com um mínimo de abertura ao novo... e a (às) maneiras diferentes de pensar o próprio pensamento.
Pensar um novo pensamento é a maneira de evitar o joguinho de poder e adendrar recursos inéditos de solidariedade, amor e respeito... que podem emergir desse encontro de inéditos.

Mas o poder se exerce e sendo exercido, sobre as pessoas, os pacientes, no caso dos médicos que você citou, ele tem força... não é possível negar isso!

Claro que sim. O que digo, é que esse poder que é exercido, acerca do qual você está falando, é um poder real, mas frágil... ele desmorona e se desmancha, perde força... quando questionado. Ou, então, o pior acontece: cria-se a ilusão de ficar mais e mais forte, devido às racionalizações feitas para manter-se de pé.... e mantê-lo de pé.. o poder!
Esse é um poder que tem o poder de perpetuar e repetir o que já está, o que é, o que sempre foi... assim!
O poder de que falo... é de uma outra ordem... é um poder de criar, inventar, des-institucionalizar o óbvio, o sempre tido... o "sempre foi assim".

Mas esse poder também é frágil Mestre.

Sim e mais frágil do que o outro, porque é novo, embrionário. Precisa de alimento para se desenvolver. Mas não esqueça: sendo embrionário é também atômico... e sua força, nesse sentido, fica devastadora... porque institui diferença na maneira e na forma e, mais do que isso, no conteúdo do pensar, do sentir e do agir.

E qual seria o alimento?

Abertura, escuta, disposição para conversar.
Disposição para desmanchar estereótipos e fixidez(es).

Bem, nesse caso, todos os que já questionaram um médico, só para continuar no exemplo, e, mais do que isso, Mestre, todos os que já discordaram de um médico apresentando argumentos não arraigados no especialismo dele... sabem disso.

Sim, o mesmo se pode dizer sobre os magos! (risos)
Pense num mago preso aos seus rituais, um mago que não pensa e que não raciocina, mas que só racionaliza suas práticas, tentando defender o recurso dos rituais. Que magia de vida, da vida, pode atravessar semelhante coração e lá se instalar, para gerar... diferença e novidade, ineditismo?

É. Percebo a dificuldade.

No entanto, nem tudo está perdido, pois a vida tem esse dom de semear mudanças, com ou sem a vontade de participar dos especialistas, e contaminar as mentes e os corações minimamente abertos.. inclusive os deles... em algum momento, em algum tempo.
Essa é outra grande magia e que... dispensa rituais!
Sobre a força atômica das perguntas e questionamentos, é importante ter claro que é preciso saber perguntar e saber o quê perguntar... senão... redundâncias e explicações cansativas!

Mas eles não sabem disso Mestre.

Mas nós sabemos! (risos)

(De "Fragmentos de Conversas e aula informal com o Mago-mor sobre o poder e os podres poderes")


Enfrente esse dragão do instituido e você verá quantas luzes e cores daí resultarão, mesmo sob uma capa aparentemente preta e impermeável à luz.
Experimente!




Tornando o campo fértil, ou sobre ajudar demais...




Um mestre encarregou o seu discípulo de cuidar do campo de arroz.

No primeiro ano, o discípulo vigiava para que nunca faltasse a água necessária.
O arroz cresceu forte, e a colheita foi boa.

No segundo ano, ele teve a idéia de acrescentar um pouco de fertilizante. O arroz cresceu rápido, e a colheita foi maior.

No terceiro ano, ele colocou mais fertilizante. A colheita foi maior ainda, mas o arroz nasceu pequeno e sem brilho.

Então o mestre advertiu-o:
- Se continuar aumentando a quantidade de adubo, não terá nada de valor no ano que vem.

Moral da história:
Você fortalece alguém quando ajuda um pouco. Mas você enfraquece alguém e pode até estragá-lo se ajudar muito.


