Temos muito o que avançar nesses temas todos: cuidados e direitos do idoso, combate ao preconceito racial, fim da violência de gênero e familiar e para com as mulheres e minorias em geral... no cuidado para com as crianças e adolescentes... enfim...
As políticas públicas ajudam (e muito), mas, sozinhas, não bastam... ou seja, são necessárias mas não suficientes.
Como profissional da saúde, cotidianamente intervenho nos "modos de subjetivação" que se processam nos "adultos"... cansados e "sem tempo" de "lidar" com seus idosos... querem, com frequencia, se livrar do fardo e institucionalizá-los (o que, em determinadas condições é inevitável).
Parece-me que "essa lógica" do descarte é só uma variação dos demais abandonos a que estão sujeitos tantos sujeitos, agora, tidos como objetos (indesejáveis).
Numa analogia livre... poucos adultos jovens, por exemplo, gostam de trocar as fraldas dos seus bebês, mas o fazem, de uma forma ou de outra, diariamente... com muito menos queixas e desconforto... tudo porque a criança "tem toda a vida pela frente" e porque ela está se formando, aprendendo... se desenvolvendo.
Com os idosos... que tem "alguma" vida pela frente... não se dá algo diferente: eles também estão se formando, aprendendo... se desenvolvendo, mas de outro jeito.
A questão, assim, não é a idade, mas a idéia que se tem dela e da tal previsibilidade.
Será a dialógica da vida e da morte que ocasiona essa diferença de posturas?
Acho que sim.
Em pleno século XXI a morte ainda é um tabu (não estou associando velhice com morte, mas sim... velhice com "previsibilidade" de morte).
Assim como ... infância e idade tenra com "previsibilidade" de vida.
Se tudo acontecer de acordo com "a natureza" das coisas e da vida, sim, crianças vão se tornar adultos e velhos morrem antes de adultos, adolescentes e crianças. Natureza?
O que acontece é que, na natureza... há vida e morte em todas as idades e por diferentes motivos - todos os dias - e nos esquecemos disso.
Abaixo, penso, uma frase e um texto que ajudam a entender melhor isso
(eu os uso no meu seminário do Morin):
”Viver de morte, morrer de vida.”
(Heráclito de Éfeso)
“Viver de morte, morrer de vida.” Sim, é enigmático
Podemos pensar que essa frase tem um primeiro sentido que seria este: para viver deve-se comer, logo, deve-se matar as plantas e os animais, logo, vive-se de morte. E finalmente, de tanto viver, desgastamo-nos e morre-se de viver.Mas é um sentido superficial.E creio que é hoje, vários séculos depois. que compreendemos a profundidade dessa frase. Por quê? Porque sabemos hoje que nossos organismos, o seu como o meu, vivem de moléculas que se degradam sem parar. Logo, nossas células reconstituem as moléculas que morrem. Mas nossas próprias células se degradam. Só nossas células cerebrais e algumas hepáticas permanecem as mesmas . As células de nosso corpo sem transformam sem parar, morrem e renascem. O fato de podermos reconstituir nossas células faz com que possamos rejuvenescer. Efetivamente nossas células vivem da morte das moléculas, nossos organismos vivem da morte de nossas células. E diria mesmo que a sociedade vive da morte de seus indivíduos. Pois indivíduos novos aparecem, e eles recebem cultura e educação, e rejuvenesce a sociedade.Logo, vivemos de morte. E morremos de vida. Não no sentido em que nos desgastamos como um motor de carro, mas no sentido em que nos esgotamos a rejuvenescer. Cada batida de nosso coração envia o sangue para se “desintoxicar” em nossos pulmões e limpar todas as nossas células. Pode-se, portanto, dizer que você rejuvenesce sessenta vezes por minuto. Passamos nosso tempo a rejuvenescer. E finalmente, e é aqui que está a beleza da frase de Heráclito, rejuvenescer acaba por ser mortal. E morre-se de tanto rejuvenescer.
Eis, portanto, uma
frase importante. Porque a morte e a vida, essas duas idéias
antagônicas, são ao mesmo tempo complementares. Se não houvesse morte,,
nós não viveríamos".Podemos pensar que essa frase tem um primeiro sentido que seria este: para viver deve-se comer, logo, deve-se matar as plantas e os animais, logo, vive-se de morte. E finalmente, de tanto viver, desgastamo-nos e morre-se de viver.Mas é um sentido superficial.E creio que é hoje, vários séculos depois. que compreendemos a profundidade dessa frase. Por quê? Porque sabemos hoje que nossos organismos, o seu como o meu, vivem de moléculas que se degradam sem parar. Logo, nossas células reconstituem as moléculas que morrem. Mas nossas próprias células se degradam. Só nossas células cerebrais e algumas hepáticas permanecem as mesmas . As células de nosso corpo sem transformam sem parar, morrem e renascem. O fato de podermos reconstituir nossas células faz com que possamos rejuvenescer. Efetivamente nossas células vivem da morte das moléculas, nossos organismos vivem da morte de nossas células. E diria mesmo que a sociedade vive da morte de seus indivíduos. Pois indivíduos novos aparecem, e eles recebem cultura e educação, e rejuvenesce a sociedade.Logo, vivemos de morte. E morremos de vida. Não no sentido em que nos desgastamos como um motor de carro, mas no sentido em que nos esgotamos a rejuvenescer. Cada batida de nosso coração envia o sangue para se “desintoxicar” em nossos pulmões e limpar todas as nossas células. Pode-se, portanto, dizer que você rejuvenesce sessenta vezes por minuto. Passamos nosso tempo a rejuvenescer. E finalmente, e é aqui que está a beleza da frase de Heráclito, rejuvenescer acaba por ser mortal. E morre-se de tanto rejuvenescer.
(Edgar Morin)
Nessa lógica, para finalizar meu raciocínio... cuidar de idosos também é cuidar da vida (que há neles). E... é cuidar na nossa vida COM eles... estejam eles de fraldas ou sem, na clínica, na geriatria ou não.
Vida essa, que mesmo nas mais difíceis situações e configurações... ainda é vida.
Junto com as políticas públicas precisamos de (mais e melhor) educação, de (mais e melhor) enfrentamento dos próprios preconceitos (sobre o que é vida e morte, por exemplo) e de mais e melhores formas de pensar e encarar... a vida e a morte.
Simples assim.
Simples? Não!
É difícil e complexo.
Mas possível e necessário.
Outras formas de abuso, tanto na infância quanto na velhice, são: discussões intermináveis "sobre quem tem a razão" ou sobre coisas banais... como mero exercício de poder nas relações; ausência de limites claros, corretos e justos (que não tenham conotação punitiva, revanchista e de indignidade); descaso ou negligência para com necessidades afetivas e de relacionamento, estímulos e incentivo à independência e autonomia possíveis; infantilização e culpabilização; dentre outros...
Todas as formas de discriminação baseadas em preconceitos podem se configurar como maus-tratos abusos morais, psicológicos e ou legais.