28 julho, 2014

Sobre quando matam a gente



Soneto XVII



Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram.
Foram levando qualquer coisa minha…

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas de Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

- Mario Quintana -


Nenhum comentário: