25 janeiro, 2011

Tragédia no RJ: solidariedade, culpa e a sociedade



Como resposta a uma pergunta que fiz, recebi o que segue abaixo.
Um relato claro, objetivo e elucidador 
de alguém que está perto dos locais
onde a tragédia e os desabamentos ocorreram
no Estado do Rio de Janeiro.
Parece-me que informa mais do que horas e 
horas de noticias nos tele-jornais, já que esses, 
tão preocupados com alguns detalhes perdem a visão "do todo"
e, tão preocupados em repetir cenas e informações, acabam 
por saturar muitos e confundir outros tantos. Resultado: banalização
sub-informação e desinformação. 
Cansaço.

.Boa noite querido amigo.

(omitido)
...a área mais atingida foi mesmo 
na saída da cidade rumo à Friburgo, e no lado oposto, 
saida pra Itaipava , Petrópolis, ficamos no meio da turbulência.
Os bairros atingidos, foram devastados, nada sobrou, nada mesmo...
horrível, triste demais, de repente a cidade 
se vestiu de corpos e mais corpos, coisa que eu só havia visto em filmes, 
Igreja e Faculdade eram onde se faziam as necrópsias, 
camionetes cheia de corpos não paravam de chegar 
ao centro da cidade. De inicio os dois hospitais estavam até com 
seus atendimentos normais, sem tumúlto,por que as vitimas eram fatais, 
os poucos que chegavam com vida, logo morriam com infecção... 
a cidade passou a enterrar seus mortos dia e noite, muito triste meu caro.
Com o passar dos dias a cidade foi tomada por um cheiro forte,
 falta de água, comunicação precária 
e preços abusivos de material de limpeza e água.

Agora, graças a Deus, a rotina está voltando, 
a cidade chora as perdas, que não foram poucas.

... (omitido) 
meus filhos não puderam se ausentar da cidade, 
foram convocados pela faculdade pra ajudar nos postos 
de saúde da cidade , pois agora a população sofre 
com as doenças causadas pela enchente.

Ia esquecendo...há mtos desabrigados 
e muitas crianças ficaram sozinhas, sem família, 
mto triste e preocupante, mtos desaparecidos também.

Os animais andam sem rumo, stressados, famintos...

(omitido)

Bj e obrigada 
Tenha bons sonhos 

Se a mídia consegue acionar as pessoas de 
diferentes locais para enviar doações: maravilha. Ótimo.
Essa mesma mídia, no entanto, por excesso e por falta - simultaneamente -
de informações, acaba por desencadear diferentes tipos
de sofrimento psíquico... 
Sentimentos de culpa, identificação assimétrica 
(com outros tipos de tragédia não
veiculadas em rede nacional), 
preocupação obsessiva com
a possibilidade de ocorrências semelhantes,
idéias de perseguição referendadas por presença 
e ênfase e por ausência e ênfase de determinadas
informações... assim por diante.  

Mas, o que mais se observa nos comentários,
no exercício da clínica e FORA dela, é que
muitas pessoas entram em grande sofrimento psíquico 
porque fazem coisas e possuem coisas que essas vítimas 
das tragédias já não podem mais... 
 sentem-se culpadas por ter e ser... 
o que eles, as vítimas, não são e não tem... mais. 

Dentre outras coisas, já citadas acima e omitidas aqui, porque
desnecessárias, escrevi para ela, a minha amiga:

Daqui do Sul, dizem, saiam milhares de toneladas 
de doações de vários tipos. 
Agora a solicitação é de material de limpeza 
(geral e pessoal) e água mineral.
Dizem também que há entraves naturais 
(estradas e acessos ainda fechados e coisas assim...) 
e burocráticos para o recebimento das doações.
Em Sc também estão sofrendo com os deslizamentos.
Aqui no RS tem várias cidades declarando estado de emergência 
com chuvas, em excesso por um lado, e seca e estiagem, por outro.
Sinal dos tempos... planeta superpovoado, populoso, 
agressões a natureza... enfim... 
e ainda desastres naturais.
Há dados que dizem que mais vitimas morreram 
no Rio do que no terremoto do Chile.
Um horror.

Além do horror que é POR SI SÓ...
ainda há o horror fabricado e repetido.
A comoção que toma conta das pessoas tem como 
base a própria repetição dos fatos (pela mídia) e os novos casos... 
que vão surgindo e o próprio mecanismo de EXPIAÇÃO das culpas -
coletivamente tomadas - como forma de se sentir aliviado.