22 agosto, 2009

Monja Coen defende atitude zen no cotidiano



MARCOS DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Ela não é o tipo de monja zen-budista que as pessoas costumam idealizar. Por exemplo: passou o final do ano passado ouvindo canções tocadas ao violão pelo primo Sérgio Dias, que nas décadas de 60 e 70 integrou o trio Mutantes, ao lado do irmão Arnaldo Baptista e de Rita Lee. Mutante também, Monja Coen, 58, acredita que o caminho para a verdadeira felicidade é pleno de transformações.

Lançando seu primeiro livro, "Viver Zen - Reflexões sobre o Instante e o Caminho" (Publifolha,128 págs., R$ 19,90) --uma seleção de textos da coluna que assina todos os domingos na "Revista da Hora", do jornal "Agora São Paulo"--, Coen diz que é possível ter uma atitude zen no dia-a-dia, sem precisar se retirar num mosteiro nem ser budista.

"O mosteiro é onde nós estamos. Não é o prédio, o edifício", diz ela, que passou 19 anos de vida monástica no Japão. Monja Coen é missionária oficial da tradição Soto Hu Zen-Budismo, com sede no Japão, e foi a primeira mulher e a primeira pessoa de origem não-japonesa a presidir a Federação das Seitas Budistas do Brasil, entre 1997 e 1998. Antes de partir em viagem ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a monja recebeu o Equilíbrio na Comunidade Zen do Brasil, em São Paulo. Leia trechos da conversa a seguir.

Equilíbrio - Cientistas têm estudado os efeitos da felicidade e de estados de contentamento na mente humana em decorrência de práticas alternativas como a meditação. Como meditar pode ajudar na busca pela felicidade?

Monja Coen - Fizeram uma pesquisa com monges de um grupo de meditação do dalai-lama. Havia uma diferença entre os monges mais antigos e os mais novos em relação ao espaço do cérebro onde as reações de felicidade foram detectadas. A conclusão científica a que chegaram é que podemos nos treinar para ser mais felizes. As práticas meditativas levam a um estado de compaixão e isso é comprovado materialmente nos neurônios. Eles são plásticos e, assim como os músculos, podem ficar mais fortinhos se começarmos a procurar no outro alguma coisa boa.

Equilíbrio - O que é felicidade na sua opinião?

Coen - A felicidade está diretamente ligada ao que chamamos de sabedoria, ou de compreensão superior. Essa compreensão é nossa, da espécie humana. Não é para eleitos. É um estado de deslumbramento com a vida, mesmo na dor, no sofrimento.

Equilíbrio - A dor e o sofrimento fazem parte?

Coen - A felicidade não é uma coisa que aniquila a dor. Não dá para dizer "não vou ter mais sofrimentos, só vou ser feliz". A verdadeira felicidade é você perceber que a beleza é um processo contínuo. Se alguma coisa me magoa, eu fico triste. Eu não posso ficar alegre com a tristeza. Faz parte da experiência humana sentir saudade, amor, ternura, ficar triste, ter medo da morte. É trabalhar o que está acontecendo com você e não negar, não iludir. Não adianta querer cobrir com um veuzinho muito fino aquilo que é a nossa verdade.

Equilíbrio - É possível ser zen e sentir raiva?

Coen - Não existe esse negócio de "ah estou zen, nada me incomoda". Se estou zen, estou vivo. Estou com os pés no chão e sou um elemento de transformação do mundo. A indignação e a raiva são maravilhosas porque são elas que nos motivam a querer uma ação de transformação.

Equilíbrio - O contentamento não se confunde às vezes com o conformismo?

Coen - Há uma história budista que diz assim: a pessoa contente é feliz mesmo dormindo no chão duro. E aquele que desconhece o contentamento é infeliz mesmo dormindo num quarto luxuoso. Não significa que todo mundo tem de fazer voto de pobreza. Não é apenas se conformar com a situação. O caminho para essa busca da felicidade nem sempre é muito alegre. Há momentos em que você fala: "Não está acontecendo nada!". E, sem isso, você não chega lá. Não é só fazendo massagem e cuidando do corpo que encontramos felicidade. Nem só cuidando da mente e abandonando o corpo. Somos uma unidade, nosso corpo e nossa mente estão unidos.



