24 julho, 2010

Fernando Pessoa: "sou o próprio cavalo que monto", ou sobre encontros singulares.





O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo.
É comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito…

Pra frente! Meto esporas! 
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em que monto. 
Porque eu, por minha vontade de me consubstanciar com Deus, 
posso ser tudo ou posso ser nada ou qualquer coisa.

- Álvaro de Campos 




Essa fusão da qual Fernando Pessoa, no seu
heterônimo Álvaro de Campos, fala
é aquela que acontece nos bons encontros
e que se caracteriza pela idêntica intensidade
 e desejo de entrega dos envolvidos.
Embora distintos e preservando suas diferenças, 
eu e não-eu se tornam uma mesma e semelhante coisa.

Ocorre ao se dirigir um carro.
Ocorre em algumas relações amorosas.
Ocorre ao se tomar uma bebida.
Ocorre ao fumar um cigarro.
Ocorre em conversas profícuas com
"interlocutores fidedignos"...
Ocorre num momento de prece
ou meditação;

Enfim, ocorre em situações de
ímpar intensidade existencial que
eleva a dupla componente para
além e aquém das suas identidades individuais.

Além: o que sei de positivo acerca em mim, se supera.
Aquém: .aquilo que suponho intransponível 
pelo meu ego, se desmonta e possibilita 
o devir animal aparecer.

Também os fragmentos de mim se somam
(multiplicam?) aos fragmentos do outro, 
formando uma totalidade não fechada 
e que resiste as interpretações do tipo
"esse sou eu" e dão lugar a um
esse "somos nós".

Os nós de nós foram desfeitos, momentaneamente, 
e nos entregamos ao imprevisível 
desse encontro... singular, inusitado
e repleto de inéditos... acerca desse nós
que-não-sabíamos-como-sendo-nosso.

Um comentário:

Kátia disse...

Álvaro de Campos ou você??? Hahahahahahahah.
Ambos.

Bons encontros... uma potencializada mistura cheinha
das mais boas energias.

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