Noutras palavras... 
se alguém se sente culpado 
por "mil" outros motivos 
que nada tem a ver 
com o que aconteceu no estado do Rio,
esse "alguém - milhares de pessoas - pode sentir-se 
menos mal e menos culpado 
por fazer doações solicitadas pelas (mesmas) 
instituições e poderes dominantes: 
a mídia, a Igreja, o Estado a familia.

A sociedade  não é um
órgão, fenômeno ou entidade abstrata.
A sociedade é cada um e todos os brasileiros,
NÓS somos a sociedade!
Assim, muitos brasileiros se equilibram 
entre a solidariedade e a expiação da culpa.
Um delicado equilíbrio.

A mesma sociedade 
que pune, 
que preconiza e estimula a lei de Gerson 
(levar vantagem em tudo),
que tolera e absolve a corrupção
e essas coisas... 
é a sociedade
que ajuda e se solidariza 
e é, simultaneamente... 
culposa-culpante-culpabilizadora.
Um fenômeno muito complexo e difícil
que absolutamente não tenho condições de desenvolver aqui.

Meu forte desejo de que as 
doações cheguem em tempo e às 
pessoas necessitadas.

O que é isso que escrevi aqui?
Uma visão, uma leitura possível,
a minha. E fragmentada.
E um desabafo.
Só.

(CRK)

23 janeiro, 2011

Sequência “Poemas-Tempo”, por Viviane Mosé , ou... o que essa imagem lhe diz?






Sequência “Poemas-Tempo”
Viviane Mosé

Quem tem olhos pra ver
o tempo soprando sulcos na pele

soprando sulcos na pele soprando sulcos?

***

O tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença




Acho que a vida anda passando
a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda
passando a mão em mim

***

E por falar em sexo quem
anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo
mas eu escondia
porque ele me pegava
à força e por trás

um dia resolvi encará-lo
de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando



Amigos: Help.
Ajudem-me
a decifrar
essa imagem
escura...
do meio
da postagem.

Fiquei chocado.

Não consigo
me decidir
se é horrível, feia,
realista...
fatalista...

Percebo e acho
que
TECNICAMENTE
é muito
bem feita...
movimentos da cruz ...
as rugas da testa...
os movimentos
dos dedos...
o queixo...

Parece uma
católica grega
italiana, européia...
triste...
Será?

Será que é
o tipo
de velhice
retratada
que
chocou-me?

Uma velhice
escura
católica
desesperada
angustiada
solitária
triste?

Na contramão
dos poemas,
essa imagem
contrasta...

Digam, me
please,
o
que
vocês
acham
dessa
imagem...

Como
ela
lhes
afeta?

O que
sentiram?
Pensaram?

Pode ser
que nada disso
que falei
esteja presente...
nela?
rsrsrs

Isso
é

imaginário?

Qual
é
o
seu?



22 janeiro, 2011

Perda, por Hammed, ou... sobre a amizade, a morte e a velhice





O ilustre romano Cícero, em seus célebres ensaios literários sobre a amizade, registrou a seguinte pergunta: “Haverá alguma coisa mais doce do que teres alguém com quem possas falar de todas as tuas coisas, como se falasses contigo mesmo?”
Realmente, não há pior solidão do que a do homem sem amigos. A falta de amizade faz com
que seu mundo de afetividade se transforme em um enorme “deserto interior”.

Entre amigos não existe nenhum limite às confidências, pois a virtude principal que os une é a sinceridade. Para que tenhamos maior compreensão sobre a amizade, é necessário analisarmos as profundezas da intimidade humana.

“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos
que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem...”(4 5 )
Portanto, a criatura não deve “endurecer o coração e fechá-lo à sensibilidade”, se receber
ingratidão de seus amigos. Isso seria um erro, “... porquanto o homem de coração (...) se sente
sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em
outra...”De certo modo, temos por crença que amigos leais são somente os que compartilham os
mesmos gostos, tendências, entusiasmos e ideais; que devem estar sempre à nossa disposição, concordar com tudo o que pensamos e de que precisamos e que jamais devem ter sentimentos contraditórios.

Se realmente alimentarmos essa crença de que os amigos verdadeiros são aqueles que se modelam ao nosso perfeito “idealismo mítico”, isto é, relacionamentos estruturados em “castelos no ar”, poderemos estar vivendo, fundamentalmente, sob uma consistência irreal a respeito de amizade.

O crescimento de nossas relações com os semelhantes depende da nossa habilidade em não ultrapassar as possibilidades limitativas de cada um e de obtermos uma compreensão das restrições da liberdade e disponibilidade dos amigos, ficando quase sempre atentos às conexões que fazemos com nossos devaneios emocionais.

