28 setembro, 2010

Quartet - Anderson, Brufford, Wakeman and Howe.







i I Wanna Learn

I wanna learn more about you
We haven't spoke in quite a while
And all of the dreams that come true
So surprising how it catches you

I wanna learn more about me
I've been sinking like a setting stone
And now the dreams are realising it's true
That's why I wanna learn about you

I wanna know more about life
And things that can fly in between my mind
I wanna change all the I dream about
My waking and my so many lives, oh my

I wanna learn more about you
We haven't spoke in quite a while
Just let me, let me come through
I'll give you my heart, my life for life

ii She Gives Me Love

She gives me love
When love had gone away
When the pressure came so fast
She give me love
Long distance runaround
And in between the pressure
I was summoned

How did we dance on the south side of the sky
We saw the flags flying on the moon
And thru the gates of delirium so fast
Believing in the light was a beginning
Only to believe in you
Only to believe in you

She give me love
When I was losing fast
I was awakened by the dream
She was the love for me
the first and last
And all that I remembered
Was the roundabout only to believe in you

iii Who Was The First

Who was the first to show
The moon at night
Is never so far away
We are the first to define the
Languages of love

Who was the first to learn
The universal consciousness divine
We are the first to discover
This day in our time

And when the history of science
Re-writes itself each day
We are living in days of wonder Simon says
So wonderful true believer
So wonderful I'm alive
Just take this world of life
Each day at a time

So up this universal
Combinations of the word
I'll try so hard to fulfill my belief

Take me I'm a love you
I'm a love you
No change in my mind
I'll walk with you to the end of the earth

I wanna learn more about you
We haven't spoke in quite a while
I wanna learn more about me
We haven't spoke in quite a while

So up this universal
Combinations of the word
So up this universal
Word of love

Take me I'm a love you
I'm a want you
No need to change my mind
I'll walk with you to the end of the earth

I wanna learn more about you
We haven't spoke in quite while
I wanna learn more about me

iv I'm Alive

Only when you looked
Did I realise
Someone broke into your life
How we hurt and never show it
Come into my world hold me
In your arms
There's a mystery to the touch
How it heals so
When we're broken

I believe that all the fear you've had
Can gently fly away

We experience we hold together
Lost in one embrace

We will love forever (this eternity)
For in (this) love, I'm alive, I'm alive

Only when you spoke
Did I realise
How you understand this life

How you help me
With your eyesight

Only when we touched
Did it all come true
How you understand my life
How you helped me with your light







19 setembro, 2010

Sociedade de Controle, por Rogério Costa ou a partir de Foucault e Deleuze: a maquinica da prisão disfarçada de liberdade



SOCIEDADE DE CONTROLE
ROGÉRIO DA COSTA

Resumo: Esse artigo trata de algumas diferenças entre as sociedades disciplinares 
e a sociedade de controle.
Ele toma por base as reflexões do filósofo Gilles Deleuze 
sobre o trabalho de Michel Foucault. Aborda também
as recentes tecnologias de controle e os mais recentes projetos 
do governo norte-americano para rastrear
as ações de indivíduos no planeta.
Palavras-chave: sociedade de controle; código; modulação social.



Não há necessidade de ficção científica para conceber um
mecanismo de controle que forneça a cada instante a posição de um
elemento em meio aberto, animal numa reserva, homem numa
empresa (coleira eletrônica). Félix Guattari imaginava uma cidade
onde cada um pudesse deixar seu apartamento, sua rua, seu bairro,
graças ao seu cartão eletrônico, que removeria qualquer barreira;
mas, do mesmo modo, o cartão poderia ser rejeitado tal dia, ou
entre tais horas; o que conta não é a barreira, mas o computador
que localiza a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma
modulação universal
Gilles Deleuze (1990)



Num artigo intitulado “Post-Scriptum sobre as
Sociedades de Controle”, o filósofo Gilles
Deleuze (1990) indicava alguns aspectos que
poderiam distinguir uma sociedade disciplinar de uma
sociedade de controle. As sociedades disciplinares podem
ser situadas num período que vai do século XVIII até a
Segunda Grande Guerra, sendo que os anos da segunda
metade do século XX estariam marcados por seu declínio
e pela respectiva ascensão da sociedade de controle. Seguindo
as análises de Michel Foucault, Deleuze percebe
no enclausuramento a operação fundamental da sociedade 
disciplinar, com sua repartição do espaço em meios
fechados (escolas, hospitais, indústrias, prisão...), e sua
ordenação do tempo de trabalho. Ele chamou esses processos
de moldagem, pois um mesmo molde fixo e definido
poderia ser aplicado às mais diversas formas sociais.

Já a sociedade de controle seria marcada pela interpenetração
dos espaços, por sua suposta ausência de limites
definidos (a rede) e pela instauração de um tempo contínuo
no qual os indivíduos nunca conseguiriam terminar
coisa nenhuma, pois estariam sempre enredados numa espécie
de formação permanente, de dívida impagável, prisioneiros
em campo aberto. O que haveria aqui, segundo
Deleuze, seria uma espécie de modulação constante e universal
que atravessaria e regularia as malhas do tecido
social.

Deleuze sugere ainda que as sociedades disciplinares
possuem dois pólos, “a assinatura que indica o indivíduo,
e o número de matrícula que indica sua posição numa
massa”. Nas sociedades de controle, “o essencial não seria
mais a assinatura nem um número, mas uma cifra: a
cifra é uma senha (...) A linguagem digital do controle é
feita de cifras, que marcam o acesso ou a recusa a uma
informação” (Deleuze, 1990). A força dessa interpretação
reside em um aspecto que gostaríamos de analisar neste
artigo: a relação entre identidade pessoal e código
intransferível (ou cifra, como diz Deleuze). A passagem
de um a outro implica que os indivíduos deixam de ser,
justamente, indivisíveis, pois passam a sofrer uma espécie
de divisão, que resulta do estado de sua senha, de seu
código (ora aceito, ora recusado). Além disso, as massas,
por sua vez, tornam-se amostras, dados, mercados, que
precisam ser rastreados, cartografados e analisados para
que padrões de comportamentos repetitivos possam ser
percebidos.