Mensagem apócrifa de Mario Quintana, mas de Renata Vilella



Este belo texto que circula na web como sendo de Mario Quintana é de Renata Vilella, segundo me informou queridamente uma amiga frequentadora assídua dessas páginas: Kátia.
Obrigado my dear pela dica e pelas correções. Aprecio ambas!


"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando
as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter
consciência de que é dono do seu destino.

"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.

"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de
miséria e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo,
ou o apelo de um irmão , pois está sempre apressado para o trabalho e
quer garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por
trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que
precisam de sua ajuda.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior
das deficiências é ser miserável, pois:

"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.


20 agosto, 2009

Entrevista com a dragão... fragmentos



"Você viu aquele filme chamado "Entrevista com o Vampiro"?
Pois é, seria recomendável que fizesse uma entrevista
com outro vampiro, o dragão!"

"A conversa com o dragão é extremamente recomendável
no processo de depuração e lapidação que passamos quando
estamos trilhando os caminhos que buscam conhecer nossas
extranhezas existenciais".

"O dragão é um ser muito, mas muito poderoso!
Ele se coloca a serviço e muitas vezes é uma parceiro
inseparável do ego, isso mesmo, do seu ego"
Quer sacrificar seus ideais mais intensos de vida
ao desejo de morte." Nessa condição, ele se alia para
transformar situações simples e prazerosas em territórios
de inferno... e promove, através de atos francamente terroristas,
catástrofes existenciais que poderiam, se não bloqueadas,
levá-lo ao Nirvana aqui: sentimentos de paz e bem estar indizíveis
são transformados em... dor e sofrimento."

Creio que nem está correto falar em dragão, no singular,
mas sim em dragões. Medo, pânico, rituais obsessivos - como os
excessos de controle -, ira, gula, bulimia e outras tantas formas de
adoecer psiquicamente podem estar co-regidas pelos dragões...
em auxílio ao ao seu ego.

Eles também podem assumir a forma hedionda de representações
psíquicas inconscientes, regadas a sentimentos de culpa e de processos
francamente culpabilizadores: sadismo e masoquismo em uníssona canção:
sons desarticulados, nada harmônicos, que ecoam numa sinfonia dos horrores!
Já sei, você vai me indagar acerca dos exemplos.
Tem vários:
1. Quando está possuído de incontrolável intensidade de desejo sexual (aahhh é maravilhoso e sedutor sentí-lo e deixá-lo fluir em direção ao seu objeto de amor-paixão-desejo... mas deixá-lo fluir não quer dizer jogá-lo sobre o outro e ... bem, impô-lo, ainda que de forma dissimulada, o que é bem pior. Percebe o que chamo de poder do dragão?;
2. Quando movido por frustrações, coloca a culpa nos outros e exime-se da responsabilidade própria na criação das condições que provocaram as frustrações, como com a sua famigerada fantasia de expectativas... você vai criando a "realidade" na sua mente e dela faz um ou vários castelos de areia na frente da primeira onda do mar... ora, ora;;
3. Quando comete erros que considerava já terem sido trabalhados e resolvidos em você e se depara com a repetição: você fez "tudo errado" de novo e se recrimina profundamente por isso... aí está um dos dragões cuspindo seu fogo em você... e você se queimando nele... ardendo em brasas de auto-ruminação, de auto-flagelo... e de autopunição;
4. Quando você nega-se às possibilidades ímpares de estar a sós consigo e passa a buscar a realização "do desejo do outro"... submetendo-se às mais variadas formas dissimuladas e sedutoras de... vampirismo e sodomia.
5. Só para citar mais um: quando, e este é muito, mas muito comum, deixa-se levar pelas idéias de que você é melhor do que o outro - todos os outros - e se convence disso, criando assim, idéias supervalorizadas da sua importância e da sua performance... em todos os campos da sua atuação... profissional, sexual, espiritual, criativa, afetiva, social, familiar... sente-se imprescindível, como se o mundo e as pessoas, todas as demais pessoas, nada pudessem sem você e o seu inestimável auxílio! Alguns chamam isso de egocentrismo (muito fraca essa palavra), outras de narcisismo (muito psicanalítica), outros, ainda, chamam isso de onipotência (essa eu gosto, porque ela está diretamente ligada ao seu companheiro dialógico, a impotência).
Ora, variações sobre o mesmo tema: você está sendo dominada pelo seus monstrinhos internos e pelo seu eguinho... achando-se... simplesmente... o máximo!"