De modo geral, não admitimos que podem coexistir entre amigos sentimentos ambivalentes como: admiração e inveja, estima e competição, afeição e orgulho. As emoções radicalmente diferentes, ou mesmo opostas, são inatas nas criaturas humanas no estágio evolutivo em que se encontram.

Muitos tiveram uma educação fantasiosa do tipo “e viveram felizes para sempre” e, quando se deparam com a realidade humana, ficam profundamente chocados por constatar que possuem ambivalência de sentimentos, identificando-os também, analogamente, nas figuras mais importantes de sua vida.

Todo ser na Terra está aprendendo a usar coerentemente seus sentimentos e emoções. Não podemos fugir dessa verdade. Nossa visão interior precisa mover-se como um pêndulo, a fim de evitarmos unilateralidades que nos impedem de ver o todo. Sabedoria traduz-se na capacidade de reconhecer, ou na habilidade de ver a totalidade da vida em seu completo equilíbrio. Viver na polaridade não nos deixa entender as diversidades de sentimentos e emoções que vivenciamos.

Precisamos adquirir uma percepção intuitiva, para não analisarmos tudo como sendo absoluto. Toda avaliação correta usa de critérios com certa relatividade e prende-se às circunstâncias do momento e não, exclusivamente, aos fatos em si.

Essa dualidade de opostos irreconciliáveis entre certo-errado nos embrenha cada vez mais na polaridade, impedindo-nos de compreender que cada parte contém o todo. Somos unos com a Vida. Estamos ligados de forma integrante às pessoas e a todas as outras formas de vida do Universo. Exemplificando isso, Jesus Cristo realçou: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”(4 6 )
O que deve ter feito mais tarde com que Paulo de Tarso escrevesse aos Coríntios: “Ora,
pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo.”( 4 7 )

“O homem de coração, que se sente sempre feliz com o bem que faz”, sabe que todas as experiências que vivenciamos uns com os outros são peças importantes no processo de crescimento espiritual. Sabe que não basta simplesmente ignorar as ingratidões alheias, ou não guardar eternos ressentimentos; deve também avaliar e aprender com seu próprio sentimento de perda ou de abandono.

“O homem de coração” entende perfeitamente que, com as experiências que mantém com os amigos atuais ou que manteve com os amigos que se foram, pode oferecer importantes conexões para ampliar os horizontes do autoconhecimento. A partir daí, tem condições de discernir a variedade de categorias de amigos.

Há amigos de “atividades habituais”: possuem uma convivência restrita, reúnem-se somente para cultos religiosos, em dias de lazer e de esportes, nas horas de trabalho, ou em cursos ou eventos diversos. Outros existem, qualificados como amigos, por “vantagens recíprocas”. São unidos pelas profissões que exercem, promovem sociedades de interesse comum e com metas especiais, desempenhando papéis e ofícios especializados juntos; mas não juntos interiormente.

Os denominados amigos de “décadas diferentes” são todos aqueles ligados por enormes afinidades das vidas passadas, que nem mesmo a grande diferença de idade consegue separá-los da convivência diária. Adquirem uma intimidade carinhosa e verdadeira, que enseja a permuta de experiências, de vigor e de ânimo. Outra categoria a ser considerada é a dos chamados amigos “itinerantes” ou “transitórios”. Cruzam nossas vidas durante determinada etapa. Compartilham nossa amizade em épocas cruciais; outras vezes, em busca de aprendizagem, passam por nós nas encruzilhadas do caminho terreno, para depois se desligarem, porque se desvaneceram os elos comuns que os mantinham conosco. No decorrer do tempo, cada um deles segue o caminho que traçou rumo ao próprio destino.

Os reconhecidos, porém, como amigos “íntimos” ou “permanentes” são aqueles que possuem afeto mútuo e o conservam indefinidamente. A intimidade entre eles faz com que tenham um crescente amadurecimento espiritual. Alargam seu mundo interior à medida que aumentam a capacidade de compreender as similaridades e as diferenças entre si mesmos.

Em verdade, para se possuir real intimidade e adquirir plena confiança entre amigos é necessário nunca esconder o que há de desagradável em nós; em outras palavras, é preciso revelar nossa falibilidade. Querer demonstrar caráter impecável e isenção de dúvidas é característica de indivíduos incapazes de perdoar e inábeis para manter relações duradouras e afetividade verdadeira.

