Cântico Negro
(José Régio)
Na versão declamada
Por Maria Bethania em "Nossos Momentos."
....................
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(E há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
Eu cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
É não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se há o que busco saber, nenhum de vós respondes
Por que me repetís: "vem por aqui!"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Feito farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Somente para desflorar florestas virgens,
E desenhar os meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, o sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Eu amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes tratados, tendes filósofos, tendes sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
E levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E eu sinto espuma, e sangue... cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, e mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Eu nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se levantou,
...um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Mas sei... que não vou por aí!"
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(E há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
Eu cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
É não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se há o que busco saber, nenhum de vós respondes
Por que me repetís: "vem por aqui!"
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Feito farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Somente para desflorar florestas virgens,
E desenhar os meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, o sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Eu amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes tratados, tendes filósofos, tendes sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
E levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E eu sinto espuma, e sangue... cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, e mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Eu nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se levantou,
...um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Mas sei... que não vou por aí!"
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