20 agosto, 2009

Entrevista com a dragão... fragmentos



"Você viu aquele filme chamado "Entrevista com o Vampiro"?
Pois é, seria recomendável que fizesse uma entrevista
com outro vampiro, o dragão!"

"A conversa com o dragão é extremamente recomendável
no processo de depuração e lapidação que passamos quando
estamos trilhando os caminhos que buscam conhecer nossas
extranhezas existenciais".

"O dragão é um ser muito, mas muito poderoso!
Ele se coloca a serviço e muitas vezes é uma parceiro
inseparável do ego, isso mesmo, do seu ego"
Quer sacrificar seus ideais mais intensos de vida
ao desejo de morte." Nessa condição, ele se alia para
transformar situações simples e prazerosas em territórios
de inferno... e promove, através de atos francamente terroristas,
catástrofes existenciais que poderiam, se não bloqueadas,
levá-lo ao Nirvana aqui: sentimentos de paz e bem estar indizíveis
são transformados em... dor e sofrimento."

Creio que nem está correto falar em dragão, no singular,
mas sim em dragões. Medo, pânico, rituais obsessivos - como os
excessos de controle -, ira, gula, bulimia e outras tantas formas de
adoecer psiquicamente podem estar co-regidas pelos dragões...
em auxílio ao ao seu ego.

Eles também podem assumir a forma hedionda de representações
psíquicas inconscientes, regadas a sentimentos de culpa e de processos
francamente culpabilizadores: sadismo e masoquismo em uníssona canção:
sons desarticulados, nada harmônicos, que ecoam numa sinfonia dos horrores!
Já sei, você vai me indagar acerca dos exemplos.
Tem vários:
1. Quando está possuído de incontrolável intensidade de desejo sexual (aahhh é maravilhoso e sedutor sentí-lo e deixá-lo fluir em direção ao seu objeto de amor-paixão-desejo... mas deixá-lo fluir não quer dizer jogá-lo sobre o outro e ... bem, impô-lo, ainda que de forma dissimulada, o que é bem pior. Percebe o que chamo de poder do dragão?;
2. Quando movido por frustrações, coloca a culpa nos outros e exime-se da responsabilidade própria na criação das condições que provocaram as frustrações, como com a sua famigerada fantasia de expectativas... você vai criando a "realidade" na sua mente e dela faz um ou vários castelos de areia na frente da primeira onda do mar... ora, ora;;
3. Quando comete erros que considerava já terem sido trabalhados e resolvidos em você e se depara com a repetição: você fez "tudo errado" de novo e se recrimina profundamente por isso... aí está um dos dragões cuspindo seu fogo em você... e você se queimando nele... ardendo em brasas de auto-ruminação, de auto-flagelo... e de autopunição;
4. Quando você nega-se às possibilidades ímpares de estar a sós consigo e passa a buscar a realização "do desejo do outro"... submetendo-se às mais variadas formas dissimuladas e sedutoras de... vampirismo e sodomia.
5. Só para citar mais um: quando, e este é muito, mas muito comum, deixa-se levar pelas idéias de que você é melhor do que o outro - todos os outros - e se convence disso, criando assim, idéias supervalorizadas da sua importância e da sua performance... em todos os campos da sua atuação... profissional, sexual, espiritual, criativa, afetiva, social, familiar... sente-se imprescindível, como se o mundo e as pessoas, todas as demais pessoas, nada pudessem sem você e o seu inestimável auxílio! Alguns chamam isso de egocentrismo (muito fraca essa palavra), outras de narcisismo (muito psicanalítica), outros, ainda, chamam isso de onipotência (essa eu gosto, porque ela está diretamente ligada ao seu companheiro dialógico, a impotência).
Ora, variações sobre o mesmo tema: você está sendo dominada pelo seus monstrinhos internos e pelo seu eguinho... achando-se... simplesmente... o máximo!"

"É legitimo, humano e aceitável sentir raiva. Até mesmo aquela raiva na qual você pensa - ou diz - que tem vontade de matar o outro. Assim como são legítimos, humanos e aceitáveis tantos outros sentimentos dessa nossa condição "humano-demasiado-humano". Os tais ciúmes, desprezo, menosprezo, inveja, rancor, mágoa, cobiça, e todos os demais sentimentos considerados "menores" são monstros que o atacam quando você JÁ OS CONHECE e se deixa dominar por eles por um período considerado longo de tempo... e quando eles preenchem um espaço... grande. O que é longo e grande? Só você pode dizer e concluir.
Como saber qual o poder e como se dá esse poder... desses sentimentos em você... se não os experimenta ou experimentou, se os nega dizendo... "não, eu não sinto ciúmes"?
Ora, mas é muito diferente sentir vontade de matar alguém... de... matar alguém."

