10 outubro, 2009

HETERÔNIMO DE MIM, por Luiz Gilberto de Barros





HETERÔNIMO DE MIM
Luiz Gilberto de Barros

Oh, poeta, meu irmão, tu fazes parte
Do que eu sinto, como homem, como artista;
Tu transformas meu amor ou dor em arte
Teu lirismo me envolve e me conquista.

Heterônimo de mim, tu multiplicas
Meu amor quando me instalas no teu ser
Se eu parto, perpetuas, porque ficas,
A alegria que eu tenho de viver.

O poeta é passarinho: quando voa,
Ele atinge a dimensão do infinito;
Quando canta sua dor, o amor ressoa
Porque o canto é o amor que jaz... no grito.

E por seres passarinho e voares
Pelas páginas azuis do amor sem fim,
Tu acabas justamente de pousares
Nesse amor que há de existir dentro de mim.

O poeta nunca finge, ele encanta
Cada instante que lhe brota repentino
Quando sua emoção sublime é tanta
Que ele espanta até a dor e o desatino.

Ah, poeta, eu queria que me visses
Como alguém igual a ti e que eu te olhasse
Como um ser igual a mim e que sentisses
O que sinto, cada vez que eu te pensasse.

E que juntos, ao nos lermos, sublimássemos
A essência do que nos revitaliza
E que toda obra-de-arte que criássemos
Fosse bálsamo que o sonho eterniza.

E como todo poeta reinventa
Cada amor que existe em cada coração,
Eu invento este amor que me acalenta
Quando sinto que tu és o meu irmão.




Um comentário:

Kátia disse...

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer.

"Eu invento este amor que me acalenta"

É a dor do não vivido... É a ilusão do que se sonha...
E viva Drummond quando diz:
"...Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional…"

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