30 junho, 2010

Clarice Lispector: três fragmentos abordando a identidade



Eu antes tinha querido
ser os outros para conhecer
o que eu não era.
Entendi então que eu já
tinha sido os outros
e isso era fácil.
Minha experiência maior
seria ser o outro dos outros:
e o outro dos outros era eu!


"...estou
procurando, estou
procurando.
Estou tentando me
entender. Tentando
dar a alguém o que
vivi e não sei a quem,
mas não quero ficar com
o que vivi. Não sei o
que fazer do que vivi, tenho
medo dessa desorganização
profunda."


Continuo sempre me inaugurando,
abrindo e fechando círculos de vida,
jogando-os de lado, murchos,
cheios de passado.
Por que tão independentes,
por que não se fundem num só bloco,
servindo-me de lastro?
É que eram demasiado integrais.
Momentos tão intensos, vermelhos,
condensados neles mesmos
que não precisavam de passado
nem de futuro para existir.


Clarice Lispector



Um comentário:

Kátia disse...

Somos esboços inacabados, portanto sempre tentando equilibrar a busca do nosso caminho... exclusivo, não é mesmo?
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