"A conversa, ou nos termos iniciais, 'a entrevista com o dragão', pode não ser uma empreitada fácil já que eles são ardilosos, sedutores e manipuladores em graus altamente elaborados. Dissimulados, eles, os dragões, podem fazê-lo crer que você está sendo infantil, ridículo, passional ou racional demais... patético, enfadonho, mesquinho, invejoso... etc.
Eles podem parecer amigos confidentes que, no entanto, giram tudo contra você e a favor deles, sem que você perceba isso de imediato."

"Um dos maiores problemas na lida com os dragões internos reside no fato de que eles aprazem-se em fazê-lo pensar OU fazê-lo sentir que os pensamentos são tudo... OU que os sentimentos são tudo. Com isso fomentam a discórdia, a dissociação e a negação da dualidade do nosso mundo, esquecem que em nome de pensamentos... se mata e em nome de sentimentos... também se mata! Exemplos: do primeiro caso, os talibâs do Afeganistão e todos os regimes discriminatórios; do segundo, os crimes passionais all over the world."

"Sua principal arma e sua principal força na luta contra os dragões está na associação de pensamentos e lógica com sentimentos e ações. Uma outra possibilidade viável, em casos extremos, está em você usar a linguagem que eles conhecem e dominam: seja sedutor, manipulador, dissimulado... minta para eles e os enrole. Isso vai deixá-los muito fracos... "

"Seja como for, em algum momento da sua vida, mais cedo ou mais tarde, você vai ter de se deparar com seus dragões e esse é um encontro do qual não se sai incólume. Podemos sair feridos, queimados, chamuscados, mas temos de fazer esse encontro dragônico se quisermos crescer e nos tornar pessoas... melhores e mais lúcidas e com melhor e maior discernimento acerca das coisas da vida e da vida das coisas".

"Tudo isso que falei acerca dos dragões internos, aqueles que habitam as entranhas da sua psique... vale para os dragões externos... aqueles com quem você se encontra e convive em n lugares."

"Está desanimado?
Não fique!
Budha já dizia que a vida é sofrimento.
Freud e seus seguidores nos mostraram que o inconsciente existe.
A astrologia nos mostra que temos as características para fazermos o que de melhor existe para nossa evolução.
A esquizoanálise nos mostra que os devires são forças e potências sociais que, como a água, penetram as rochas mais duras e as fazem sucumbir."
E nós, os magos... aprendemos a fazer isso ... brincando (risos).

(Fragmentos de "Palavras do mago acerca das conversas com o dragão". P.108)




4 comentários:

Kátia disse...

Nossa quantas coisas desses dragões! Mais me parecem o lobo mau.Desanimada,hahahaaha!!! Brincadeira.

Não somos mesmo conscientes de tudo que há dentro de nós. O caminho é "trabalhar-nos" dia após dia se desejarmos enfrentar cada aspecto conscientemente.

Sempre peço iluminação para que não tenha, em momento algum, desânimo de ser levada à luz.

.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Nem temos como, caríssima, ser conscientes de tudo o que está dentro de nós, senão... estaríamos loucos, amarrados... ou beatificados no paraíso... ou, de acordo com algumas crenças RELIGIOSAS... em algum dos paraísos... talvez com aquelas mulheres dançando lindamente em torno de nós.
Falando nisso: como será o paraíso das mulheres muçulmanas que são mulheres-bomba?
Elas se explodem para ir pro paraíso, tal qual os homens fazem... mas come será o delas? Será que os homens lá também dançam?
kkkkkkkkkkkk

Numa perspectiva mais esquizo(analítica) não somos "levados" em direção à luz... por algum condutor...
Nós próprios podemos fazer a luz e nela mergulharmos... assim como também... podemos sim ser ajudados por alguém que nos acompanha, partilha, vê, orienta... enfim... um outro...
Mas, uma coisa está relacionada? não há luz sem conhecer as trevas.

O Gustav Jung diria, tipo, a sombra...

pedro disse...

Gostei do texto e sobretudo do intento de liberação que reconheço por trás da escrita do texto. Lamento, no entanto, ver a impotência das artimanhas do apego ao si-mesmo associada à figura dragônica.

Abraços.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Não sei se entendo o que você chama de apego ao si-mesmo, Pedro. Seja como for, gostei do seu comentário e de tê-lo feito... é tão raro!
Estratégias para combater os dragões... precisamos de muitas se quisermos não fugir deles, mas vencê-los.