Em síntese, a perda de amigos representa momentos difíceis e dolorosos. As dores da alma em relação às amizades não são propriamente dificuldades desta época; já eram no passado distante motivo de admoestações e de conselhos. No Livro do Eclesiástico, encontramos registrada a seguinte orientação: “Não abandones um velho amigo, visto que o novo não é igual a ele. Vinho novo, amigo novo; deixa-o envelhecer, e o beberás com prazer.”( 4 8 )
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45 Questão 938 – As decepções oriundas da ingratidão não serão de molde a endurecer o coração e a fechá-lo à
sensibilidade?

“Fora um erro, porquanto o homem de coração, como dizes, se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão.”
Nota da 938-a – A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhes são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.
6 Mateus 25:40.
47 Coríntios 8:12.
48 Eclesiástico 9:1.

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“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar: Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.”(4 9 )
Nascer e morrer fazem parte de um fenômeno comum e necessário. 
Tudo nasce, tudo se desenvolve, mas tudo se definha. Sempre há um tempo de partir.


A morte na Terra é o término de uma existência física, é a passagem do ser infinito para uma nova forma existencial. Ela é um interlúdio, ou seja, um intervalo entre as diversas transformações da vida, a fim de que a renovação e a aprendizagem se estabeleçam nas almas, ao longo da eternidade.


Morrer não é uma perda fatal, não é um mal, é um essencial processo de harmonização da Natureza. Durante quanto tempo lamentaremos o passamento de um ser amado? Dependerá de como estamos preparados para isso, de que modo ocorreu a morte, de como era a nossa história pessoal com ele. No entanto, a perda de um ente querido é universalmente causa de tristezas e de lágrimas, em qualquer rincão do Planeta, mas a forma como demonstramos esses nossos sentimentos e emoções está intimamente moldada ao nosso grau evolutivo. o conjunto de conhecimentos adquiridos, ou seja, o acervo cultural, espiritual e intelectual que possuímos, é de fundamental importância em nossa maneira de expressar essa perda.


Por isso, devemos entender e respeitar as múltiplas reações emocionais manifestadas no luto, pois acontecem de conformidade com as estruturas psicossociais que caracterizam cada indivíduo, levando sempre em conta suas diferentes nacionalidades, crenças e costumes peculiares.


A dor da perda, contudo, está radicada na incompreensão a seu respeito ou na apreensão que a precede e a acompanha. Eliminando-se esses fatores, os indivíduos verão a morte como um momento de renovação inerente à Natureza. Inquestionavelmente, é um período que antecede o reencontro dos atuais e dos antigos amores.


São compreensíveis as lamentações e os pesares, o pranto e os suspiros, pois o ser humano passa por processos psicológicos de adaptação e de reajuste às perdas da vida. Os pesares e os murmúrios fazem parte da seqüência de fatos interiores, que são provimentos mentais gradativos e difíceis, através dos quais as criaturas passam a aceitar lentamente a ausência — mesmo convictas de sua temporalidade — das pessoas que partiram.


Uma das mais importantes funções da tristeza é a de propiciar um ajustamento íntimo, para que a criatura replaneje ou recomece urna nova etapa vivencial. É importante identificarmos nossa tristeza e sua função de momento; jamais devemos, no entanto, identificar-nos com ela em si.


“Não, não é verdade! Não pode estar acontecendo!”, “Isso deve ser um horrível pesadelo que vai acabar!” são expressões comumente usadas como negação. São reações costumeiras diante de perdas desesperadoras. A recusa em admitir os fatos e as circunstâncias que os determinaram é uma forma de defesa habitual nas situações devastadoras com nossos entes queridos. É necessária a bênção do tempo para que a alma elabore novamente um ajustamento mental e reúna forças para compreender a privação e a real extensão promovida pela dor.


Alguns choram em voz alta; outros, porem, ficam sentados em silêncio. O isolamento transitório pode ser considerado também como urna outra forma psicológica de defesa para suportar esses transes dolorosos. A atenção destes se fixa unicamente no falecimento da pessoa querida, não se permitindo fazer contato com outras pessoas, a fim de que o sentimento de tristeza não aperte ainda mais seu coração, ou para evitar sejam evocadas com maior intensidade as lembranças queridas. Dessa forma, a criatura abranda o impacto da perda, fazendo um retraimento introspectivo.


“O Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.”(5 0 ) Com toda a certeza, essa mensagem do Antigo Testamento incita-nos a uma aceitação incondicional dos desígnios da Assistência Divina.


O Criador da Vida fez com que a Natureza se mantivesse num eterno reciclar de experiências e energias, numa constante mudança de formas e ritmos, em nossa viagem maravilhosa de conhecimentos através da imortalidade.