Para tentar compreender melhor essas distinções, e
esclarecendo desde já que há muitas maneiras de se abordar
a recente sociedade de controle e seus mecanismos
(Hardt, 1998; Lessig, 1999; Rheingold, 2002; Shapiro,
1999), vamos abordar aqui a forma como os dispositivos
de controle se ocupam de informações resultantes das
várias ações dos indivíduos. Chamadas telefônicas, compras
de passagem aérea, câmbio, transferência financeira,
uso de cartão de crédito, etc. O que se pretenderia obter
através da análise de um tal conjunto de informações? É
seu conteúdo que interessa, ou é seu padrão de composição
e acesso? Enquanto os conteúdos apontam para as
pessoas, para os sujeitos no sentido singular da informação
(conversou tal assunto, foi para tal país, trocou tantos
dólares...), os padrões, por sua vez, nos remeteriam ao quê?

Aos indivíduos como códigos digitais dentro de uma amostra
específica? Há diferença entre viajar uma única vez
ou vinte vezes em seis meses a um mesmo país? Esses
parecem ser aspectos cruciais na mudança das estratégias
que nos conduziram dos modelos tradicionais de disciplina
aos modelos mais sofisticados de controle atuais.

Há que se notar um aspecto básico, o de que sociedades
disciplinares e de controle estruturaram de forma diferente
suas informações. No primeiro tipo de sociedade, teríamos
uma organização vertical e hierárquica das informações.

Neste caso, o problema do acesso à informação, por
exemplo, confunde-se com a posição do indivíduo numa
hierarquia, seja ela de função, posto, antiguidade, etc. Além
disso, as informações parecem adequar-se à estratégia de
compartimentalização que configura o dispositivo
disciplinar. Dessa forma, cada instituição detém seu
quinhão de informação, como algo que pertence ao seu
próprio espaço físico. Há uma associação profunda entre
o local, o espaço físico e o sentido de propriedade dos
bens imateriais. Há uma intensa regulação dos fluxos
imateriais no interior dos edifícios e entre eles, de tal
maneira que a resposta à pergunta “onde está?” parece
indicar ao mesmo tempo o lugar físico e a propriedade da
informação.

Cabe lembrar que nos dispositivos disciplinares, como
nos mostra Foucault (1998), há uma espécie de polarização
entre a opacidade do poder e a transparência dos indivíduos.
Lembremos da famosa imagem do panóptico.
O poder, devido a sua situação privilegiada, se manteria
fora do alcance dos indivíduos, enquanto estes últimos
estariam numa situação de constante observação, sendo
portanto transparentes aos seus olhos (Foucault, 1998;
Rheingold, 2002). Numa tal situação, parece que a reivindicação
fundamental seria: maior transparência do
poder, para que possamos ver quem vive nos espiando e
controlando.

Essa crença acabou alimentando uma série de reflexões
sobre a suposta transparência que a web nos ofereceria,
e sua conseqüente força diante dos obscurantistas que
defendem os velhos esquemas de poder. Assim, poderíamos
ter finalmente com a web a liberdade de expressão,
o acesso às informações democratizado, etc.1 Claro que
nada disso é desprezível, sendo mesmo algo que nos
permite uma mobilidade sem precedentes. Mas, o que se
passa, então, com o advento da sociedade de controle,
que é predominantemente reticular, interconectada? Há
uma mudança de natureza do próprio poder, que não é
mais hierárquico, e sim disperso numa rede planetária,
difuso. Isso pode significar que a antiga dicotomia
opacidade-transparência não seja mais pertinente. Como
diz Deleuze (1990), os anéis da serpente são mais
complexos... O poder hoje seria cada vez mais ilocalizável,
porque disseminado entre os nós das redes. Sua
ação não seria mais vertical, como anteriormente, mas
horizontal e impessoal. É verdade que a verticalidade
sempre esteve associada à imagem de alguém: é o ícone
que preenche o lugar do poder. Mas numa sociedade
inteiramente axiomatizada, as instâncias de poder estão
dissolvidas por entre os indivíduos, o poder não tem mais
uma cara. Sua ação agora não se restringe apenas à
contenção das massas, à construção de muros dividindo
cidades, à retenção financeira para conter o consumo.
Essas são estratégias que pertencem ao passado.

Hoje, o importante parece ser essa atividade de modulação
constante dos mais diversos fluxos sociais, seja de
controle do fluxo financeiro internacional, seja de reativação
constante do consumo (marketing) para regular os
fluxos do desejo ou, não esqueçamos, da expansão ilimitada
dos fluxos de comunicação. Por outro lado, da mesma
forma que o terrorismo é uma conseqüência do terror
imposto pelo Estado, a ação não localizada dos hackers,
produzindo disfunções e rupturas nas redes, parece ser o
efeito que corresponde adequadamente aos novos modos
de atuação do poder. Nenhuma forma de poder parece ser
tão sofisticada quanto aquela que regula os elementos
imateriais de uma sociedade: informação, conhecimento,
comunicação. O Estado, que era como um grande parasita
nas sociedades disciplinares, extraindo mais-valia dos
fluxos que os indivíduos faziam circular, hoje está se tornando
uma verdadeira matriz onipresente, modulando-os
continuamente segundo variáveis cada vez mais complexas.
Na sociedade de controle, estaríamos passando das
estratégias de interceptação de mensagens ao rastreamento
de padrões de comportamento...

INTERCEPTAÇÃO DE MENSAGENS:
SISTEMA ECHELON
Boa parte do sistema atual de vigilância eletrônica global
ainda é baseada na interceptação de mensagens. Esses
sistemas são a conseqüência inevitável da invenção da
rádio, e estão ligados à própria essência das telecomunicações.
Assim como o rádio possibilitou a transmissão de
mensagens para além dos continentes, do mesmo modo
permitiu que qualquer um as escutasse. Não há dúvidas
de que foi a invenção da rádio que deu uma nova importância
à criptografia, a arte e a ciência de criar códigos
secretos. Ela estaria na origem do mercado de interceptação
de sinais.

