JORGE DE LIMA (1895-1953)
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E tudo haveria de ser assim, para contemplar-te sereno, ó morte,
e integrar-me nos teus mistérios e nos teus milagres.
Agora vejo os Lázaros levantarem-se
e...
08 agosto, 2009
O mago fala sobre o apego e suas relações com o espaço e o tempo
- Por que você fala em tempo e espaço Mestre? Acha que o tempo é um grande mestre e ... apaga tudo? Faz esquecer?
- Sim. Aquele dito popular está muito acertado. O tempo realmente ajuda a baixar os ânimos exaltados pelo calor dos acontecimentos. Ele subverte a raiva, o desespero e a tristeza. Ele realmente apaga e faz esquecer. Mas... também faz...lembrar. A mente, limitada, e que só olha e fixa o tempo, sem considerar o espaço, cria... apegos. Você sabe que eu não estou falando do espaço tridimensional: largura, comprimento e altura... rsrs.
- Sim Mestre, claro. Mas, conte-me sobre o apego.
- O tempo e o espaço, ou melhor dizendo, espaços-tempos, estão numa relação de imanência: um cruza o outro; um atravessa o outro; um não existe sem o outro. Mas a mente racional, fundamental para o nosso cotidiano, refiro-me ao uso das faculdades intelectuais e lógicas, tende a separá-los... e aí está o perigo e o engano comum. Ficamos binariamente pensando em passado e futuro, em passado do passado e futuro do futuro, esquecendo-nos do espaço-presente: aqui! Tempo-presente: aqui e agora! O tempo, assim tomado e desconectado do espaço gera apego pois tudo está no antes e no depois...
- Calma Mestre, calma! O que apego tem a ver com fururo?
- Estou calmo, muito calmo (risos)!
Elementar: por quê se guarda coisas?
Para lembrar o passado e para usufruir o passado... no futuro!
Ora, de que vale juntar coisas se não estamos pensando que podemos usá-las, mais adiante, no tempo? Só para re-lembrar o passado?
Sim e não.
Mas essa, penso, é apenas uma questão menor... o principal não está no apego como lembrança e nem no apego como utilidade. O mais importante está, não no que guardamos ou deixamos de guardar, mas nas atitudes que geram as relações espaço-temporais e tempo-espaciais com o que é/está guardado... nas gavetas, na memória, no corpo, nos afetos, nas relações... nesse ENTRE passado e futuro.
Quero dizer que você pode ter memória e usufruí-la e dela se apoderar... sem possuir a noção de CONTROLE.
Quero dizer que você pode ter muitos objetos e realmente não estabelecer com eles relações de poder binárias do tipo dominação-submissão.
Quero dizer que você pode possuir-sem-ser-possuido, embora isso seja muito difícil para a maioria das pessoas... assim como pode ser possuido-sem-possuir... hahahahaha
Quero dizer que você pode ter-sem ter, guardar-sem-guardar, embora o mais frequente seja... querer se livrar, dos objetos, coisas, memórias, afetos, vínculos, relacionamentos... para se desapegar e... sofrer. Diga-me, meu querido, o que/quem é mais apegado, o que tem e não se importa ou o que não tem (porque se livrou) e sofre?
- Acho que essa também é uma forma de raciocínio binário Mestre. - Sim, bingo. Jogo de palavras.
- Fico satisfeito que esteja atento. Mas isso existe, concorda?
- Sim, claro, existe e é muito comum, ordinário.
- Certo, então falemos sobre o espaço-vinculado-ao-tempo no aqui-e-agora.
Ora, o espaço se dá quando há uma espécie de suspensão hibernante do tempo... rsrsrs... quero dizer: quando você deixa de fazer cálculos mentais, outro nome para masturbação mental e controle egóico... rsrsrs... e passa a se apropriar de um intenso, elástico, oportuno (não oportunista!) presente-presente.
- Quando se está duas vezes presente, Mestre (risos)?
-Sim, duas vezes presente, ou mais vezes ainda... mente, corpo, coração, espírito... com um máximo de atitudes despretenciosamente cheias de pretensões... instituintes!
Apostar no nuclear, no atômico, no minusculamente GRANDE! INTERSTÍCIOS, micropolítica, linhas de fuga... acões desconcertantes do/no tempo medido... acionam... tempos infinitos de duração... eternos... mas não absolutos: fragmentos de eternidade-infinita.
Ainda somos muito... ahhhhh... não sei que palavra usar, então não vou usar nemhuma... para querermos...absolutos! Fiquemos com o espaço e esqueçamos do tempo... então... temos muitas chances de cavocar, abri, criar... espaços-tempos.
(De "Conversas preliminares com o mago sobre apego e suas relações com o tempo e o espaço. P.111 e 112)
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