Quando nossa visão se liga em nossa pura essência, vamos além de todas as coisas diminutas e insignificantes, fazendo com que nosso discernimento se amplie numa imensa lucidez diante de nossa jornada evolutiva.
Não existe perda, não existe morte, assim garantiram os Espíritos Amigos a Kardec:“ ...


O que chamais destruição não passa de uma transformação...” 
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49 Questão 728 – É lei da Natureza a destruição?
“Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma
transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos.” 
50 Jó 1:21

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Estudando as atitudes comportamentais dos idosos na Tem, observamos que, apesar de o corpo físico estar passando pelos fenômenos responsáveis pelo envelhecimento, o centro da personalidade permanece inalterado. Continuam presentes as características particulares e as tendências naturais dos indivíduos durante a velhice orgânica. Concluímos que a pessoa continua conduzindo-se com o mesmo jeito de ser e atuando com sua própria coletânea de gostos e habilidades inatas. Observamos que, mesmo acumulando diversas experiências e aprendizagem na caminhada terrena e efetuando expressivas mudanças de comportamento, os idosos continuam procedendo de acordo com tudo aquilo que sempre foram.


Dessa forma, entendemos que, apesar do crescimento espiritual que desenvolvem durante toda uma existência na matéria densa, renovando suas atitudes e defrontando com um extenso campo de transformações biológicas e sociais na idade avançada, guardam sua própria individualidade. O Criador não dá cópias. Cada um de nós é um projeto da Natureza, nascido de Deus, com expressões singulares e especiais. Todos temos em comum o fato de pertencermos à mesma espécie, quer dizer, somos da mesma natureza, somos semelhantes, mas não iguais.


Há os que dizem que a velhice é somente perda, isolando os velhos de sua convivência, sem se darem conta de que obedecem, obrigatoriamente, ao comando de um impulso de medo, pois os idosos representam para eles um espelho em que enxergam, hoje, a realidade que os espera no futuro.


“...Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma família se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, aliás, com muita freqüência se esquece na vossa sociedade atual.”(5 1 )


O esquecimento e o desprezo a que relegamos os velhos, a atitude nociva de considerá-los vivendo “a segunda infância”, de condená-los à monotonia denominando-os de “desatualizados”, é porque não sabemos lidar com a questão do homem idoso. Em verdade, quase nada sabemos em matéria de velhice e, por isso, inconscientemente, ajudamos os anciãos a se precipitarem, de forma prematura, no abismo da doença e da morte.


Não olvidemos, porém, que, a cada dia que passa, todos nós estamos envelhecendo. Os processos orgânicos degenerativos são paulatinos e gradativamente notados. Isso levou a inesquecível escritora francesa do século XVII Marie de Rabutin-Chantal, marquesa de Sévigné, a escrever a um parente que se encontrava preocupado por ter-se tomado avô: “A rampa, de tão suave, é quase imperceptível. É como o ponteiro do relógio, que quase não se vê mover”. O poder da Natureza não está em nossas mãos, e a velhice é uma vereda obrigatória para todos.


Uma outra problemática a ser considerada na velhice é o apego às tradições ou o preconceito contra as novidades, que, em verdade, não são atuais. Sempre se repudiaram as novas idéias e os novos hábitos, pois, quase sempre, as mudanças levam a uma certa insegurança psicológica, havendo pessoas que sentem verdadeiro horror diante de novos costumes e conceitos.


Não só na terceira idade, mas em todas as etapas da vida, deve-se fugir dos hábitos, opiniões e idéias conservadoras, porquanto não se pode adotar nada em caráter definitivo. Em se tratando de regras socialmente estabelecidas, vale lembrar esta excelente afirmação: “O mais eficaz dos hábitos é o hábito de saber quando se deve mudar de hábito.” 


A história de vida de cada criatura é importante para determinar sua capacidade de mudar e de crescer durante a idade avançada. No entanto, na arte de bem envelhecer, podemos dar origem a novas forças e novas aptidões que não puderam ser desenvolvidas anteriormente nas outras fases da vida.


Para o ser humano que vive o entardecer da jornada na Terra, pode surgir a tão almejada estabilidade emocional, decorrente de maior liberdade interior, novas perspectivas e uma visão translúcida da vida. Será ainda possível que ele atinja maior autocompreensão, maior respeito às decisões alheias e maior honestidade consigo mesmo. Podemos nomear tudo isso como sendo a colheita benéfica dos “frutos do outono”.


