16 julho, 2009

Na Corte dos Deuses Dourados





Na Corte dos Deuses Dourados

A ascensão é o trecho mais difícil. Primeiro tens que procurar um bosque de plátanos , e somente de plátanos, que se situe em cima de uma grande colina. A presença de qualquer outra árvore torna inviável o caminho aos Deuses, pois são nos bosques puros de plátanos que se encontram as escadarias para o palácio Deles.

Encontrado o bosque de plátanos, deves esperar até o outono, quando suas folhas ficam douradas como os Deuses que procuras. No mesmo outono, deverás saber qual será o dia mais longo da estação, e nesse dia, deverás te dirigir ao ponto mais alto da colina onde está o bosque, e esperar o entardecer.

Então, quando o chão, as árvores, o céu e o teu coração estiverem da cor do ouro, deita-te sobre as folhas douradas e espera até que A Escadaria venha até ti.

Ela será, obviamente, dourada. Terá degraus brancos com entalhes de madeira marrom-claro, e seu corrimão será do mais puro ouro. Ascenderá como um espiral, na direção do Sol e por baixo do arco-íris. Apesar de longa e cheia de degraus, não será uma subida desagradável, tamanha a beleza da paisagem que apreciarás no caminho: Primeiro, verás a própria floresta de plátanos de onde veio, com suas copas douradas espalhando-se pela terra como a lã do Bode Dourado que Hermes deu á Nephele. Em seguida, o pôr-do-sol refletido num reluzente oceano amarelado brilhará tão forte que o próprio Sol será ofuscado.

E quando tal fenômeno ocorrer, terás que fechar os olhos e ser forte. Estarás mais alto que Ícaro no apogeu de seu vôo, mais alto do que o caminho que a carruagem de Apollo percorre, mais alto que os mais altos ramos de Yggdrasil. Estarás no Palácio dos Deuses Dourados.

A primeira coisa que verás quando lá chegares será um longo e ondulado campo. Chamado pelos Deuses de “Os Novos Elísios”, lá descansam perto de riachos e sob pequenas árvores os heróis que em vida cumpriram os desígnios dos Deuses Dourados, e local onde o pôr-do-sol é eterno. No horizonte, não há montanhas nem oceanos, apenas mais campos ou a beira de um abismo do qual manterás distância caso não queiras cair nas profundezas d’A Escuridão.

No centro desses campos, cercado por altas muralhas douradas de laje, ergue-se imponente o Palácio em si. Suas torres, compridas e finas, dão a impressão a quem vê de longe de que o palácio é na verdade uma montanha de ouro.

Ao te aproximardes do portão alaranjado do Palácio, serás recebido com uma chuva de pétalas de girassol e badaladas de imensos sinos de ouro e prata. Aberto o portão, verás um longo caminho pelos jardins do Palácio, que levará a porta de entrada da Corte dos Deuses.



Neste jardim, em volta de fontes e flores, sob árvores e coretos ornados deliciam-se Os Jovens. Estes são os Deuses que escolheram não envelhecer em mente, corpo e alma divina, e que ao invés disso preferiram passar a eternidade declamando poesias, compondo e executando belas canções uns para os outros, amando-se mutuamente, pintando belos quadros, lendo grossos livros, bebendo, comendo e cultivando a própria beleza: todos tem longos cabelos, de todas as cores, e vestem belas e extremamente bem trabalhadas roupas, longas e coloridas.

Caso queiras ficar por lá, com certeza provarás dos mais profundos prazeres. Caso contrário, siga o caminho de pedras claras entre o gramado, até a porta da Corte.

As proporções do lado de dentro do Palácio serão aterradoras. Colunas jônicas se estendendo na direção de um teto tão alto que abriga nuvens, estrelas, sois e luas sob ele. Diversas escadas, portas e corredores levando a tantas câmaras e quartos quanto sua imaginação pode criar. Apenas um será constante e direto: o caminho indicado por um tapete vermelho de bordas douradas, que passa sobre gloriosos arcos até chegar á sala onde ficam outros Deuses.

Uma sala tão grande quanto o hall de entrada. Estantes repletas de livros assumem alturas quilométricas. Mesas colossais onde se sentam figuras imponentes e bem vestidas se espalham por toda a câmara. Aqui estudam e pensam Os Iluminados, os Deuses que escolheram cultivar o conhecimento e fortalecer a mente. Sua biblioteca contém escrito todo o saber do multiverso, e cada momento é preenchida com mais saber criado por estes Deuses. Se queres a resposta para algo que nenhum mortal sabe, apenas fale com o Bibliotecário e ele lhe indicará o livro que contém a resposta. O silêncio, entretanto, é absoluto e inquebrável. Ninguém nunca tentou, e ninguém ousaria tentar emitir algum som para saber o que aconteceria. O livro que conta a empresa da única alma viva a emitir um som ali jaz aberto em cima de uma mesa logo afrente da entrada da Biblioteca.

Por fim, a última porta do Palácio levará á Corte em si. Logo que atravessá-la, terás dissipado o ego, a mente e o corpo. Sobrará apenas a alma, indefinida e harmônica. Embora não possa ver, apenas sentir, a Corte é luminosa e cheia de vibrantes energias. O tempo passa caoticamente lá. No seu centro, encontram-se os Deuses Dourados em sua essência mais pura e menos humana. As experiências lá vivenciadas são totalmente espirituais, e não deixam rastro na memória ou no corpo, além de anular toda a lembrança do Palácio e de sua ascensão.

Assim que as experiências indescritíveis por palavras, imagens ou sons terminarem, te encontrarás deitado, sobre as folhas secas do outono num bosque escuro sobre uma colina. Já será de noite, estará frio e tudo será como um sonho: Marcado profundo dentro da alma, mas inexistente na mente ou no corpo.
(Desconheço a autoria)



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