"É legitimo, humano e aceitável sentir raiva. Até mesmo aquela raiva na qual você pensa - ou diz - que tem vontade de matar o outro. Assim como são legítimos, humanos e aceitáveis tantos outros sentimentos dessa nossa condição "humano-demasiado-humano". Os tais ciúmes, desprezo, menosprezo, inveja, rancor, mágoa, cobiça, e todos os demais sentimentos considerados "menores" são monstros que o atacam quando você JÁ OS CONHECE e se deixa dominar por eles por um período considerado longo de tempo... e quando eles preenchem um espaço... grande. O que é longo e grande? Só você pode dizer e concluir.
Como saber qual o poder e como se dá esse poder... desses sentimentos em você... se não os experimenta ou experimentou, se os nega dizendo... "não, eu não sinto ciúmes"?
Ora, mas é muito diferente sentir vontade de matar alguém... de... matar alguém."

"A conversa, ou nos termos iniciais, 'a entrevista com o dragão', pode não ser uma empreitada fácil já que eles são ardilosos, sedutores e manipuladores em graus altamente elaborados. Dissimulados, eles, os dragões, podem fazê-lo crer que você está sendo infantil, ridículo, passional ou racional demais... patético, enfadonho, mesquinho, invejoso... etc.
Eles podem parecer amigos confidentes que, no entanto, giram tudo contra você e a favor deles, sem que você perceba isso de imediato."

"Um dos maiores problemas na lida com os dragões internos reside no fato de que eles aprazem-se em fazê-lo pensar OU fazê-lo sentir que os pensamentos são tudo... OU que os sentimentos são tudo. Com isso fomentam a discórdia, a dissociação e a negação da dualidade do nosso mundo, esquecem que em nome de pensamentos... se mata e em nome de sentimentos... também se mata! Exemplos: do primeiro caso, os talibâs do Afeganistão e todos os regimes discriminatórios; do segundo, os crimes passionais all over the world."

"Sua principal arma e sua principal força na luta contra os dragões está na associação de pensamentos e lógica com sentimentos e ações. Uma outra possibilidade viável, em casos extremos, está em você usar a linguagem que eles conhecem e dominam: seja sedutor, manipulador, dissimulado... minta para eles e os enrole. Isso vai deixá-los muito fracos... "

"Seja como for, em algum momento da sua vida, mais cedo ou mais tarde, você vai ter de se deparar com seus dragões e esse é um encontro do qual não se sai incólume. Podemos sair feridos, queimados, chamuscados, mas temos de fazer esse encontro dragônico se quisermos crescer e nos tornar pessoas... melhores e mais lúcidas e com melhor e maior discernimento acerca das coisas da vida e da vida das coisas".

"Tudo isso que falei acerca dos dragões internos, aqueles que habitam as entranhas da sua psique... vale para os dragões externos... aqueles com quem você se encontra e convive em n lugares."

