14 julho, 2011

Amanhã, 15 de julho: Dia do Homem, uma data para não ser comemorada.



Mais uma data para o comércio e para a mídia se refestelatem e conseguirem alcançar seus intentos nefastos e dissumulados, gerando desejos, bens de consumo - materiais e imateriais - consumíveis na forma de alienação subjetiva, já que a intenção é de fazer parecer que nessa comemoração há uma equivalência, uma 
similutude, uma paresença com o dia da mulher, quando não há nehum.
Porque não há?


Muito simple: o masculino é hegemônico, ou seja dominante.
São os homens que dominaram toda a história da humanidade no campo político, social, intelectual, religioso e, até mesmo, no familiar pois, embora as mulheres cuidassem dos afazeres domésticos, sempre 
foram os homens que mandavam e obrigavam elas a fazerem os abortos 
para seus filhos indesejados; sempre foram os homens que controlavam o dinheiro e seus usos; os homens é que davam a palavra final sobre a esmagadora maioria das coisas que afetavam 
todos os componentes do grupo, fossem eles, mulheres e crianças, idosos e empregados. Os homens é que são os patrões, dentro e fora do trabalho


Foram os homens que fizeram as revoluções, as guerras e exerceram seus domínios não só sobre países, culturas e relações profissionais, políticas e sociais, mas, também sobre as familiares, sobre as mulheres, as diferentes faixa-etárias, etc.
Muitas vezes esse poder foi exercido de forma brutal e autoritária, sem dissimulações e mostrando sua cara violenta de maneira bem clara.
Hoje isso ainda acontece.
O homem e seu correspondente gênero masculino continuam hegemônicos, mas agora, já não de forma majoritariamente visível e explícita, mostra-se, portanto, dissimulada, num clima de semi-invisibilidade, pois os discursos politicamente corretos e a legislação, que pune - ou tenta punir - estão na ordem do dia, produzindo, a primeira, hipocrisias sempre reinventadas e mentiras completas e, a segunda, ou seja a legislação, tenta coibir os abusos, já que essa dominação está longe de terminar, mesmo com o avanço das leis de proteção aos excluídos, da maior e melhor conscientização das vítimas, da ocupação de cargos 
públicos e profissionais por mulheres, etc...


A hegemonia masculina não se dá só mediante o controle de países pobres pelos ricos, de patrões sobre empregados, mas de homens sobre mulheres,, crianças, velhos e, também, de homens brancos sobre todos os negros - homens incluidos - , agora afro-descendentes.
A maioria dos assassinatos, crimes passionais, viôlencia com agressôes físicas e verbais, abusos morais e sexuais, estupros e discriminações continuam sendo feitas pelo homem-gênero-dominante.
Comemorar o Dia do Homem, portanto, nesse contexto, é não só indesejável como completamente vergonhoso.


Dizer que se quer e está comemorando o "novo homem" que está surgindo e que cuida dos afazeres domésticos, participa na educação dos filhos, respeita os subordinados e, enfim, tem sensibilidade... é um engodo, já que esse novo homem não está pronto e não possui uma identidade reconhecida e identificável 
pela esmagadora maioria dos homens.
Assim, comemorar esse dia porque-se-comemora-o-dia-da-mulher é absolutamente midiático e sem conexão com os movimentos de transformação da sociedade.


Talvez se pudesse comemorar o dia dos homens (com h minúsculo) e das mulheres (também em minúsculo), pois que há diferentes e singulares jeitos de ser homem e mulher que não passam pelos jeitos aludidos pela mídia e pela reprodução do hegemônico.
Mais isso é muito para a mídia-que-não-sabe-pensar-diferença.


Falando em mídia, dois exemplos recentes.


Num, há uma apresentação de teatro onde um casal aparece assistindo o final da peça sob grande aplauso do público quando três carros aparecem e se colocam de forma apoteótica para "receber os aplausos".
A mulher se vira e vê, para seu espanto, surpresa, choque, o companheiro - um homem - chorando emocionado com o carro e sua performance. Patético.


Noutro, nas ondas do rádio (que eu trasncrevo abaixo) lê-se algo no site da emissora que parece ser impossível de estar acontecendo, tamanha a aberração.
Confira por você mesmo:


"Dia 15 de julho é o dia do homem no Brasil. Por isso a Ipanema e a 
Homem Company vão fazer um cara virar patrão. Quem responder 
melhor a pergunta "O que significa ser homem no século XXI?" vai 
comemorar sua testosterona com uma roupa nova da Homem Company, 
uma camiseta da Ipanema, vai poder entrar na melhor festa do dia, 
a Folharada, com direito a CINCO acompanhantes mulheres e ainda 
levar um passaporte Opinião pra fazer noite todas as sextas até 
março de 2012 de barbada, com acompanhante! Não coube na frase, 
mas tem mais. O Homem ganhador vai conhecer o estúdio da Ipanema e 
receber o prêmio aqui, no ar, com a Carol Reque.
Trabalha, lava a louça, tira a sombrancelha, escuta rock, acampa, 
fica em casa cuidando da criançada, assiste futebol e toma ceva? 
Sê homem e responde a pergunta! Quem é o homem do século XXI? Não 
esquece de incluir teu telefone na resposta.
O Vale-Presente da HOMEM COMPANY será de 01 (uma) Jaqueta Homem 
Náutica e 01 (uma) Calça Homem Náutica."


Link no site da emissora:
http://ipanema.uol.com.br/promocoes-interna.php?P=37



Resolvi participar e escrevi a seguinte resposta:

Significa ter sensibilidade para perceber o caráter reacionário e machista dessa promoção que enaltece a testosterona e recoloca "o patrão" no centro do poder, sabendo que esses dois "analisadores institucionais" dão visibilidade à hegemonia do masculino ao longo de toda a história da humanidade com suas características de uso da força, incentivo às guerras e dominação das minorias discriminadas (não numéricas, mas sociais), como as mulheres, crianças, pobres, velhos, homossexuais e imigrantes, dentre outros.
Significa resistir a "esse estado das coisas" e desenvolver atitudes críticas e ações solidárias que combatam todos os preconceitos e, nesse caso particular, a ideia de comemorar com 
CINCO mulheres, e assim, bancar o machão-de-plantão-que-ganhou-a promoção!
Significa saber que o mundo precisa de homens e não de machos, ou seja, ser homem no século XXI é abdicar desse lugar de onipresença do masculino estereotipado e dar abertura para o fluxo de devires... amando mais e melhor não só as mulheres, mas a humanidade toda.
Significa, ainda, questionar o texto dessa promoção e colocá-lo no contexto de sua criação e em relação à Ipanema FM, uma rádio que escuto faz muitos anos e que tem, também historicamente, um papel combativo e alternativo...
"O mundo mudou". 
E a Ipanema... também? 


Pra finalizar, quero dizer que isso, vindo da Ipanema FM, só pode ser provocação - uma forma de atiçar os ânimos e provocar indignação e reações... já que essa rádio é historicamente alternativa, crítica e combativa das formas dominantes; como o próprio Rock, o estilo, (genero?) musical que mudou o mundo para sempre com seu estimulo e prática absolutamente revolucionários no campo social, cultural e da constituição da subjetividade.

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