Não quero a complacência da desordem.
E se sou líquida
como é líquida o informe,
antes sou gotas de mercúrio do termômetro quebrado,
líquido metal que se faz círculo cheio de si
e igual a si mesmo no centro e na superfície,
prata que tomba e não derrama,
liquidez sem umidade.
- Clarice Lispector -
Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram.
Foram levando qualquer coisa minha…
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas de Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
- Mario Quintana -
A poesia não está no papel,
Está na vida
Vista e sentida
Por olhos sensíveis
E corpos que se permitem ir além.
Por almas que ousam,
Interiores que gritam.
Ser poeta um dia é fácil,
Difícil é sê-lo sempre.
Fácil é amar,
Difícil é libertar a quem se ama...
Libertar as palavras que inflamam...
Mas mais difícil não é libertar
Nem amar, criar, ousar.
Difícil é ser.
Um ser contido no mundo
E conter o mundo dentro de si.
- Carolina Salcides -
”Viver de morte, morrer de
vida.”
(Heráclito de Éfeso)
“Viver de morte, morrer de vida.” Sim, é enigmático.
Podemos pensar que essa frase tem um primeiro sentido que seria este: para viver deve-se comer, logo, deve-se matar as plantas e os animais, logo, vive-se de morte. E finalmente, de tanto viver, desgastamo-nos e morre-se de viver.Mas é um sentido superficial.E creio que é hoje, vários séculos depois. que compreendemos a profundidade dessa frase. Por quê? Porque sabemos hoje que nossos organismos, o seu como o meu, vivem de moléculas que se degradam sem parar. Logo, nossas células reconstituem as moléculas que morrem. Mas nossas próprias células se degradam. Só nossas células cerebrais e algumas hepáticas permanecem as mesmas . As células de nosso corpo se transformam sem parar, morrem e renascem. O fato de podermos reconstituir nossas células faz com que possamos rejuvenescer. Efetivamente nossas células vivem da morte das moléculas, nossos organismos vivem da morte de nossas células. E diria mesmo que a sociedade vive da morte de seus indivíduos. Pois indivíduos novos aparecem, e eles recebem cultura e educação, e rejuvenesce a sociedade.Logo, vivemos de morte. E morremos de vida. Não no sentido em que nos desgastamos como um motor de carro, mas no sentido em que nos esgotamos a rejuvenescer. Cada batida de nosso coração envia o sangue para se “desintoxicar” em nossos pulmões e limpar todas as nossas células. Pode-se, portanto, dizer que você rejuvenesce sessenta vezes por minuto. Passamos nosso tempo a rejuvenescer. E finalmente, e é aqui que está a beleza da frase de Heráclito, rejuvenescer acaba por ser mortal. E morre-se de tanto rejuvenescer.
(Edgar Morin)
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Morremos a cada momento.
Vivemos a cada momento...
E renascemos.
Rejuvenescemos!
Tenhamos,
na nossa vida
(e nas nossas pequenas mortes),
a música.
Com ela
tudo fica melhor
e mais bonito!
Um comentário:
Ihhhhhhhhhhhhhhh se fica...
A música faz com que nos transformemos.
Criamos saídas estratégicas para transmutar em ondas de vida.
Criamos, não apenas porque queremos, ou porque gostamos, e sim porque precisamos.
Se cresce, enquanto ser humano, ordenando, dando forma e criando.
Hahahahahahaha, e essas músicas tão mexendo comigo...
.
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