Sabe-se que o ser existencial nunca é um produto acabado; ele se apura, esmera-se e reassume, modificando-se continuamente. O desenvolvimento evolucional é permanente, mas não instantâneo.


No curso da vida de cada indivíduo, surgem novas e inesperadas tarefas, fazendo com que se desembaracem as antigas fibras e se possa acompanhar o fluxo de uma nova textura de experiências inéditas.


O envelhecimento não é uma perda para aqueles que mantêm uma vida extremamente ativa, para os que continuam combatendo o confinamento de seu mundo íntimo. Não confundamos, no entanto, idosos que se confinam interiormente — por abstração e alheamento dos acontecimentos habituais — com aqueles que fazem o exercício da introspecção e da contemplação, técnicas altamente positivas. Está provado que atividade e longevidade guardam uma íntima relação com ação e reação. Deixar inertes as forças físicas e mentais faz com que elas se degenerem, visto que a ação laboriosa protege-nos de grandes males, como o tédio e a solidão.


Na Natureza nunca há perda. Quando finda uma etapa de nossa existência, outra vem ocupar a lacuna deixada, porque nossas vidas sucessivas estão entregues ao Poder Perfeito do Universo, que tudo cuida e desenvolve. O calendário na Terra pode estar passando; entretanto, temos agora o momento perfeito e a idade precisa que nos possibilitam discernir que devemos dar à vida seu alto e justo valor, seja qual for a faixa etária que estivermos atravessando. 
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51 Questão 681 – A lei da Natureza impõe aos filhos a obrigação de trabalharem para seus pais?


“Certamente, do mesmo modo que os pais têm que trabalhar para seus filhos. Foi por isso que Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural. Foi para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma família se sentissem impelidos a ajudarem-se mutuamente, o que, aliás, com muita freqüência se esquece na vossa sociedade atual.” 

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Para baixar o livro As Dores da Alma, do qual foi retirado esse texto da postagem, acesse o link abaixo.
É free.


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Essa postagem é uma pequena homenagem ao meu pai, 
quando se aproxima o primeiro ano de sua morte.
E essas são as terríveis e maravilhosas palavras.que pronunciei
(até hoje quase não sei como tive coragem...) 
quando comecei a me despedir dele... na noite em que ele se foi:

"Pai, querido!
Acho que tá chegando a tua hora...
Quero te pedir que não tenhas medo... 
Tu estás protegido. 
Teu anjo da guarda tá contigo e vai te acompanhar..."
(restante... omitido...)

Eu tenho certeza de que ele me escutou!

Meu pai foi um homem que 
viveu com dignidade a sua vida.
Viveu com dignidade durante a sua doença 
E a sua doença.
Ele também viveu com dignidade 
a/na hora da sua morte.

A ele o meu agradecimento, 
o meu amor 
e o meu carinho.
Desejando LUZ E PAZ, sempre.




19 janeiro, 2011

Tanto Que Tentei, por Andréa Maia



Tanto Que Tentei...

* Andréa Maia *


Tentei parar o tempo
naquele exato momento,
fugir da força daquele
incontrolável vento...

Tentei dar a tal reviravolta,
encontrar meu caminho de volta...

Tentei não ser a maçã
do seu pecado,
nem a serpente de
um paraíso mal interpretado...

Tentei não penetrar fundo
em seu olhar,
nadando em braçadas perdidas
para não me afogar...
escapando covarde,
de uma possível dor,
só para não sentir o gosto
alucinante deste amor...

Tentei fingir,
mentir,
sobreviver,
me deixar morrer...

Hoje busco a falta
do nosso tempo,
me deixo levar
solta pelo vento...



Não quero mais voltar atrás,
ando pelo caminho
que me satisfaz...

A maçã já mordida
ganhou sabor,
a serpente que envolvia
o misterioso paraíso
não causa mais dor...

Posso me afogar no seu olhar,
no seu corpo flutuar,
nos seus sonhos penetrar
e em sua vida do melhor jeito,
simplesmente estar!




Apagando maldades,
fazendo verdades,
reascendendo a antiga força reprimida,
largando os braços da morte 
e respirando o sopro da vida!

Recordando que um dia tentei...
Não te ter, para você nada ser,
Tanto que tentei...
e nunca consegui te esquecer.

Nas tentativas, felizmente falhei...
porque hoje posso sem medo, viver!


15 janeiro, 2011

Sobre o amor, o jogo... sobre fluir, desistir e, quem sabe, investir?