"Está desanimado?
Não fique!
Budha já dizia que a vida é sofrimento.
Freud e seus seguidores nos mostraram que o inconsciente existe.
A astrologia nos mostra que temos as características para fazermos o que de melhor existe para nossa evolução.
A esquizoanálise nos mostra que os devires são forças e potências sociais que, como a água, penetram as rochas mais duras e as fazem sucumbir."
E nós, os magos... aprendemos a fazer isso ... brincando (risos).

(Fragmentos de "Palavras do mago acerca das conversas com o dragão". P.108)




19 agosto, 2009

Frases para reflexão... vários autores





“Se alguém não encontra a felicidade em si mesmo, é inútil que a procure noutro lugar.”
(La Rochefoucald)

“A felicidade não é uma estação de chegada, mas um modo de viajar.”
(M. Ruberck)

“Procurando o bem para os nossos semelhantes encontramos o nosso.”
(Platão)

“Cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixão decididamente conduz a uma melhor saúde mental e à felicidade”
(Dalai Lama)

“O bem que fizemos na véspera é o que nos traz a felicidade pela manhã.”
(Provérbio Hindu)

“... A ventura é um “estado de espírito” e não fruto da posse ou propriedade particular... as coisas inanimadas ou provisórias, jamais podem proporciona felicidade para quem é eterno!”
(Ramatis / H. Maes)

“As alegrias que brotam do mundo dos sentidos encerram germes de futuras tristezas; vêm e vão; por isso, ó príncipe, não é nelas que o sábio busca sua felicidade.”
(Bhagavad Gita)

"Na realidade, são nossas atividades conformes à excelência que nos levam à felicidade, e as atividades contrárias nos levam à situação oposta"
(Aristóteles)

“Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos...”
(W. Shakespeare)

“Essa é a verdadeira chave para a vida: se modificares a tua mentalidade, tuas condições se modificarão também – teu corpo irá modificar-se; tuas atividades rotineiras irão modificar-se; teu lar irá modificar-se; toda a tônica da tua vida irá modificar-se – pois o estares feliz e contente ou deprimido e infeliz, depende inteiramente do tipo de alimento mental de que te nutres.”
(Emmet Fox)

“A felicidade depende das qualidades próprias do indivíduo e não do estado material do meio em que se acha.”
(Allan Kardec)

"O autoconhecimento é o começo da sabedoria, em cuja tranqüilidade e silêncio se encontra o Imensurável.”
(Krishnamurti)

“Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo.”
(Jesus – Mateus 6: 33)

“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.”
(Mahatma Gandhi)

“Se queres colher doce paz e descanso, discípulo, semeia com sementes do mérito os campos de futuras colheitas.”
(H.P. Blavatsky)



17 agosto, 2009

Alberto Caeiro: O guardador de rebanhos XXI






O Guardador de Rebanhos
XXI

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe uma paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Alberto Caeiro



16 agosto, 2009

Mário Quintana: saudade e terremoto



Na solidão na penumbra do amanhecer.
Via você na noite, nas estrelas, nos planetas,
nos mares, no brilho do sol e no anoitecer.
Via você no ontem , no hoje, no amanhã…
Mas não via você no momento.Que saudade…
Mário Quintana






Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece…
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana


Astrologia: a missão de cada signo solar





De acordo com algumas "correntes" da astrologia, todos nós temos TODOS os signos no nosso mapa de nascimento, bem como nos trânsitos e progressões anuais e revolução solar. É por isso que se fala em Sol em Touro, Lua em Áries, Vênus em Touro, por exemplo.
E, segundo as mesmas "correntes" também temos todas as casas no mapa.
Assim uma pessoa que tenha sol na casa oito... terá características do signo de escorpião. Ora, um taurino com sol na oito, como é o meu caso... fica muito diferente de um taurino com sol na casa sete, nove, doze e assim por diante.
Abaixo... somente algumas características do signo solar... retiradas de um pps que recebi e achei legal.
Não sou astrólogo e não faço mapas astrológicos... mas acredito muito neles, já que estudo o meu mapa natal e os trânsitos... faz anos!
Comprovação taurina, na prática, aliada ao espírito investigativo escorpionino (em mim)... hehehe






....E então, naquela manha Deus compareceu ante suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, cada criança deu um passo à frente para receber o Dom e a função que lhe cabia.

