Canto I
(Tonho França)
Vi em sangue os pulsos da virgem
Cortado por navalhas de rosários e conchas
Dos seus pés sem vida, brotavam brumas de hóstias azuis.
Dos seus pés sem vida, brotavam brumas de hóstias azuis.
Eram vermelho-uva os lábios da virgem
Tinha no hálito a plumagem galopante dos ventos
E cabelos que geravam leopardos e esfinges gregas
E cabelos que geravam leopardos e esfinges gregas
Seus olhos guardavam o canto das planícies e dos rios
E desde o princípio era ali que as noites se alimentavam
E desde o princípio era ali que as noites se alimentavam
Vi em sangue os pulsos da virgem
E demônios que dançavam invisíveis sobre sua fronte
E demônios que dançavam invisíveis sobre sua fronte
Do útero seco das consciências ouviam-se o crepitar das macieiras em chamas
Não dobrei meus joelhos, nem meus dedos tocaram a ferida
Preferi perder-me na fenda eterna da loucura
E ter em meus olhos, escamas e guizos de vertigem
Preferi perder-me na fenda eterna da loucura
E ter em meus olhos, escamas e guizos de vertigem
De quem viu em sangue, os pulsos da virgem.
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Canto II
(Poema dedicado a Celso de Alencar)
Ouço cavalos em galope sobre as ondas
com asas de amálgamas e serpentes
e cascos de tempo e algas.
Dos seus olhos vertia a noite
Entre ventos de fúria e calmaria
com sete línguas de fogo
sete mandíbulas famintas
sete vozes distintas
com asas de amálgamas e serpentes
e cascos de tempo e algas.
Dos seus olhos vertia a noite
Entre ventos de fúria e calmaria
com sete línguas de fogo
sete mandíbulas famintas
sete vozes distintas
e todas diziam meu nome
Não vi anjos ou amigos
Nem senti o calor das preces ou salmos
Nem o halo frio das condenações
Nem senti o calor das preces ou salmos
Nem o halo frio das condenações
Apenas o trotar em minhas retinas
Das patas de algas dos cavalos
E a morte em trajes marinhos
Dissolvendo meu nome
Em cânticos de mel e sal.
Das patas de algas dos cavalos
E a morte em trajes marinhos
Dissolvendo meu nome
Em cânticos de mel e sal.
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Canto III
(Tonho França)
Meus olhos guardam os segredos da morte
A vi em sua plenitude
Com seios claros em ágata e flores
dentes de sabre e línguas de fogo
nos lábios o hálito cítrico do veneno dos deuses.
A vi em sua plenitude
olhos em tons de universo, sacro e profano
galgando ao vento com cascos de corsa
braços maiores que demônios e anjos
recriando a vida
em seu útero infinito
divinamente humano
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