08 maio, 2016

Clínica ética, estética e política



Ressonâncias intensivas I

No curso, excelente, com o Eduardo Passos, que ocorreu no Instituto Pichon-Rivière nesta segunda e terça-feiras (foi em maio  de 2014 e eu aproveito para postar aqui... lembrado pelas recordações do Facebook)... falamos sobre ocupar o contemporâneo, sobre se instalar no contemporâneo...um dos aspectos da abordagem transdisciplinar da clínica (Klinica) e falamos sobre a intercessão da clínica com a política, com a arte e com a filosofia.

O professor citou a arte de Marina Abramovic “The Artist is Present” (“A artista está presente”), que esteve em cartaz no MoMa, em Nova York, em 2010.
A artista pediu que a produção instalasse uma mesa e duas cadeiras para que as pessoas sentassem de frente e a encarassem, pelo tempo que quisessem (mais tarde, a mesa foi suprimida). A fila para tentar olhar para Marina pelo menos por alguns minutos era gigante e permaneceu assim durante toda a exposição, que durou três meses.

Marina fala sobre o que sentiu durante a performance que durou exatamente 736.030 minutos, de acordo com as contas dela:
"E não houve história, não houve uma crescente, não houve um desenvolvimento… era apenas sentar-se. E o público tinha a inteira liberdade de ficar ali o quanto quisesse. O curador da exposição me disse que talvez seria apenas uma cadeira na minha frente, na maioria do tempo. Aconteceu que nós batemos o recorde de visitas do museu e, de 850 mil visitantes, 1.750 sentaram-se na minha frente. Sem fim. Houve uma pessoa que ficou sentada ali durante sete horas. Eles esperavam a noite inteira para sentar-se, apenas porque havia algo realmente acontecendo, de uma forma que é quase racionalmente inexplicável."

Ressonâncias intensivas II

Juntos, Marina Abramovic e Ulay, produziram arte durante 12 anos nômades, entre 1976 e 1988, viajando em um trailer. Eles se diziam um só corpo (nascidos no mesmo dia, em anos diferentes), feito de duas cabeças, mas com a mesma identidade e propósito artístico. “O principal problema neste relacionamento foi o que fazer com o ego de dois artistas. Eu tive que descobrir como colocar o meu de lado, assim como ele, para criar algo como um estado hermafrodita de ser que nós chamamos de morte do ser”, explica Marina.

Marina e Ulay permaneceram juntos até 1988, quando ele resolveu terminar, provocando a revolta da artista que disse “Todos se esforçam tanto para começar um relacionamento e tão pouco para acabar com ele”. Como bons artistas dramáticos e intensos, eles fizeram uma última performance antes da separação, realizada na Muralha da China.. chamada .The Lovers – The Great Wall Walk, Ela veio do leste e ele do Oeste. Encontraram-se após três meses no meio e se despediram.

Mas nem tudo foi arte em seu estado mais puro. Em 2003, Marina revelou que o término aconteceu também por causa de uma traição de Ulay e que ele ficou com todas as obras depois da separação, tornando sua vida um inferno. Segundo Marina, ela só conseguiu recuperar as obras comprando tudo de Ulay de novo. E assim, depois deste término doloroso, eles ficaram sem se ver durante mais de 20 anos. Até o momento da exposição no MoMa.
Este video mostra o encontro deles.




A ideia de trazer esse vídeo foi para falarmos sobre a capacidade e a possibilidade e a necessidade de fazermos da nossa vida uma obra de arte: não é necessário ser artista (profissional) para fazer isso!

Ressonâncias intensivas III

O professor Eduardo Passos também nos apresentou, nas aulas dessa semana no Instituto Pichon-Rivière uma imagem, que ele usou como "disparador"... como "dispositivo" para provocar o pensamento..
E ele conseguiu. Muiitas ressonâncias e efeitos estão acontecendo, sem dúvida, entre nós... e vão conttinuar produzindo "rizomas" e aprendizagens... sem fim!
"Angelus Novus é um desenho à nanquim, giz pastel e aquarela sobre papel, feito por Paul Klee em 1920. Atualmente faz parte da coleção do Museu de Israel em Jerusalém.

Em sua nona tese no ensaio “Teses Sobre o Conceito de História,” Walter Benjamin, que possuiu a tela por muitos anos, escreveu:
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso."
Fonte: Wikipédia

Eduardo Passos desenvolveu na sua aula a idéia de que ... as asas abertas e o vento (da tempestade)... são o intempestivo... o movimento... no qual podemos, devemos... nos colocar. Nos instalar...
São as forças instituintes... que geram, produzem... diferença.
Elas são o inconsciente...
É nelas, nas asas e no vento, que estão as forças de mudança.
Falamos sobre o vivido da vida e... o vívido da vida!
Foi e está sendo (pelas múltiplas ressonâncias) um bom encontro!!!
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A complexa atividade de pensar, de criar conceitos, fazer problemas - problematizar - é para Deleuze, a atividade de fazer proliferar a intensidade dos bons encontros, aqueles que acionam potências e intensidades.
A arte, por exemplo, fazendo problema para a ciência, a ciência fazendo problema para a filosofia, a filosofia fazendo problema para a própria filosofia, para a clínica a política, etc...
Campo de tensões que provocam o pensar, provocam o pensamento... tensões as quais movimentam e causam diferença.
As diferenças, em Deleuze, potencializam a vida justamente porque a ressonância entre conceitos, idéias, campos, etc., fazem problema, forçam a pensar e criam, assim, o novo.
Questão impares, essas, para a clínica... que é ética, estética e política.


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