Dá-me a Tua Mão
Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei naquilo que existe entre o número
um e o número dois, de como vi a linha de mistério
e fogo, e que é linha sub-reptícia.
Entre duas notas de música existe uma nota, entre
dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia
por mais juntos que estejam existe um intervalo de
espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos
interstícios da matéria primordial está a linha de
mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a
respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
(Clarice Lispector)
Aqui a arte de Clarice
expressa as linhas de
fuga, os interstícios,
o impensável, numa
palavra: o ENTRE!
O que acontece
ENTRE nós e nos
produz?
Como o amor
opera ENTRE nós?
Como é que essa
multiplicidade de
ENTRES que nos
perpassa se com-
solida como ações
que nos singularizam?
Como se dá a
comunicação ENTRE
nós?
O que se passa ENTRE
nós que produz esse
nós de nós e que é
tão diferente de
outros tantos ENTRE
nós?
E o silêncio...
E as falas...
E os ditos...
E os não ditos...
E os olhares...
E os afetos...
E as semelhanças
E as diferenças...
E tudo...
ENTRE nós?
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