11 janeiro, 2011

Consumidores consumidos



Um:

Desde a filosofia da diferença e da esquizoanálise... 
temos elementos para ver o ser humano 
como consumidor e consumido... 
não só de bens materiais de consumo... 
mas de subjetividade: consumimos afetos, emoções, 
desejos, amores, relacionamentos e... 
somos consumidos por eles!
Dor e dependência! 
Vícios consumistas!
Como sair dessa?
Pelo autoconhecimento e pela singularização 
de nossos momentos de ser e estar na vida: 
inventando uma vida para nós próprios... 
vivendo momentos e acontecimentos no presente. 
Esticando o presente! 
Dizendo não para essas formas de consumo... instituídas,
pré-mol-da-das e fabricadas!




Dois:

Quem disse que O Outro 
PRECISA GOSTAR DE NÓS COMO NÓS GOSTAMOS DELE?
 e VICE-VERSA?... 
Formas amortecidas de consumir... afetos... 
e criar expectativas... junto ao "irredutível" outro. 
Frustração!
Viver a vida como obra de arte... 
buscando "bons encontros" ... 
encontros que desinstitucionalizem... 
provocando desejo, cada vez maior... de vida... 
e cada vez menor de... certezas!
Tenha bons encontros consigo próprio e com o outro!
Receba meu abraço terráqueo e eólico!

Sobre os caminhos...




"Qualquer caminho é apenas um caminho
e não constitui insulto algum para si mesmo 
ou para os outros abandoná-lo 
quando assim ordenar o seu coração. (...)
Olhe cada caminho com cuidado e atenção. 
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias. 
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: 
Possui este caminho um coração? 
Em caso afirmativo, o caminho é bom. 
Caso contrário esse caminho 
não possui importância alguma." 
(Castañeda, C. The Teachings of Don Juan)



Mudar de idéia... com muita rapidez, pode ser inconstância, mas, pode, também, 
ser indício de fluidez com os próprios sentimentos, 
emoções e pensamentos: afinal... 
mudar de caminho quando o coração (e eu adiciono o pensamento e a atitude) 
assim o deseja(m) é sinônimo de flexibilidade para 
com o amor próprio: exercício 
sempre repetido de diferentes formas!!!


Sim... e é percorrendo esses caminhos, 
que a vida nos apresenta, que vamos fazendo conquistas, 
nos conhecendo, nos aprimorando e adquirindo experiências 
para outras tantas jornadas 
O melhor é que mudar de idéia, de atitude de sentimento... 
durante o próprio caminhar não constitui insulto... 
mas... inovação, capacidade de análise e síntese... 
e tantas outras coisas!!!

Como as pessoas perdem tempo 
querendo ser e estar sempre coerentes consigo próprias 
e com os outros!


A liberdade de mudar, na dependência 
do que se percebe e na dependência 
do que já se avançou no caminho é... fundamental!


10 janeiro, 2011

Tudo azul, ou... sobre um mago eremita apontando para outro mundo nesse mundo



A hora e a vez do azul


Música: The Big Blue















Algumas pessoas responderam 
dizendo Lindooooooooo!
Respondi o que segue abaixo:

Linda mesmo, é essa aqui!
Gosto da complexidade e da simplicidade dela...
Dos sentidos que produz...




Ele está sentado, introspectivo. Atento. Calmo.
Está no mundo interior, que possui um rica vida psíquica
e espiritual. É um mundo que ele conhece e no
qual se sente bem, em paz, mas não acomodado.

Ele está pensando... sabe que tem muito a aprender.
Mas, simultaneamente, ele está agindo.
Está em movimento: seus braços mostram...
Um outro mundo. Um novo mundo. Diferente
daqueles captados pelos sentidos comuns...
A luz de dentro se reflete no fora.

Ele habita simultaneamente os dois mundos.
Ou os três. O de dentro, o de fora comum e o de fora incomum.
Talvez quatro: o de dentro incomum... que ele desconhecia
e foi construindo ao longo das suas caminhadas pelas
coisas da vida... sempre observando a relação que
há entre esses mundos e a vida das coisas.

