13 maio, 2011

Fluir... em Osho, Duna e nas conversas entre iniciados






 "Seu conceito pessoal de sanidade 
vinha daqueles tempos. 
A capacidade de equilibrar-se em mares estranhos. 

A capacidade de manter seu eu mais 
profundo, apesar das ondas
inesperadas."

"No íntimo, sou feliz comigo mesma. Não 
me importo de estar só." Não que alguma
Reverenda Madre estivesse alguma vez só, 
verdadeiramente, depois que a agonia da
especiaria a tivesse inundado 
com Outras Memórias.

"Flutuo, logo sou."

(Darwi Odrade, em
As Herdeiras de Duna)

.......................

- Se você flui é incompreendido.

- Como assim?

- Fluir é não ser!

- Pronto. Está em crise!

- Não. Já saí dela. Ou melhor: sai da crise
que quiseram me imputar!

- Quem tentou fazer isso?

- Todos.

- Como todos?

-Todos os que esperam constância, 
coerência o tempo todo. Todos os
que desejam respostas iguais para
perguntas repetidas ou novas 
perguntas. Todos que querem e
esperam controlar você com as 
demandas que lhe lançam e com
as perguntas e respostas mentais 
que criam nos seus diálogos fictícios
e que tomam como 'o real'. Ficam à 
espera de que aconteça tal como 
imaginaram: querem certezas!

- A vida é incerta e seus 
acontecimentos também.

- Você VIVE isso ou discursa?

- Vai ficar me incomodando, agora?
Lançando seus desafios de "regente
da própria vida e do universo pessoal, 
onde se criam mundos dentro de mundos, 
dentro de mundos, dentro de mundos"?

- Você gosta de provocar.

- E você de ser provocado!

- Certo. Gostamos de ambos.

- Sim. 

- Mas, me responda: Vive 
ou discursa?

- Ambos. Nem só um, nem só outro.
Não é possível estar 'ligado' o tempo todo.

-  Claro. Então, voltando... ao que interessa:

- Tudo interessa!

- Não me interrompa.

- Siga.

- Eu dizia: "Fluir é não ser". E você chamou
isso de crise!

- Estava brincando. A incompreensão é
decorrente da desinformação, da falta de
vontade e/ou da teimosia vingativa.

- Essa foi boa. Vou anotar nos meus anais.

- Vai trocar de lugar comigo agora?

- Não. Que falta de senso de humor...

- Não é nada disso e, para provar, vou
lhe contar uma historinha Zen que o Mestre
nos contou ontem. Ele disse que era de um
outro homem considerado como Mestre. O 
nome dele é Osho.

- Sim, o das belas roupas e bom gosto. Eu usaria
todas aquelas túnicas bordadas e longas... 
nada convencionais.

- Excêntrico?

- Ele ou eu?

- Não vou responder.
Ouça a histórinha.

- Ok. Fala!

- Assim:


"Existe uma história zen: havia dois mosteiros vizinhos, l
ado a lado. Ambos os mestres serviam-se de alguns meninos 
pequenos para resolver pequenos assuntos. Os meninos iam 
ao mercado buscar coisas para seus mestres, às vezes legumes, 
às vezes outras coisas. Os mosteiros eram antagônicos entre si, 
mas as vezes os meninos agiam apenas como meninos: 
eles esqueciam das doutrinas e se encontravam no caminho, 
conversavam e divertiam-se. Isto era proibido: eles não deveriam 
conversar, porque o outro mosteiro era o inimigo.

Um dia, o menino que pertencia ao primeiro mosteiro veio e disse: 
"Eu estou confuso. Quando ia para o mercado, eu vi o menino 
de outro mosteiro e perguntei: "Aonde você vai?", e ele respondeu: 
"Para onde quer que o vento sopre"; e eu fiquei perdido, sem saber 
o que dizer. Ele criou um quebra-cabeça para mim".

O mestre disse: "Isso não é bom. Ninguém do nosso mosteiro jamais 
foi derrotado por alguém do outro mosteiro, nem mesmo um criado. 
Você tem que pegar aquele menino. Amanhã pergunte novamente: 
"Aonde você vai?, e ele responderá: "Para aonde quer que o vento 
sopre"; então você diz: "E se não houver nenhum vento, então ...?".

O menino não conseguiu dormir a noite inteira. Tentou e tentou conceber 
o que aconteceria no dia seguinte; ele ensaiou muitas vezes. 
Ele perguntaria e o outro menino responderia, e ele daria a sua 
nova resposta.

No dia seguinte, ele esperou no caminho. O menino do mosteiro vizinho 
chegou, e ele perguntou-lhe: "Aonde você vai?"

O menino respondeu: "Para onde quer que os meus pés me levem".

E lá estava ele perdido sobre o que fazer. A resposta era categórica, 
e a realidade era imprevisível. Ele voltou muito tristee disse ao mestre: 
"Aquele menino não é confiável. Ele mudou e eu fiquei perdido sobre 
o que fazer".

Então o mestre disse: "Amanhã, quando ele disser: "Aonde quer que 
os meus pés me levem", você diz: "E se você for aleijado e não tiver 
pernas, então ...?".

Novamente ele não conseguiu dormir. No dia seguinte, foi esperá-lo bem 
cedo na estrada, e quando  menino chegou, ele perguntou: "Aonde você vai?". 
E o menino respondeu: "Vou buscar legumes no mercado".

Ele voltou muito transtornado e disse ao mestre: "Aquele menino é impossivel: 
ele contnua mudando".