Um dos sistemas mais famosos de vigilância planetária
desenvolveu-se principalmente em decorrência dos
conflitos da Segunda Guerra Mundial. Duncan Campbell
(2001), autor de um relatório para o Parlamento Europeu
sobre o sistema Echelon, conta que durante a Segunda
Grande Guerra, enormes organizações de decodificação
pertencentes às forças aliadas, na Inglaterra e nos EUA,
leram e analisaram centenas de milhares de sinais alemães
e japoneses. Foi nesse período que entrou em funcionamento
uma rede de escuta planetária chamada Ukusa, um
acordo firmado em 1947 entre os governos dos EUA, Inglaterra,
Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Num esforço
de vigilância jamais visto, a Agência de Segurança
Nacional dos Estados Unidos – NSA, criou um sistema
global de espionagem chamado Echelon (dentro do acordo
Ukusa), que hoje tenta capturar e analisar virtualmente
todas as chamadas telefônicas e mensagens de fax, email
e telex enviadas de qualquer ponto do planeta. O
sistema Echelon é muito simples em seu desenho: estações
de interceptação de sinais em todo o mundo capturam
todo o tráfego de comunicações via satélite, microondas,
celular e fibra ótica, processando essas informações
em computadores de alta capacidade. Isso inclui
programas de reconhecimento de voz, programas de reconhecimento
de caracteres, procura por palavras-chave
e frases no dicionário Echelon, que capacitam o computador
a marcar as mensagens, gravá-las e transcrevê-las
para futuras análises.

O projeto Echelon enquadra-se numa perspectiva de
controle baseada na interceptação de sinais e de comunicação,
e na quebra de seu código para se chegar a seu
conteúdo. Trata-se, portanto, de vasculhar o conteúdo de
mensagens transmitidas por diversos meios e trocadas pelas
mais diferentes instâncias, como indivíduos, governos,
organizações internacionais, organismos privados e
comerciais.

Nos anos 40, o primeiro foco das operações do Echelon
foi a espionagem militar e diplomática. Já nos anos 60, na
esteira do crescimento do comércio internacional, a interceptação
de informações acabou incluindo os campos econômico
e científico. Só recentemente a atenção dessa rede
de vigilância planetária voltou-se para o tráfico de drogas,
a lavagem de dinheiro, o terrorismo e o crime organizado.

O governo Clinton, por exemplo, teria apoiado, em
1993, a atuação das operações de interceptação no plano
comercial. É significativa a lista apresentada por Campbell
das empresas americanas que teriam vencido concorrências
graças à intervenção do governo norte-americano e
com a ajuda de informações obtidas pela NSA (o projeto
Sivam, do Brasil, por exemplo, encontra-se entre os citados).
Já o atual governo Bush tem trabalhado incansavelmente
na interceptação de informações das redes terroristas
e do crime organizado.

Deve-se notar, no entanto, que nos últimos 15 anos a
evolução tecnológica da rede Echelon deixou de estar
adiante de seu tempo, sendo hoje alcançada pelas redes
industriais e acadêmicas com seus equipamentos de última
geração. O chamado “ciclo da informação”, composto
pela interceptação, coleta, seleção, tratamento e entrega
das mensagens relevantes aos “clientes”, que ainda é
cumprido quando se trata de transmissões em alta freqüência,
em ondas curtas, cabos submarinos, satélites de comunicação
ou Internet, agora tem dificuldades com as redes
de fibra ótica de alta capacidade e com redes de
satélites do tipo Iridium. Além disso, como afirma
Campbell (2001), “os organismos de espionagem dos sinais
reconhecem que a longa batalha contra a criptografia
civil e comercial foi perdida. Uma comunidade acadêmica
e industrial sólida está agora voltada para a criptografia
e a criptologia. Reconhecendo esse fato, os EUA liberaram
em janeiro de 2000 seu serviço de exportação de
métodos de criptografia, permitindo a cidadãos e a empresas
não-americanas comprar e utilizar produtos de codificação
potentes” (tradução do autor).

Isso significa que, de algum modo, a percepção sobre
a prática da interceptação de mensagens está mudando, e
não porque se trate apenas de aprimorar as técnicas de
criptografia, mas também de mudar a forma de abordagem
do controle. Afinal, apesar de todo o poder do projeto
Echelon e de vários outros do mesmo gênero, os ataques
terroristas continuaram passando sem interceptações
significativas. Por conta disso, atualmente, dezenas de
empresas trabalham para o Departamento de Defesa dos
EUA, muitas delas localizadas no Vale do Silício. Duas
das mais importantes são AST e The Ideas Operation, dirigidas
por antigos funcionários do alto escalão da NSA.

As duas trabalham no desenvolvimento de softwares de
filtragem, tratamento de dados, análise de fac-símiles, análise
do tráfego de informações, reconhecimento de palavras-
chave, análise por temas, sistemas de reconhecimento
de voz, etc. São empresas que possuem pleno domínio
das novas técnicas desenvolvidas para rastrear as mais
diversas ações dos indivíduos e, a partir disso, construir
padrões de comportamento.

A QUESTÃO DA VIGILÂNCIA
O projeto Echelon representa, portanto, um caso exemplar,
pois pode ser considerado o último grande descendente
dos sonhos de uma sociedade disciplinar e de sua
concepção de vigilância, sendo ao mesmo tempo o ancestral
de nossa sociedade de controle. Isso porque ele enfrentou
a transição nos sistemas de comunicação do planeta,
provocada pela revolução da informática.

Há aqui uma modificação no sentido de vigilância, que
passa da sociedade disciplinar à sociedade de controle. Na
primeira, a idéia de vigilância remetia ao confinamento e,
portanto, à situação física que caracterizava as preocupações
dessa sociedade. O problema era o movimento físico dos
indivíduos, seu deslocamento espacial. Vigiar era, basicamente,
regular os passos das pessoas, era olhar. Com a
explosão das comunicações, uma nova figura ganha força:
a vigilância das mensagens, do trânsito de comunicações.

É a época dos espiões, dos agentes secretos. Ultrapassamos
Sherlock Holmes, que seguia os índices e pistas dos
movimentos dos suspeitos, e alcançamos 007, envolvido
em tramas internacionais via satélite. Vigiar passou a
significar, sobretudo, interceptar, ouvir, interpretar.
Com a explosão da web alguma coisa está mudando.