"Quer mesmo saber?
Neste suposto "jogo" do amor
ainda aposto todas as fichas.
Pelo puro prazer de um dia,
ainda voltar a vivê-lo!
Sem mais blefes nem vícios.
Vai entender?"
- Andréa Maia -

entendo sim
a vida é cheia de surpresas
imprevistos
temos mais é que deixá-la fluir
sem ansiedades
ou saudades
que só nos fazem desistir
quando devemos é insistir....
- marly caldas -


"Quer saber?
Jogo tudo no amor!
A vida sem amor não tem sabor...
No amor sempre se ganha,
Mesmo quando se perde depois...
E no amor se bate e apanha,
Mas a briga acaba sempre nos lençois!
Quem não vai querer?"
- otto -

Sei bem do que falam...
Se temos amor
devemos nele investir
Lutar, tentar e jamais desistir
Pois o que existiu um dia,
se foi forte e verdadeiro
irá a tudo resistir.
- Liana -


Já entendi!
Amor não tem jogo.
Quem tem é sedução.
Todos querem esse fogo.
Mas não resistem a tentação.
Que fazer,
se misturam-se amor e paixão?
- Cesar R.K -





11 janeiro, 2011

Consumidores consumidos



Um:

Desde a filosofia da diferença e da esquizoanálise... 
temos elementos para ver o ser humano 
como consumidor e consumido... 
não só de bens materiais de consumo... 
mas de subjetividade: consumimos afetos, emoções, 
desejos, amores, relacionamentos e... 
somos consumidos por eles!
Dor e dependência! 
Vícios consumistas!
Como sair dessa?
Pelo autoconhecimento e pela singularização 
de nossos momentos de ser e estar na vida: 
inventando uma vida para nós próprios... 
vivendo momentos e acontecimentos no presente. 
Esticando o presente! 
Dizendo não para essas formas de consumo... instituídas,
pré-mol-da-das e fabricadas!




Dois:

Quem disse que O Outro 
PRECISA GOSTAR DE NÓS COMO NÓS GOSTAMOS DELE?
 e VICE-VERSA?... 
Formas amortecidas de consumir... afetos... 
e criar expectativas... junto ao "irredutível" outro. 
Frustração!
Viver a vida como obra de arte... 
buscando "bons encontros" ... 
encontros que desinstitucionalizem... 
provocando desejo, cada vez maior... de vida... 
e cada vez menor de... certezas!
Tenha bons encontros consigo próprio e com o outro!
Receba meu abraço terráqueo e eólico!

Sobre os caminhos...




"Qualquer caminho é apenas um caminho
e não constitui insulto algum para si mesmo 
ou para os outros abandoná-lo 
quando assim ordenar o seu coração. (...)
Olhe cada caminho com cuidado e atenção. 
Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias. 
Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: 
Possui este caminho um coração? 
Em caso afirmativo, o caminho é bom. 
Caso contrário esse caminho 
não possui importância alguma." 
(Castañeda, C. The Teachings of Don Juan)



Mudar de idéia... com muita rapidez, pode ser inconstância, mas, pode, também, 
ser indício de fluidez com os próprios sentimentos, 
emoções e pensamentos: afinal... 
mudar de caminho quando o coração (e eu adiciono o pensamento e a atitude) 
assim o deseja(m) é sinônimo de flexibilidade para 
com o amor próprio: exercício 
sempre repetido de diferentes formas!!!


Sim... e é percorrendo esses caminhos, 
que a vida nos apresenta, que vamos fazendo conquistas, 
nos conhecendo, nos aprimorando e adquirindo experiências 
para outras tantas jornadas 
O melhor é que mudar de idéia, de atitude de sentimento... 
durante o próprio caminhar não constitui insulto... 
mas... inovação, capacidade de análise e síntese... 
e tantas outras coisas!!!

Como as pessoas perdem tempo 
querendo ser e estar sempre coerentes consigo próprias 
e com os outros!


A liberdade de mudar, na dependência 
do que se percebe e na dependência 
do que já se avançou no caminho é... fundamental!


10 janeiro, 2011

Tudo azul, ou... sobre um mago eremita apontando para outro mundo nesse mundo



A hora e a vez do azul


Música: The Big Blue















Algumas pessoas responderam 
dizendo Lindooooooooo!
Respondi o que segue abaixo:

Linda mesmo, é essa aqui!
Gosto da complexidade e da simplicidade dela...
Dos sentidos que produz...




Ele está sentado, introspectivo. Atento. Calmo.
Está no mundo interior, que possui um rica vida psíquica
e espiritual. É um mundo que ele conhece e no
qual se sente bem, em paz, mas não acomodado.