"Para ti, Áries, dou a primeira semente, para que tenhas a honra de planta-la. Para cada semente que plantares, mais outro milhão de sementes se multiplicará em suas mãos. Não terás tempo de ver a semente crescer, pois tudo o que plantares criará cada vez mais e mais para ser plantado. Tuserás o primeiro a penetrar o solo da mente humana levando Minha Idéia. Mas não cabe a ti alimentar e cuidar desta idéia, nem questiona-la. Tua vida é ação, e a única ação que te atribuo é a de dar o passo inicial para tornar
os homens conscientes da Criação. Por este trabalho, Eu te concedo a virtude do Respeito por Si Mesmo."
E Aries, silenciosamente, voltou ao seu lugar
Principal Característica: individualidade, ação
Qualidade: coragem, sinceridade
Defeito: impulsividade e franqueza excessivas

A ti Touro, Eu dou o poder de transformar a semente em substância. Grande é a tua tarefa, requer paciência; pois tens que terminar tudo o que foi começado, para que as sementes não sejam dispersadas pelo vento. Não deves mudar de idéia no meio do caminho, nem depender dos outros para a execução
do que te peço. Para isso, Eu te concedo o Dom da Força. Trata de usá-lasabiamente!"
E Touro voltou ao seu lugar.
Principal Característica: estabilidade
Qualidade: lealdade, persistência
Defeito: teimosia, conservadorismo

"A ti, Gêmeos. Eu dou as perguntas sem respostas, para que possas levar a todos um entendimento daquilo que o homem vê ao seu redor. Tu nunca saberás por que os homens falam ou escutam, mas em tua busca pela resposta encontrarás o Meu Dom reservado a ti: o Conhecimento."
E Gêmeos voltou ao seu lugar.
Principal Característica: movimento
Qualidade: adaptabilidade, versatilidade
Defeito: racionalidade excessiva, falta de comprometimento

"A ti Câncer, atribuo a tarefa de ensinar aos homens a emoção. Minha Idéia é que provoques neles risos e lágrimas, de modo que tudo o que eles vejam e sintam desenvolva uma plenitude desde dentro. Para isso, Eu te dou o Dom daFamília, para que tua plenitude possa se multiplicar."
E Câncer voltou ao
seu lugar.
Principal Característica: sentimento
Qualidade: empatia, sensibilidade
Defeito: possessividade, apego ao passado, flutuabilidade

"A ti Leão, atribuo a tarefa de exibir ao mundo Minha Criação em todo o seu esplendor. Mas deves Ter cuidado com o orgulho, e sempre lembrar que é Minha Criação, e não tua. Se o esqueceres, serás desprezado pelos homens. Há muita alegria em teu trabalho; basta fazê-lo bem. Para isso Eu te concedo o Dom da Honra."

E Leão voltou ao seu lugar.
Principal Característica: alegria
Qualidade: dignidade, generosidade, extroversão
Defeito: egocentrismo, autoritarismo, teimosia

"A ti Virgem, peço que empreendas um exame de tudo o que os homens fizeram com Minha Criação. Terás que observar com perspicácia os caminhos que percorrem, e lembrá-los de seus erros, de modo que através de ti Minha Criação possa ser aperfeiçoada. Para que assim o faças, Eu te concedo o Dom
da Pureza."
E Virgem retornou ao seu lugar.
Principal Característica: a vontade de fazer sempre melhor
Qualidade: capricho, humildade, aperfeiçoamento constante
Defeito: criticismo, meticulosidade excessiva, mania de perfeição