Devido à nova forma como as informações são estruturadas,
em rede e reproduzidas em n pontos, acabamos
gerando uma nova forma de vigilância, que se preocupa
em saber de que modo essas informações estão sendo
acessadas pelos indivíduos. Parece que o mais importante
agora é a vigilância sobre a dinâmica da comunicação não
apenas entre as pessoas, mas sobretudo entre estas e as
empresas, os serviços on-line, o sistema financeiro, enfim,
todo o campo possível de circulação de mensagens. O que
parece interessar, acima de tudo, é como cada um se
movimenta no espaço informacional. Isso parece dizer
tanto ou mais sobre as pessoas do que seus movimentos
físicos ou o conteúdo de suas mensagens. A vigilância
constante sobre as trilhas que os indivíduos deixam na web,
por exemplo, tornou-se objeto de inúmeras discussões e
especulações. Afinal, quem somos nós? Para onde vamos,
o que fazemos, o que dizemos? Ou o que pensamos? O
modo como nos deslocamos por entre informações revela
muito do como pensamos, pois mostra como associamos
elementos díspares ou semelhantes.

O tracking generalizado nos chama a atenção. Há uma
espécie de vigilância disseminada no social, já que todos
podem, de certa forma, seguir os passos de todos. O controle
exercido é generalizado, multilateral. As empresas
controlam seus clientes; as ONGs controlam as empresas
e os governos; os governos controlam os cidadãos; e os
cidadãos controlam a si mesmos, já que precisam estar
atentos ao que fazem.

A BUSCA POR PADRÕES DE
COMPORTAMENTO
Como lembra o matemático e sociólogo francês Michel
Authier, “o sentido de um documento está menos nele próprio
do que nas pessoas que o consultam”.(2) Isso significa
que os vários sentidos de um documento vêm sobretudo dos
interesses de quem o consulta e que, dessa forma, no sentido
inverso, o mapeamento da afluência de grupos de usuários
a um determinado tipo de informação pode revelar muito
sobre cada indivíduo e seus pares. Estamos falando aqui da
importância da construção do perfil do usuário, termo que
com o advento da web passou a ter um significado e uso
mais amplo do que o atribuído pelos departamentos de RH.

Na Internet, não temos uma identidade, mas um perfil (3)
(Costa, 2002). Com a explosão da web, no início dos anos
90, muitos foram os sites que começaram a utilizar a declaração
do perfil de cada usuário para uma série de operações:
oferta de produtos, de notícias, de programação nos
veículos de mídia, endereçamento de perguntas, encontro
de parceiros, etc. Já na virada do milênio, o desenvolvimento
da tecnologia de agentes inteligentes permitia mapear
os perfis de usuários da web de maneira dinâmica,
acompanhando suas atividades e aprendendo sobre seus
hábitos. Essas novas ferramentas trabalham hoje não apenas
orientadas por palavras-chave, mas também relacionando
as consultas realizadas por todos os usuários em sua base
de dados. Isso é feito com a finalidade de se encontrar padrões
que possam auxiliar o próprio sistema na sua relação
com os usuários, antecipando a oferta de produtos e serviços
(Costa, 2002).

Um dos casos mais interessantes e conhecidos desse
tipo de tecnologia que funciona no ciberespaço é o que
auxilia as pessoas a selecionarem filmes, livros, programas
televisivos e shows a partir, exclusivamente, da correlação
entre os gostos pessoais de vários usuários (Maes,
1997). O site mais conhecido que possui esse tipo de agente
inteligente é o da livraria Amazon.com. Todos aqueles que
já o consultaram a procura de um título, tiveram a oportunidade
de receber como sugestão do site uma lista de quatro
a seis outros títulos que também interessaram a outras
pessoas que compraram o livro ou produto em questão.

Essa lista é produzida a partir do rastreamento feito por
um agente inteligente que constrói um perfil dinâmico da
pessoa, tendo como referência o que ela adquire através
do site (como livros, CDs, vídeos, brinquedos, etc.). Dessa
forma, é possível apresentar uma lista de sugestões ao
usuário, com base naquilo que outras pessoas de perfil
semelhante ao dele compraram. Trata-se da construção de
padrões de interesse, a partir dos quais indivíduos que
compartilham os mesmos gostos funcionam como um padrão
para indicações interessantes que podem ser cruzadas
dentro de um mesmo grupo (Costa, 2002).

Essa técnica de rastreamento das atividades dos usuários
é usada também em sites como o Abuzz.com, do New York
Times, uma comunidade virtual que funciona em torno de
perguntas e respostas enviadas por seus participantes. O
agente inteligente de Abuzz acompanha cada usuário em
suas atividades, construindo um perfil de acordo com suas
perguntas e respostas, com os temas tratados, com a
freqüência de suas ações, etc. Isso permite à ferramenta
endereçar adequadamente perguntas para aqueles que mais
se aproximam do perfil dos que podem responder.

Um outro exemplo do que está sendo dito, mas agora
fora do campo da Internet, é o da TV digital interativa. A
empresa líder no mercado mundial, OpenTV, desenvolveu
um pequeno agente inteligente que é capaz de traçar
a silhueta de uma pessoa através de sua ação cotidiana
sobre o controle remoto. Nesse caso, o agente constrói a
silhueta rastreando a ação pura e simples do telespectador
junto ao televisor. Ele atua registrando e associando várias
coisas automaticamente: os momentos em que a pessoa
assiste a TV, os programas que ela assiste e, o mais
importante, o ritmo de mudança de canais. De posse desses
dados, o agente consegue estabelecer, para uma família
usual (quatro ou cinco pessoas), os hábitos televisivos
dos adultos homens, dos adultos mulheres e das crianças.
Ou seja, ele constrói um conjunto de padrões de comportamento
a partir das ações dos próprios usuários. Isso significa
que não há nenhuma tabela a priori de padrões para
ele se orientar. Com o tempo, ele consegue reconhecer cada
um no momento mesmo em que liga a TV, e pode assim
lhe oferecer alguma sugestão (Costa, 2002).

