03 março, 2011

Sono, por Fernando Pessoa




Sono

Porque é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?

Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violência
Me faz ver sem visão? 


 

Entre o que vivo e a vida,
Entre quem estou e sou,
Durmo numa descida,
Descida em que não vou.

E, num infiel regresso 
Ao que já era bruma, 
Sonolento me apresso 
Para coisa nenhuma.

Fernando Pessoa






2 comentários:

Kátia disse...

Como já disse lááááááá... momentos da alma deste homem tão complexo.
Palavras que vertem apenas a emoção de um homem num momento triste e sozinho.
.

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

E também como eu disse láááá...

Não vejo tristeza.
Vejo a solidão da genialidade, das lentes incomuns que podem ver onde outros não podem... e que querem mostrar...

Aparentemente parece retratar um pessimismo, mas acho que é realidade fria e consciente de quem
já nem está rodando na espiral das ilusões.
Um cansaço que não desanima com o que vê, só se cansa.