29 agosto, 2009

Canto I....... II......... e III, por Tonho França





Canto I
(Tonho França)


Vi em sangue os pulsos da virgem
Cortado por navalhas de rosários e conchas
Dos seus pés sem vida, brotavam brumas de hóstias azuis.
Eram vermelho-uva os lábios da virgem
Tinha no hálito a plumagem galopante dos ventos
E cabelos que geravam leopardos e esfinges gregas
Seus olhos guardavam o canto das planícies e dos rios
E desde o princípio era ali que as noites se alimentavam
Vi em sangue os pulsos da virgem
E demônios que dançavam invisíveis sobre sua fronte
Do útero seco das consciências ouviam-se o crepitar das macieiras em chamas
Não dobrei meus joelhos, nem meus dedos tocaram a ferida
Preferi perder-me na fenda eterna da loucura
E ter em meus olhos, escamas e guizos de vertigem
De quem viu em sangue, os pulsos da virgem.


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Canto II

(Poema dedicado a Celso de Alencar)


Ouço cavalos em galope sobre as ondas
com asas de amálgamas e serpentes
e cascos de tempo e algas.
Dos seus olhos vertia a noite
Entre ventos de fúria e calmaria
com sete línguas de fogo
sete mandíbulas famintas
sete vozes distintas
e todas diziam meu nome
Não vi anjos ou amigos
Nem senti o calor das preces ou salmos
Nem o halo frio das condenações
Apenas o trotar em minhas retinas
Das patas de algas dos cavalos
E a morte em trajes marinhos
Dissolvendo meu nome
Em cânticos de mel e sal.

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Canto III

(Tonho França)



Meus olhos guardam os segredos da morte

A vi em sua plenitude

Com seios claros em ágata e flores

dentes de sabre e línguas de fogo

nos lábios o hálito cítrico do veneno dos deuses.

A vi em sua plenitude

olhos em tons de universo, sacro e profano

galgando ao vento com cascos de corsa

braços maiores que demônios e anjos

recriando a vida

em seu útero infinito

divinamente humano




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