RASTREANDO O PLANETA – O PROJETO TIA
É toda essa tecnologia que vem sendo agora incorporada
pelos mais recentes projetos que alimentam a sociedade
de controle. Um exemplo importante, e recente, é o projeto
americano TIA – Total “Terrorism” Information
Awareness, que propõe abertamente capturar a “assinaturainformação”
das pessoas. Dessa forma, o governo poderia
rastrear terroristas potenciais e criminosos envolvidos em
tipos de crimes contra o Estado de difícil detecção.4

A estratégia do projeto é rastrear indivíduos, coletando
tanta informação quanto possível e usando softwares
inteligentes e análise humana para detectar suas atividades
potenciais. O projeto está investindo no desenvolvimento
de uma tecnologia revolucionária para a armazenagem
de uma quantidade enorme de todo tipo de fonte
de informação, associando essas múltiplas fontes para criar
um “grande banco de dados, virtual e centralizado”. A
diferença aqui é que essa grande memória seria alimentada
a partir das transações contidas em diversos bancos de
dados, tais como os registros financeiros, registros médicos,
registros de comunicação, registros de viagens, etc.

É com esse material que o rastreamento das informações
será possível, e com ele a construção de padrões e associações
entre os dados. O reconhecimento de padrões está
diretamente ligado à mudança nos métodos de controle
das ações individuais.

Ora, aquilo que na web é a construção de um perfil dinâmico
de usuários com fins comerciais, que serve para
alimentar a sociedade de controle light do marketing, agora
no TIA passa a ser a construção do perfil total, que será o
resultado do cruzamento das ligações telefônicas de um
indivíduo (sua origem, destino, data e duração), as despesas
efetuadas em cartões de crédito (quanto, onde, quando)
e, a partir destas, as operações comerciais mais diversas.

O que o projeto almeja, com esse esforço, é a produção
de uma visão dos padrões de comportamento de amostras
da população. O objetivo básico do projeto é auxiliar analistas
a compreender e mesmo prever uma ação futura, no
caso uma ação terrorista. Mas o mais importante é que,
diferentemente da estratégia de interceptação de mensagens
que já conhecemos no Echelon, onde o que se procura
de forma direta são conteúdos específicos associados
a pessoas específicas, no TIA o processo seria em
princípio indireto, pois é pelo negativo dos padrões que
se intercepta um comportamento suspeito. E com a implantação
de um tal projeto, chegamos definitivamente na
modulação contínua da sociedade de controle de que nos
fala Deleuze, pois deixamos de olhar para as informações
como associadas a indivíduos, e sim como relacionadas
entre si dentro de um quadro maior. É justamente essa
amostra ou conjunto de dados que deve ser modulado.

DA IDENTIDADE AO CÓDIGO
Quando assinamos um documento, um cheque, estamos
imprimindo ali nossa identidade. A assinatura, historicamente,
sempre foi o signo maior da identidade pessoal. O
CPF, que é o número de registro numa massa, assegura ao
indivíduo seu estatuto de existente regulamentado. Com a
sociedade de controle, a assinatura é posta em dúvida, deve
ser verificada, e o CPF é usado para checar seus movimentos
financeiros. Mas o controle inventa ainda seus
próprios dispositivos: o código e a senha no lugar da assinatura.

A diferença é que a assinatura é produzida pelo
indivíduo, e o código é produzido pelo sistema, para o
indivíduo: é dito intransferível, pois, dado que foi feito
por você, como sua marca própria e singular, pode ser
passado a outro. É interessante notar que, enquanto nos
cartões de crédito, a operação de débito automático requer
o uso de senha, a operação de crédito, pelo menos
por enquanto, requer a assinatura (além do número do
cartão). A senha é checada na hora porque estamos
acessando o sistema, ao passo que a operação de crédito é
realizada apenas posteriormente. Acontece que, muitas
vezes, mesmo sem motivo aparente, sua senha é recusada!

Não há nada a fazer, você não é mais você para aquela
operação, mesmo que continue sendo você para pagar
de outra forma. Você é você para algumas coisas, e não é
você para outras... porque sua senha num sistema não foi
aceita. Esse é o conceito de modulação universal de que
nos fala Deleuze, onde o indivíduo passa a ser divisível,
ora podendo, ora não podendo. Na verdade, a modulação
ocorre sobre um conjunto ou grupo de códigos, o indivíduo
podendo ou não ter acesso a um serviço liberado pelo
sistema (overbooking, rodízio de carros, sistema pay-perview,
acesso a provedor...).

Também do ponto de vista da geografia, o código vem
substituindo gradativamente a identidade. As noções de
identidade e corpo físico sempre estiveram associadas uma
a outra. Com o advento do espaço urbano partilhado administrativo,
há a emergência de um duplo do corpo: o
sistema numérico que nos identifica. Assim, o telefone, o
cartão de crédito, o número da previdência, etc. permitem,
cada vez mais, expandir ou restringir nossa mobilidade
no espaço físico. Hoje já temos a clareza de estarmos
vivendo sob um novo conceito: o de ser humano em
rede (Boullier, 2000).

Numa sociedade disciplinar, atrelada ao espaço físico,
um indivíduo era referenciado por seu endereço postal,
que remetia a um lugar físico que não era mais que um
ponto numa rede geográfica de longa duração. Hoje, um
habitante se define como inscrito numa rede variável, onde
a prova de domicílio não é mais o título de propriedade
ou o pagamento de aluguel, mas a fatura de água, de eletricidade
ou gás, de telefone, etc. É nossa inscrição nessas
redes, nosso estatuto de consumidor de fluxos técnicos
que serve como prova jurídica de nosso pertencimento
espacial (Boullier, 2000). Somos humanamente definidos
como membros de múltiplas redes.

As redes sociotécnicas são muitas: água, transportes,
comércio, telecomunicação, telefonia, comunicação, TV,
jornal, computação, web, portáteis. Estamos dentro de
muitas redes simultaneamente e permanentemente. Always
on and everywhere (Rheingold, 2002). Na cidade digital,
em casa ou no trabalho, pelo fato de essas redes estarem
interconectadas, podemos acessar múltiplos serviços sem
a necessidade de nos deslocarmos. Temos entrega de produtos,
pagamentos tipo homebanking, serviços públicos,
trabalho e muitas outras coisas possíveis pelo fato de que
a cidade está digitalizada. Por outro lado, em trânsito, temos
acesso à cidade digital via cartões multiserviços, terminais
eletrônicos, aparelhos portáteis. Uma nova lógica,
portanto, está em curso, no que diz respeito aos deslocamentos
e acessos.

