17 dezembro, 2010

Diferentes formas de desconstrução: Clarice Lispector, Fernando Campanella, Roseana Murray e Jéferson de Souza Tenório






Mas nem sempre é necessário 
tornar-se forte. 
Temos que respeitar 
nossas fraquezas. 
Então, são lágrimas suaves, 
de uma tristeza legítima 
à qual temos direito. 
Elas correm devagar 
e quando passam pelos lábios 
sente-se aquele gosto um pouco 
salgado, produto de nossa dor 
mais profunda.
Clarice Lispector


Há os que buscam continentes,
eu fico,é bem menos sólida
a terra de que me sustento. 
(Ah, a densidade dos anjos,
os imprecisos firmamentos.)

Há os que apostam em veleiros
e desafiam os ventos,
eu passo.

Eu do mar vou abrindo os búzios
que a fúria cega 
às vezes consente.

Meu lanceé a configuração 
do silêncio.

Fernando Campanella

Dead Can Dance - In The Wake Of Adversity 
  
Cocteau Twins - Lazy calm

EQUILIBRISTA 

Procura-se um equilibrista que 
saiba caminhar na linha que divide a noite 
do dia que saiba carregar nas mãos um fino 
pote cheio de fantasia que saiba escalar 
nuvens arredias que saiba construir ilhas 
de poesia na vida simples de todo o dia. 
- Roseana Murray -



O tempo abandonado

Já reparou quanta poesia há num relógio  parado?
Um relógio estragado é uma afronta, um protesto
Contra o tempo inventado pelos homens

Um relógio parado desafia a velocidade.
Um ponteiro estático não marca o tempo
Marca permanência. Exerce eternidade.

O trágico silêncio dos ponteiros
É uma elegia às horas mortas

Cada ato de um relógio estragado
Desassossega o efêmero.

Um relógio inútil desafia todos os minutos
Ilude o atraso, dói o tempo...

Um tempo morto, esquecido, abandonado.

Jéferson de Souza Tenório 



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