21 maio, 2010

Cancioneiro, por Fernando Pessoa




O

sol às casas, como a montes,
Vagamente doura.
Na cidade sem

horizontes
Uma tristeza loura.

Como a sombra da tarde

desce
E um pouco dói
Porque quando é

tarde
Tudo quanto foi.

Nesta hora mais que em outra

choro
O que perdi.
Em cinza e ouro o

rememoro
E nunca o vi.

Felicidade por

nascer,
Mágoa a acabar,
Ânsia de só aquilo

ser
Que há de ficar –

Sussurro sem que se ouça,

palma
Da isenção.
Ó

tarde, fica noite, e alma
Tenha perdão.

Fernando Pessoa
Cancioneiro



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