Não esqueçamos, no entanto, que essa ubiqüidade dos
seres só é possível por causa do dinheiro eletrônico. Ele
representa mais uma mutação do capitalismo, pois se o
dinheiro papel é caro e sem controle em sua circulação, o
dinheiro eletrônico, além de reduzir os custos, acaba gerando
mais controle sobre os indivíduos e a circulação do
capital. O papel moeda é anônimo, o dinheiro eletrônico
não. É o caso do imposto CPMF criado no Brasil, através
do qual é possível controlar toda a circulação financeira
digital do país.

Outro aspecto fundamental da modulação na geografia
é o monitoramento da localização de portáteis. Isso já é
uma realidade para usuários de celulares ou palms. Eles
funcionam através do sistema GPS – Global Positioning
System e de redes celulares.5 Segundo Pfeiffer (2003) “os
consumidores terão à sua disposição um conjunto de
tecnologias trabalhando juntas para assegurar que alguém
ou alguma rede sempre saiba onde você está, o que você
está procurando e aonde você precisa chegar”. Pense nisso,
diz ele, “como um Big Brother consentido – um irmão mais
velho com bom senso de direção”. Em princípio, essa
localização funcionaria para que os usuários pudessem
solicitar serviços diversos, como o restaurante mais
próximo, cinemas, estações de metrô, mapas e informações
sobre a área em que se encontra. O serviço de emergência,
911, já teria inclusive uma lei de obrigatoriedade de
localização automática, para facilitar a chegada de socorro.

Mas os usuários podem também optar por receber
mensagens de marketing. Com isso, estando numa área
próxima a um certo comerciante, é possível receber uma
promoção exclusiva, personalizada, pelo simples fato do
usuário se encontrar próximo do ponto de venda.
Bem, se somarmos a isso todos os sistemas de vigilância
por câmeras, disponíveis para os departamentos de
trânsito, estaremos finalmente desembarcando no mundo
de Minority Report, onde a grande questão não é simplesmente
antecipar os crimes do futuro, mas estabelecer essa
modulação contínua, no presente, de todos os comportamentos,
com os indivíduos não sendo mais que pontos
localizáveis numa série de redes que se entrecruzam. Assim,
só resta aos usuários controlar todo o tempo as informações
pessoalmente identificáveis que eles estão fornecendo
ao sistema continuamente. Como nos alerta Deleuze
(1990), “diante das próximas formas de controle incessante
em meio aberto, é possível que os mais rígidos sistemas
de clausura nos pareçam pertencer a um passado
delicioso e agrádavel”.


NOTAS
1. Pierre Lévy (2002) é um dos que mais defende essa posição, de que
a transparência da web seria uma forma de resistência ao poder.
2. Michel Authier é conhecido por seus trabalhos filosóficos com Pierre
Lévy e também por seus estudos matemáticos, sobretudo pela invenção
do algoritmo do mecanismo de busca por proximidade chamado
Umap e das Árvores de Conhecimentos.
3. Tracking de cookie ou número IP - Internet Protocol.
4. Ver dois sites importantes para informações sobre as ações de controle
dos EUA: e
profiling/tia/>.
5. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos lançou o GPS em
1978 para possibilitar o bombardeio com armas de precisão.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOULLIER, D. Processeur et réseau: les nouveaux formats de l’être
urbain. In: SANDOVAL, V. (Org.). La Ville Numérique. Paris:
Hermes, 2000. p.171-190.
CAMPBELL, D. Surveillance Electronique Planetaire. Paris: Allia,
2001.
COSTA, R. A cultura digital. São Paulo: Publifolha, 2002. (Coleção
Folha Explica).
DELEUZE, G. Pourparlers. Paris: Les Éditions de Minuit, 1990.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.
HARDT, M. La société mondiale de contrôle. In: ALLIEZ, E. (Org.).
Gilles Deleuze, une vie philosophique. Paris: Synthélabo, 1998.
p.359-376.
LESSIG, L. Code and other laws of cyberspace. New York: Perseus,
1999.
LÉVY, P. Cyberdemocratie. Paris: Odile Jacob, 2002.
MAES, P. Agents that reduce work and information overload. In:
BRADSHAW, J. Software Agents. Cambridge, MA: MIT Press,
1997.
PFEIFFER, E. Technology review. Folha de S.Paulo, São Paulo, 22
out. 2003. Folha Informática.
RHEINGOLD, H. SmartMobs. The Next Social Revolution. Cambridge,
MA: Perseus, 2002.
SHAPIRO, A.L. The Control Revolution. New York: Public Affairs,
1999.
TIA. Electronic Privacy Information Center. Disponível em:
.

ROGÉRIO DA COSTA: Filósofo, Professor na Pós-Graduação em Comunicação
e Semiótica da PUC-SP, Coordenador do Laboratório de Inteligência
Coletiva (rogcosta@pucsp.br, www.pucsp.br/linc).

Um exercício em auto-indulgência, ou sobre o Autoperdão, por Hammed





Autoperdão

"Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo..."

"...porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por uma ofensa leve, como quereis que Deus esqueça que, cada dia, tendes maior necessidade de indulgência?..."
(O Evangelho segundo o Espiritismo - Cap. X, Item 15)

Nossas reações perante a vida não acontecem em função apenas dos estímulos ou dos acontecimentos exteriores, mas também e sobretudo de como percebemos e julgamos interiormente esses mesmos estímulos e acontecimentos. 

Em verdade, captamos a realidade dos fatos com nossas mais íntimas percepções, desencadeando, conseqüentemente, peculiares emoções, que serão as bases de nossas condutas e reações comportamentais no futuro.
Portanto, nossa forma de avaliar e de reagir e, as atitudes que tomamos em relação aos outros,conceituando-os como bons ou maus, é determinada por um sistema de autocensura que se encontra estruturado em nossos "níveis de consciência" mais profundos.

Toda e qualquer postura que assumimos na vida se prende à maneira de como olhamos o mundo fora e dentro de nós, a qual pode nos levar a uma sensação íntima de realização ou de frustração, de contentamento ou de culpa, de perdão ou de punição, de acordo com o código moral" modelado na intimidade de nosso psiquismo.

