15 novembro, 2010

Jiddu Krishnamurti sobre ação sem idéia





Pergunta: O senhor defende a ação sem a idéia como caminho para a verdade. 
É possível agirmos em todos os momentos sem uma idéia, isto é, 
sem um propósito em vista?

Krishnamurti: O que entendemos por ação? 
Nossa ação, ou seja, o que queremos fazer ou ser, é baseado na idéia, não é? 
Isto é, temos idéias, ideais, várias formas em relação 
ao que somos ou ao que não somos. A base de nossa ação é o desejo 
de uma recompensa no futuro, ou o medo de uma punição. 
Sabemos disso, não sabemos? Essa atividade isola, é confinante. 
Temos uma idéia sobre a virtude e vivemos de acordo com essa idéia. 
Agimos de acordo com ela em nossos relacionamentos.
 Para você, relacionamento, coletivo ou individual, é uma ação voltada 
para um ideal, para a virtude, para a realização de algo, e assim por diante.
Quando a minha ação é baseada em um ideal, que é uma idéia, 
e digo “preciso ser corajoso”, “preciso seguir os bons exemplos”,
 “preciso ser caridoso”, “preciso ter consciência social”, 
essa idéia modela a minha ação. 
Todos nós dizemos que há exemplos de virtude que precisamos seguir, 
o que significa que estamos dizendo que precisamos viver de acordo com isso. 

Então, a ação se baseia em uma idéia. Entre a ação e a idéia, há uma distância, 
um processo do tempo. Em outras palavras, não sou caridoso, 
não sou amoroso, mas sinto que preciso ser;não sei perdoar, 
mas sinto que preciso aprender. Desse modo, há uma brecha entre 
o que sou e o que devo ser, e passo o tempo todo tentando fechar essa brecha. 
O que aconteceria se não existisse a idéia? Não haveria essa brecha, não é? 
Seriamos o que somos. Se você diz “sou feio, vou fazer de tudo para ser bonito”, 
essa é uma ação baseada em uma idéia. 
Você apresenta a idéia separada da ação. 
Assim nunca há uma verdadeira ação baseada no que você é, mas sempre 
uma ação baseada no ideal do que você será. 
O homem estúpido sempre diz que será inteligente. 
Trabalha e luta para isso, nunca para, mas nunca reconhece sua estupidez, 
dizendo “sou estúpido”. 
Dessa forma, sua ação, baseada em uma idéia, não é ação. 
Ação significa fazer, mudar. 
Mas quando temos uma idéia, 
o que está acontecendo é pura ideação, um processo do pensamento 
em relação à ação. Se não há idéia, o que acontece? 

Somos o que somos.
Somos cruéis, estúpidos incapazes de perdoar, de praticar a caridade.
Podemos reconhecer isso?
Se podemos vejamos o que acontece.
Quando reconheço que não sou caridoso, ou que sou estúpido, quando estou cônscio disso, plenamente, não de modo artificial, só o fato de ver isso já não me torna
caridoso, inteligente?
Quando vejo a necessidade de estar limpo, é muito simples, vou me lavar.
Mas se estar limpo é um ideal, a limpeza é adiada ou feita de maneira superficial.

A ação baseada na idéia é muito superficial.
Não há ação verdadeira, apenas ideação, o que não passa de um processo do pensamento.
A ação que nos transforma como seres humanos, que nos regenera,
que nos redime, não é baseada na idéia.
É uma ação que não tem relação com desejo de recompensa ou medo de punição.
Tal ação é atemporal porque a mente, que é um processo do tempo, do processo calculista, separador, isolador, não participa dela. 

Não é fácil responder a essa pergunta que me foi feita.
As pessoas me fazem uma pergunta e esperam a resposta seja
“sim” ou “não”.
É fácil, para elas, perguntar o que quero dizer com isso ou com aquilo
e, então, simplesmente escutar a minha explicação.
Encontrar a resposta por si mesmas, entrar na questão profundamente,
sem nenhuma corrupção, de modo tão lúcido que faça o problema desaparecer,
é muito difícil. Isso só é possível quando a mente
está realmente tranqüila e em silêncio diante do problema.

Quando se ama o problema, ele é tão lindo quanto o pôr do sol.
Se você se mostra antagônico ao problema,
nunca o compreenderá.
Muitos de nós somos antagônicos porque temos medo do resultado,
do que possa acontecer se formos em frente,
então não vemos a importância e o alcance do problema.

J. Krishnamurti In: A Primeira e Última Liberdade. Pgs 283-285
Ed Nova Era, 2010 Tradução Vera Martins :

Citação colhida na comunidade do orkut:

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