"A ti Libra, dou a missão de servir, para que o homem esteja ciente dos seus deveres para com os outros; para que ele possa aprender a cooperação, assim como a habilidade de refletir o outro lado de suas ações. Hei de te levar onde quer que haja discórdia, e por teus esforços te concederei o Dom
do Amor."
E Libra voltou ao seu lugar.
Principal Característica: a busca do outro, a sociabilidade
Qualidade: diplomacia, elegância, simpatia, bom senso
Defeito: hesitação, necessidade de agradar, dificuldade com conflitos

"A ti Escorpião, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, em
tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão de Minha Idéia, o que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares, terei para ti o Dom supremo da Finalidade."
E Escorpião retornou ao seu lugar.
Principal Característica: a profundidade
Qualidade: conhecimento do ser humano
Defeito: intensidade excessiva

"A ti Sagitário, Eu peço que faças os homens rirem, pois entre as distorções da Minha Idéia eles se tornam amargos. Através do riso darás ao homem a esperança, e por ela voltarás seus olhos novamente para Mim.
Chegarás a Ter muitas vidas, ainda que só por um momento; e em cada vida que atingires, conhecereis a inquietação. A ti Sagitário, darei o Dom da Infinita Abundância, para que te possas expandir o bastante até atingircada recanto onde haja escuridão, e levar aí a luz."
E Sagitário retornou ao seu lugar.
Principal Característica: a expansividade
Qualidade: o otimismo
Defeito: a arrogância

"A ti Capricórnio, quero o suor da tua fronte, para que possas ensinar aos homens o trabalho. Não é fácil tua tarefa, pois sentirás todo o labor doshomens sobre teus ombros; mas pelo jugo de tua carga, te concedo o Dom da Responsabilidade."
E Capricórnio voltou ao seu lugar.
Principal Característica: a persistência
Qualidade: disciplina
Defeito: rigidez

"A ti Aquário, dou o conceito de futuro, para que através de ti o homem possa ver outras possibilidades. Terás a dor da solidão, pois não te permito personalizar o meu amor. Para que possas voltar os olhares humanos em direção a novas possibilidades, Eu te concedo o Dom da Liberdade, de
modo que, livre, possas continuar a servir a humanidade onde quer que ela esteja."
E Aquário retornou ao seu lugar.
Principal Característica: a originalidade
Qualidade: o humanismo
Defeito: o radicalismo

"A ti Peixes, não foi a toa que te deixei por ultimo, pois te dou a mais difícil de todas as tarefas.
Peço-te que reunas todas as tristezas dos homens e as tragas de volta para Mim. Tuas lágrimas serão,
no fundo, minhas lágrimas. A tristeza e o padecimento que terás de absorver são os efeitos das distorções
impostas pelo homem à Minha Idéia, mas cabe a ti levar até ele a compaixão, para que possa tentar de novo. Serás tua a missão de amparar e encorajar a todos teus irmãos, fazendo-os acreditar que eles são capazes, e sempre podem tentar novamente. Por esta tarefa, Eu te concedo o Dom mais alto de todos: tu serás o único de Meus doze filhos que me Compreenderás. Mas este Dom do Entendimento é só para ti, Peixes, pois quando tentares difundi-lo entre os homens eles seguirão e poucos te escutarão."
E entre todos, Peixes, foi o único que retornou ao seu lugar sorrindo carinhosamente para cada um dos seus onze irmãos, sabendo que cada um deles agora tinha se tornado parte da vida dele. Naquele momento ele já amava a cada um deles profundamente. E agradeceu a Deus tanta honra por missão tão difícil...
Principal Característica: a sensibilidade.
Qualidade: a doação nas amizades e perante a vida
Defeito: tendência a fuga quando sofre.

.... Então Deus completou:
---"Cada um de vós é perfeito, mas não
compreendereis isto até que vós doze sejais UM

Agora vão!"
E as doze crianças foram embora executar sua tarefa da melhor maneira...