Este "julgador interno" foi formado sobre as bases de conceitos que acumulamos nos tempos passados das vidas incontáveis, também com os pais atuais, com os ensinamentos de professores, com líderes religiosos, com o médico da família, com as autoridades políticas de expressão, com a sociedade enfim.

Também, de forma sutil e quase inconsciente, no contato com informações, ordens, histórias, superstições, preconceitos e tradições assimilados dos adultos com quem convivemos em longos períodos de nossa vida. Portanto, ele, o julgador interno, nem sempre condiz com a realidade perfeita das coisas.
Essa "consciência crítica", que julga e cataloga nossos feitos, auto-censurando ou auto-aprovando, influencia a criatura a agir do mesmo modo que os adultos agiram sobre ela quando criança, punindo-a, quando não se comportava da maneira como aprendeu a ser justa e correta; ou dando toda uma sensação de aprovação e reconforto, quando ela agia dentro das propostas que assimilou como sendo certas e decentes.

A gênese do não perdão a si mesmo está baseado no tipo de informação ou mensagem que acumulamos através de diversas fases de evolução de nossa existência de almas imortais.
Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade de acordo com os nossos valores, crenças, normas e regras, vigentes, podendo variar de indivíduo para indivíduo, conforme seu país, sexo, raça, classe social, formação familiar e fé religiosa. Entendemos assim que, para atingir o autoperdão, é necessário que reexaminemos nossas convicções profundas sobre a natureza do nosso próprio ser, estudando as leis da Vida Superior, bem como as raízes da educação que recebemos na infância, nesta existência.

Uma das grandes fontes de auto-agressão vem da busca apressada de perfeição absoluta, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um momento para o outro. Aliás, a exigência de perfeição é considerada a pior inimiga da criação, pois a leva a uma constante hostilidade contra si mesma, exigindo-lhes capacidades e habilidades que ela ainda não possui.
Se padrões muito severo de censura foram estabelecidos por pais perfeccionistas à criança, ou se lhe foi imposto um senso de justiça implacável, entre regulamentos disciplinadores e rígidos, provavelmente ela se tornará um adulto inflexível e irredutível para com os outros e para consigo mesmo.

Quando sempre esperamos perfeição em tudo e confrontamos o lado "inadequado" de nossa natureza humana, nos sentiremos fatalmente diminuídos e envolvidos por uma aura de fracasso.Não tomar consciência de nossas limitações é como se admitíssemos que os outros e nós mesmos devêssemos ser oniscientes e todo-poderosos. Afirmam as pessoas: "Recrimino-me por ter sido tão ingênuo naquela situação..."; "Tenho raiva de mim mesmo por ter aceitado tão facilmente aquelas mentiras..."; "Deveria ter previsto estes problemas atuais"; "Não consigo perdoar-me, pois pensei que ele mudaria...". São maneiras de expressarmos nossa culpa e o não-perdão a nós mesmos – exigências desmedidas atribuídas às pessoas perfeccionistas.

A desestima a nós próprios nasce quando não nos aceitamos como somos. Somente auto-aceitação nos leva a sentir plena segurança ante os fatos e ocorrências do cotidiano, ainda que os indivíduos ao nosso redor não entendam nossas melhores intenções.
O perdão concede a paz de espírito, mas essa concessão nos escapará da alma se estivermos presos ao desejo de dirigir os passos de alguém, não respeitando o seu propósito de viver.

Devemos compreender que cada um de nós cumprindo um destino só seu, e que as atividades e modos das outras pessoas ajustam-se somente a elas mesmas. Estabelecer padrões de comportamento e modelos idealizados para os nossos semelhantes é puro desrespeito e imcompreensão ante o mecanismo da evolução espiritual. Admitir e aceitar os outros como eles são nos permite que eles nos admitam e nos aceitem como somos.

Perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos – o pré-requisito para alcançarmos a plenitude do "bem-viver".

Perdoar-nos é não importar-nos com o que fomos, pois a renovação está no instante presente; o que importa é como somos hoje e qual é a nossa determinação de buscar nosso progresso espiritual.

Perdoar-nos é conviver com a mais nítida realidade, não se distraindo com ilusões de que os outros e nós mesmos "deveríamos ser" algo que imaginamos ou fantasiamos.
Perdoar-nos é compreender que os que nos cercam são reflexos de nós mesmos, criações nossas que materializamos com pensamentos e convicções íntimas.

O texto em estudo – "Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo" – quer dizer: enquanto não nos libertarmos da necessidade de castigar e punir o próximo, não estaremos recebendo a dádiva da compreensão para o autoperdão.
Adaptando o excerto do apóstolo Paulo às nossas vidas, perguntamo-nos:"...porque se sois duros, exigentes, inflexíveis, se tendes rigor mesmo por uma ofensa leve...", como haveremos de criar oportunidades novas para que o "Divino Processo da Vida" nos fecunde a alma com a plenitude do Amor e, assim, possamos perdoar-nos?
Hammed

Livro: Renovando Atitudes
Editora: Boa Nova
Médium: Francisco do Espírito Santo Neto



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Aqui as guitarras conversam
e expressam suas opiniões
sobre a importância desse
exercício de auto-indulgência,
o perdão que precisamos
aprender a dar a nós mesmos.

Não para fugir de sentimentos
de culpa; nem para racionalizar
falhas e justificá-las.

Mas para aprendermos com nossos
erros e imperfeições, sabendo-os
repetitivos e reincidentes.

Sabendo que, na intimidade
do nosso aprimoramento, só
não repetimos... quando realmente
aprendemos, e, mesmo assim,
isto é incerto e instável.
Não há garantias absolutas.


Rush: La villa Strangiato
- An Exercise in Self-Indulgence -




16 setembro, 2010

Teatro: A Máquina de Abraçar, ou sobre um devir autista




Uma peça absolutamente extraordinária: excelente, 
do início ao fim (fim? - Não! Porque ela continua em nós depois que deixamos o espetáculo 
- ESPETÁCULO - cheios de indagações, inquietos e vivos, cheios de uma nova vitalidade expressiva, contaminados, contagiados que ficamos frente aos multiplos platôs que nos lança. Alça! 

