30 julho, 2009

Boa noite meu filho

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Ele estava deitado na cama do seu quarto. Estava virado de lado e apoiando-se no lado direito do seu corpo, o lado que gostava de dormir. Havia ficado nessa posição com o auxílio da sua cuidadora, uma profissional que havia sido contratada para tomar conta dele e ajudá-lo naquilo que já não podia mais fazer por si. Seus olhos demonstravam contentamento: finalmente ele estava como queria... deitado, na sua cama... o melhor momento do dia. Sempre que ia deitar-se ficava contente, daria para dizer... que se sentia... feliz.

Ele estava sem os dentes na boca, já que suas próteses dentárias, as chamadas chapas, estavam de molho numa solução indicada pelo seu dentista.
Sua expressão facial assemelhava-se a de uma criança, ou melhor, parecia-se mesmo com a de um bebê. A boca com apenas um dente natural estava murcha e parecia muito pequena para um homem adulto e velho.
Foi com essa boca murcha e quase sem dentes que ele disse:

Boa noite, dorme tu também bem, meu filho!

O som dessa fala saiu claro, alto, pausado e suave, e havia nesse tom e nessa frase tanta gratidão, contentamento e bem estar que, acredito, ele nem conseguiu, supor, naquele momento, o que estava se desencadeando no seu filho.

Ao sair do quarto, o filho, que caminhava muito vagarosamente, mas a passos largos, embora tivesse torcido o próprio corpo de forma quase brusca, dando as costas ao pai, tinha um intenso e estranho brilho nos olhos: uma mistura heterogênea das lágrimas que estavam se formando, de esperança, de aceitação, de fé, de entrega, de amor e de outras tantas emoções indescritíveis. Ele sabia que jamais esqueceria aquele momento.
Um pai-velho-bebê era algo que ele nunca havia imaginado e, apesar de todas as dificuldades implicitas dessa condição, ele sentiu um amor tão grande e uma emoção tão imensa que pensou que nunca antes em toda a sua vida havia amado tanto assim o seu pai.

Boa noite, dorme tu também bem, meu filho!

Este acontecimento ficará na sua memória para sempre!
Ele agradeceu pela oportunidade de ver saindo daquela boca desdentada aquela imensidão de vida; agradeceu porque tanta vida se mostrava e se atualizava mesmo quando pareceia que ela iria embora a qualquer momento; agradeceu porque seu pai estava vivo, em casa, na sua cama e lhe dizia boa noite, dorme tu também bem meu filho!

Ele agradeceu com o coração cheio de genuina felicidade aos seus dois pais: o do Céu e o da Terra.

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Um comentário:

Kátia disse...

Você sabe que amo esse lugar...
Sempre há bom perfume por aqui!!!!

Um texto simples... Uma emoção complexa...
Essa emoção subjetiva e verbalizada não me deixa descrever a emoção que senti por essa emoção.
Verbalizá-las nunca foi um ato simples...

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