Dueto Quadrante para Um Fauno Metade em mim é curva A outra metade é reta Não o que se mede Nem o que escapa ou perde É a metade correta Do ponto que se reflete. Metade em mim é terra a outra metade é mar. Não por onde se navega Ou se colhe desventura O caminho que me profana É o destino que se aventura. Metade em mim é labirinto A outra metade é encontro. Não o que se nega no espelho Nem na face se escreve A linha que se desfia No mesmo rumo se tece. Metade em mim é palavra Que se completa com o silêncio. A pedra é o que se define O verbo só se revela Não por acaso ou sorte De quem persegue ou apela. Metade de mim se perdeu A outra metade não conta. Não por desejo ou claridade O fogo da noite é tormenta toda alma tem a idade Do corpo que se inventa. Metade em mim se comove A outra metade é atenta. Não que a mão traga pronta a sina de cada verso Embora a rima esconda O metro do universo. Ubirajara Mello de Almeida ........................................ Metade em mim é flor A outra metade é dor Não o que se sente Nem o que faz chorar ou rir É a metade ferida Que ainda me faz sorrir. Metade de mim é aço A outra é chão Não por onde se trabalha Ou se é reconhecido A metade que me inflama É a sorte da paixão Metade de mim é espelho A outra metade é imagem Não o que se nega no espectro Nem na sorte lançada A via que se caminha É teia embaraçada. Metade de mim é silêncio Que se completa com poesia O livro que o define Só a letra revela Pelo desejo da família Que se cumpre na elegia. Metade de mim encontrei A outra metade me amedronta Não por querer ou vontade A luz da noite é amena Todo tempo que passa Deixa uma saudade pequena. Metade de mim voa a outra metade é lenta Não que Hermes interrompa A viagem em cada passo Embora as asas ligeiras Correm e não deixam rastro. Jandira Mello de Almeida Cahet Metade de mim é lógica A outra metade é emoção Não o que se vasculha Nem o que me invade É a metade incontrolável Que dá razão à sensibilidade. Metade de mim é terra A outra metade é pântano Não por onde se desfaleça Ou se caia e feneça É onde o medo aparece E o desafio enternece. Metade de mim é razão A outra metade é sentimento Não o que se nega à entrega Nem que vive só de momento É a forma de conhecer Que se tece sem lamento. Metade de mim é discurso Que se completa com ação O silencio que os define É oriundo da reflexão, o autoconhecimento que provoca o pensamento. Metade de mim é asa A outra metade é raiz Não por desejo e nem mesmo por contradição Cada um é uma casa Onde habita o coração. Metade de mim se encanta A outra metade se cansa Não que a vida seja mansa Basta caminhar como criança Embora o escrito não precise fiança, O tamanho dos feitos é que o alcança. Metade de mim é paz A outra metade erupção Minha alma é grande e tudo faz E busca a comunhão Mas quando dela se desfaz Fica em ponto de ebulição. Metade de mim é Natal A outra metade, ano novo Um desejo de permanência, Lindo como cristal, Mesclado com a imanência De alcançar outro manancial. Metade de mim é diamante A outra metade é cascalho Como pode o pretenso amante Ser lapidado de um só talho? Metade de mim gostou A outra metade quer mais Desse escrito que terminou Mas que já soa como demais Cesar Ricardo Koefender |
JORGE DE LIMA (1895-1953)
-
E tudo haveria de ser assim, para contemplar-te sereno, ó morte,
e integrar-me nos teus mistérios e nos teus milagres.
Agora vejo os Lázaros levantarem-se
e...
Nenhum comentário:
Postar um comentário