A vida é aquele menino. Continua mudando. A realidade não é um fenômeno 
fixo. Você tem que estar presente, espontaneamente para ela, só então a 
resposta será real. Se sua resposta é definida previamente, então você já 
está morto, você já perdeu. O amanhã virá, mas você não estará lá; você 
estará preso dentro do ontem, aquilo que é o passado.

Lembre-se, a vida é sempre incerta. Tudo o que é morto é certo, a vida é 
sempre incerta. Tudo que é morto é sólido, rígido; sua natureza não pode 
ser mudada. Tudo que é vivo está mudando, movendo-se; é um fluxo, uma 
coisa líquida, flexível; pode voltar-se para qualquer direção. Quanto mais 
você adquire certezas, mais você perderá vida. E esses que sabem, sabem 
que a vida é Deus. Se você perder vida, você perde a Deus".
(Raízes e Asas -Osho fala sobre o Zen )

(De "Conversas entre iniciados do grau 7 - verde)





4 comentários:

Kátia disse...

Eu vibro com essas conversas do mago. Vibro, mesmo!

Osho, você, o mago e os aprendizes dele acionaram, hoje pela manhã, todas as válvulas dos meus pensamentos, inclusive e principalmente as entupidas, hahahahahahahahaha. Verdade! Passei o dia, entre as coisas que fiz, navegando no vai-e-vem do meu 'rio subterrâneo', como diz Fernado Pessoa.

Sim, o mundo é mutável, incerto... e a gente também. Tudo que tem vida muda. Mas nossa fragilidade, nossa pequenez diante desta inconstância, nos faz sentir, algumas vezes, ameaçados. As coisas acontecem rapidamente e nos surpreende. Há horas em que é tão difícil administrar isso... De uma forma ou de outra, por vezes a passos de tartaruga,nos livramos dessa suposta impotência. Cada um tem seu 'timing', não é mesmo?

Agora, essa cobrança que nos fazem é devido aos exageros nas expectativas criadas. Não criar expectativas nessa vida é inevitável. Acho até que muitas vezes ela nos motiva em vários sentidos. Condeno a overdose. É preciso aprender a dosar as expectativas, senão haja decepção!

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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Acho que sim, Kátia. O timing de cada um é singular, mas... as tentativas de superar esse tempo-espaço... se dão pela repetição, insistência, tenacidade e experimentação para diminuir tempos... as vezes funciona bem.

Penso que diminuir ao máximo a criação de expectativas é condição para lidar com essas coisas (e outras mais), o que não quer dizer... evitar os sonhos.
Sonhos são uma coisa. Expectativas pré-definidas, são outra.

Pensei em juntar Morin no post, mas achei que ia ser muita coisa e, além do mais (e principalmente isso) não tenho os textos no pc.

Morin, o papa da incerteza, contribuiria muito... mas, well... já tem outros post dele falando sobre isso e... enfim.

Acho que as cobranças tem a ver com a necessidade de DEFINIÇAÕ que a maioria das pessoas tem... mais do que com as expectativas que criam, embora essas últimas, contribuem - e muito - com as primeiras para complicar esse estados das coisas que você citou no seu comentário.

Kátia disse...

Morin... Já sou uma apaixonada por ele. Sabia disso?

Isso mesmo: não se pode confundir sonhos com expectativas. Aiiiiiiiiiiii, que mente ágil, que intelecto aguçado o seu. Hahahahahah, uma das coisas que gosto muito em você é colocar as palavras certas naquilo que penso ---> A tal dosagem que citei de forma meia confusa.

O excesso de expectativa não dá margem ao inesperado, não deixa fluir a leveza da espotaneidade nem deslanchar o que está travado. Horrível! Precisamos de movimento, mudança... Manter o freio de mão puxado por algum tempo pode indicar a lerdeza do timing pessoal, o respeito a si mesmo (?) e a possibilidade de uma reorganização emocional. Mas... taí uma lição: "as tentativas de superar esse tempo-espaço... se dão pela repetição, insistência, tenacidade e experimentação para diminuir tempos... as vezes funciona bem." Nunca saio daqui com as mãos abanando.

Só mais uma coisinha: algumas cobraças sempre sufocam. São chatas e provocam muito distúrbio na comunicação quando parece que falta paciência e sobra ansiedade no outro. Ora, mas faz parte convivermos com momentos ruins, com dias insonssos, com os defeitos dos outros e com os nossos. Não querer tanta perfeição pode ser uma flexibilização interessante, não acha?

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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Apaixonada por ele, sim, desconfiava.
Confirmou.
Freio de mão puxado: importante para desobstruir canais mentais, afetivos e racionais em excesso (por exemplo) entupidos... daí sim..."o respeito a si mesmo a possibilidade de uma reorganização emocional... e das ações a seguir...

Acho que a um redimencionamento das aparências e desejos de perfeição é uma flexibilização importante para a "correção do equilíbrio".

Mas os momentos ruins são parte da vida, no sentido de que tem coisas que não podemos evitar... e são por assim dizer... superiores a nós... mas as chatices de cada um sem desejo de mudança (dos envolvidos)... é meio difícil der suportar por muito tempo: tipo... imagina sempre aquelas perguntas... onde você vai, fazer o quê...
Ou... as explicações feitas com incessante repetição e não solicitadas... viram tortura chinesa, como aquele pingo de água, que não para de fazer aquele incomodo barulho.

Uma certa intolerância ajuda no fluir... porque ,muda o rumo da prosa.