Ele está pensando... sabe que tem muito a aprender.
Mas, simultaneamente, ele está agindo.
Está em movimento: seus braços mostram...
Um outro mundo. Um novo mundo. Diferente
daqueles captados pelos sentidos comuns...
A luz de dentro se reflete no fora.

Ele habita simultaneamente os dois mundos.
Ou os três. O de dentro, o de fora comum e o de fora incomum.
Talvez quatro: o de dentro incomum... que ele desconhecia
e foi construindo ao longo das suas caminhadas pelas
coisas da vida... sempre observando a relação que
há entre esses mundos e a vida das coisas.

Mudança e permanência. Mudança e impermanência.
E para isso que ele está apontando.

Se fosse uma carta do taro poderia ser o eremita.
Os quatro elementos estão presentes.
poderíamos até cogitar do quinto.
Sim, o éter(eo) também está presente.
Também poderia ser a carta do mundo, o arcano... XXI.



Desembrulhar as flores (Ana Jácomo) e algumas rosas perfeitas (Clarice Lispector)






Poderíamos, com mais frequência,
tentar deixar a Vida em Paz
para desembrulhar suas flôres
no tempo dela, no tempo delas, e,
em alguns momentos,
nem desembrulhar.
Apesar da nossa cuidadosa aposta
nas sementes,
algumas simplesmente não vingam
e isso não significa que a Vida,
por algum motivo,
está se vingando de Nós.
Há muito mais jardim para
ser desembrulhado.

(Ana Jácomo)



"Eram algumas rosas perfeitas,
várias no mesmo talo.
Em algum momento tinham
trepado com ligeira avidez,
umas sobre as outras mas depois,
o jogo feito,
haviam se imobilizado tranquilas.
Eram algumas rosas perfeitas
na sua miudez,
não de todo desabrochadas
e o tom rosa era quase branco.
Parecem até artificiais!
Disse com surpresa.
Poderiam dar a impressão
de brancas se estivessem
totalmente abertas mas,
com as pétalas centrais
enrodilhadas em botão,
a cor se concentrava
e como num lóbulo de orelha,
sentia-se o rubor circular
dentro delas.
Como são lindas, pensou Laura
surpreendida.
Mas, sem saber por quê,
estava um pouco constrangida,
um pouco perturbada.
Oh, nada demais, apenas acontecia que
a beleza extrema incomodava."

Clarice Lispector



07 janeiro, 2011

Clarice Lispector e Nietzsche sobre invenção, ou fragmentos literários para uma clinica psicológica transdisciplinar






"Não quero ter
a terrível limitação
de quem vive apenas
do que é passível de
fazer sentido.
Eu não: quero uma
verdade inventada."

(Clarice Lispector)

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De um modo mais genérico:
se é o fluir que procuramos,
é na experiência da fluidez que vamos encontrá-lo
(no mar, no rio, no ventar...), não nas idéias
ou nos conceitos prontos.
Assim é que propomos que não há outro modo
 de conhecer - e isso se aplica tanto à arte,
à clínica, à política quanto à ciência -
senão pela experimentação.

Isso provoca um ferimento inevitável 
na prepotência narcísica racionalista, porque, daí,
uma coisa se torna óbvia:
o pensamento não será mais exclusividade da filosofia,
mas imanente à própria invenção da vida,
ou seja, passará a ter, através dos corpos, 
uma função eminentemente política.

Quando os devires podem usinar o pensamento,
ele se fará passagem, invenção e não paralisia
e unificação, porque as forças do devir 
- e não formas - 
agem por meio de desterritorializações,
inoculando potências disruptivas
no referencial das significações dominantes.

Pode-se entrever, assim, as consequencias políticas
dessa perspectiva: se a produção de conhecimento engendra
afetos que perpassam o corpo, ela pode mobilizar o desejo
nas direções mais diversas. Logo, estamos
ética e politicamente envolvidos com 
o conhecimento que produzimos, porque,
mais do que uma operação neutra e
unidirecional, produzir conhecimento significa
produzir mundos nos quais também habitamos,
ou seja, não somos, jamais, imunes às suas consequencias.

Nossos saberes tecem poderes
que nos enredam também em suas malhas.
é preciso, portanto,
experimentarmos os modos de conhecer
como modos de vida.

(Em: corpo, arte e clínica. Ed. UFRGS)

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"Não quero prosseguir", diz Zaratustra,
"não sou daqueles que buscam,
quero criar para mim meu próprio sol".

(F. Nietzsche)