Mudança e permanência. Mudança e impermanência.
E para isso que ele está apontando.

Se fosse uma carta do taro poderia ser o eremita.
Os quatro elementos estão presentes.
poderíamos até cogitar do quinto.
Sim, o éter(eo) também está presente.
Também poderia ser a carta do mundo, o arcano... XXI.



Desembrulhar as flores (Ana Jácomo) e algumas rosas perfeitas (Clarice Lispector)






Poderíamos, com mais frequência,
tentar deixar a Vida em Paz
para desembrulhar suas flôres
no tempo dela, no tempo delas, e,
em alguns momentos,
nem desembrulhar.
Apesar da nossa cuidadosa aposta
nas sementes,
algumas simplesmente não vingam
e isso não significa que a Vida,
por algum motivo,
está se vingando de Nós.
Há muito mais jardim para
ser desembrulhado.

(Ana Jácomo)



"Eram algumas rosas perfeitas,
várias no mesmo talo.
Em algum momento tinham
trepado com ligeira avidez,
umas sobre as outras mas depois,
o jogo feito,
haviam se imobilizado tranquilas.
Eram algumas rosas perfeitas
na sua miudez,
não de todo desabrochadas
e o tom rosa era quase branco.
Parecem até artificiais!
Disse com surpresa.
Poderiam dar a impressão
de brancas se estivessem
totalmente abertas mas,
com as pétalas centrais
enrodilhadas em botão,
a cor se concentrava
e como num lóbulo de orelha,
sentia-se o rubor circular
dentro delas.
Como são lindas, pensou Laura
surpreendida.
Mas, sem saber por quê,
estava um pouco constrangida,
um pouco perturbada.
Oh, nada demais, apenas acontecia que
a beleza extrema incomodava."

Clarice Lispector



07 janeiro, 2011

Clarice Lispector e Nietzsche sobre invenção, ou fragmentos literários para uma clinica psicológica transdisciplinar






"Não quero ter
a terrível limitação
de quem vive apenas
do que é passível de
fazer sentido.
Eu não: quero uma
verdade inventada."

(Clarice Lispector)

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De um modo mais genérico:
se é o fluir que procuramos,
é na experiência da fluidez que vamos encontrá-lo
(no mar, no rio, no ventar...), não nas idéias
ou nos conceitos prontos.
Assim é que propomos que não há outro modo
 de conhecer - e isso se aplica tanto à arte,
à clínica, à política quanto à ciência -
senão pela experimentação.

Isso provoca um ferimento inevitável 
na prepotência narcísica racionalista, porque, daí,
uma coisa se torna óbvia:
o pensamento não será mais exclusividade da filosofia,
mas imanente à própria invenção da vida,
ou seja, passará a ter, através dos corpos, 
uma função eminentemente política.

Quando os devires podem usinar o pensamento,
ele se fará passagem, invenção e não paralisia
e unificação, porque as forças do devir 
- e não formas - 
agem por meio de desterritorializações,
inoculando potências disruptivas
no referencial das significações dominantes.

Pode-se entrever, assim, as consequencias políticas
dessa perspectiva: se a produção de conhecimento engendra
afetos que perpassam o corpo, ela pode mobilizar o desejo
nas direções mais diversas. Logo, estamos
ética e politicamente envolvidos com 
o conhecimento que produzimos, porque,
mais do que uma operação neutra e
unidirecional, produzir conhecimento significa
produzir mundos nos quais também habitamos,
ou seja, não somos, jamais, imunes às suas consequencias.

Nossos saberes tecem poderes
que nos enredam também em suas malhas.
é preciso, portanto,
experimentarmos os modos de conhecer
como modos de vida.

(Em: corpo, arte e clínica. Ed. UFRGS)

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"Não quero prosseguir", diz Zaratustra,
"não sou daqueles que buscam,
quero criar para mim meu próprio sol".

(F. Nietzsche)