Sono
Porque é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?
Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violência
Me faz ver sem visão?
Porque é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?
Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violência
Me faz ver sem visão?
Entre o que vivo e a vida,
Entre quem estou e sou,
Durmo numa descida,
Descida em que não vou.
Entre quem estou e sou,
Durmo numa descida,
Descida em que não vou.
E, num infiel regresso
Ao que já era bruma,
Sonolento me apresso
Para coisa nenhuma.
Fernando Pessoa
2 comentários:
Como já disse lááááááá... momentos da alma deste homem tão complexo.
Palavras que vertem apenas a emoção de um homem num momento triste e sozinho.
.
E também como eu disse láááá...
Não vejo tristeza.
Vejo a solidão da genialidade, das lentes incomuns que podem ver onde outros não podem... e que querem mostrar...
Aparentemente parece retratar um pessimismo, mas acho que é realidade fria e consciente de quem
já nem está rodando na espiral das ilusões.
Um cansaço que não desanima com o que vê, só se cansa.
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