A Máquina de Abraçar é um analisador, um dispositivo - Máquina de Guerra - um conjunto 
disruptor que coloca em cheque não só o próprio teatro, como arte e expressão (de expressão), 
mas sua linguagem e operacionalização; coloca, também, 
em "crise" as práticas e os modos de funcionamento da linguagem, 
do silêncio, da Psicoterapia, da apresentação de trabalhos 
em Congressos, do Autismo como síndrome e/ou diagnóstico, bem como 
a política e os políticos "donos do mundo".

Multifacetada, policromática, a peça é uma 
AULA de Esquizoanálise e Filosofia da 
Diferença, nos jogando numa corrente de devires micropolíticos: fluxo de intensidades 
que rompe identidades e papéis esterotipados e "seguros" nos modos operandis instituidos.
O poder e os usos que dele se faz - e fazem - estão na pauta TODO O TEMPO em que as duas atrizes, excelentes, contracenam: estupendo.
Das melhores coisas que já vi e assisti até hoje 
(sem exageros!).

Como me atravessou essa peça?
Antes mesmo de iniciar, abateu-se sobre mim uma irritação: o atraso, que não sei se foi 
proposital e intencional - ou não. Cerca de quinze minutos, com as pessoas esperando em 
fila, feito porquinhos da Índia, com o teatro AINDA fechado quando já estava na hora de TER 
iniciado a peça. Pensei na institucionalização do atraso, 
tão em voga aqui no Brasil, onde "tudo" começa atrasado.

Depois, foi surpreendido pela entrada, vinda diretamente do local de acesso da platéia, 
para um palco já iluminado e vazio, da atriz que faz a médica psicoterapeuta.
O estranhamento continua quando ela se refere a nós, o público, como se fôssemos 
profissionais num congresso de medicina, psiquiatria, para, logo depois, também, 
desconstruir essa idéia, nos colocando no lugar de público leigo e diferenciado, já que 
suas práticas profissionais seriam tão heterodoxas a ponto de fazer correr e tirar 
"do Congresso" a maioria dos ditos profissionais, 
chocados que estariam, com as provas e revelações que ela estaria fazendo ou por fazer..

Já aí começa uma crescente 
desinstitucionalização dos lugares, saberes e modos de perceber e sentir. Rompe-se a 
linearidade e somos jogados para dentro do palco, de nós mesmos e  da própria peça em si,
 e somos convidados a nos des-reconhecemos como espectadores...

Logo no início, também, ela institui o TEMPO como uma marca que continuaria ao longo de 
todo o ESPETÁCULO. Tempo de afetos. Tempo de relógio cronometrado, já que anuncia a 
entrada da pessoa portadora de Autismo dentro de 22 minutos, tempo esse quebrado (já que 
sua paciente, que faria um relato - sim, uma Autista que rompeu com o silêncio - e com a 
escuridão rumo as luzes e luminosidades... numa longa viagem - e passou a usar da 
palavra para se comunicar... ). 
Tempo indizível. Tempo de duração elástico. 
Tempo de falas, de silêncios, de vínculos, de tropeços, de,  
de ... de...

A mim, que sou "da área", psicoterapeuta e que possuo práticas heterodoxas, não causou 
espanto ela se referir à sua paciente como "paciente e amiga". Aqui no blog tem vários 
artigos, textos e citações que se referem à noção Foucaultiana de "amizade como modo de 
vida"...  pelo contrário: convidou-me, ainda mais, a abrir os olhos (o coração e as 
sensações) e esticar as orelhas!

Nessa peça circulam muitos devires: animal, planta, atômico, homossexual, 
mulher, literatura, comunicacional, terrorista... só para citar alguns...  

Na sociedade de controle e de consumo, onde os desejos 
são criados maquinicamente - produção de subjetividade, de Feliz Guattari -
e se confundem com o sujeito desejante através do consumo de palavras, formas de expressão, 
mercadorias, maneiras de amar, viver, comer, comprar, escutar, 
obter serviços profissionais... etc, etc, etc e tal, esse Texto da peça
joga uma bomba de singularidade 
e convida incessantemente a pensar e acreditar que 
Outros Mundos SÃO POSSÍVEIS  nesse nosso mundo.
Não só pensar e acreditar: fazer!

Um devir autista, em nós?

Não vou me estender mais. Essa peça É PARA 
SER VISTA, ouvida, sentida, percebida... 
acolhida, guardada...

Abaixo os links para o site onde encontramos 
entrevistas com as atrizes (e diretora) 
falando sobre as personagens e sobre todo o 
processo de confecção da peça.
Uma peça indiscutivelmente estudada e criada 
de forma artesal e singular.

Nas entrevista, elas põem em evidência algumas tópicos:

- o Autismo como mistério, desconhecido das ciências, neurociências...
O estranhamento inicial... será QUE É uma 
peça de teatro... uma palestra?

- A oposição das personagens, sua 
duplicidade : A autista com ausência do desejo, da 
comunicação... associada às plantas, ao jardim, 
à imobilidade e ao silêncio...

A médica associada ao animal... a 
predadora... caçadora, quer capturar o público... demasiado humana
quer ser reconhecida pelo poder instituido ao 
mesmo tempo em que o questiona ferrenhamente. 

"... diálogo de poderes e soberanias..."
Marina Vianna (Atriz que faz a médica)

- A palavra,  seu lugar... o silêncio...
a não produção da metáfora... pelo Autista
O mistério do tempo diferente...
Não há causa e efeito... relações de tempo esticadas... tempo não linear...
a duração do tempo é... outra...

- A antropofagia... devorar, comer, engolir, alimentar-se...

"Mágico... quase um milagre!"
Mariana Lima  (A atriz que faz a Autista)

Os links:




15 setembro, 2010

Apego. Apego? Eu pego!





Namaste





Apego

Essa calma que me invade
Essa paz que inalo
Essa tranquilidade 
que expiro

Frequentemente me abandonam

Mesmo as querendo duradouras,
sei que são fugazes momentos
de eternidade!

Apego? 



Eu pego.
As pego.

(Cesar R K )


13 setembro, 2010

Vende-se, por Nelcí de Abdala





Vende-se

Vende-se uma cama de casal
tamanho normal
ou troca-se por uma cama de solteiro;
ainda vai de brinde um travesseiro
e uma colcha rendada,
que está um pouco amassada
e só traz recordação.
Motivo: separação

Nelcí de Abdala