Presença
É preciso que a saudade desenhe
tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que,
apenas, levemente,
o vento das horas
ponha um frêmito
em teus cabelos
É preciso que a tua ausência
trescale sutilmente, no ar,
a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito
guardadas
não se sabe por quem
nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também,
que seja como
abrir uma janela
e respirar-te,
azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade
para eu sentir
como sinto – em mim –
a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges
és tão outra
e múltipla
e imprevista
que nunca te pareces
com o teu retrato…
E eu tenho de fechar
meus olhos
para ver-te.
Mário Quintana
Até mesmo
Um amor
Inventado, criado
É amor.
E pode perdurar.
Quando a idealização e
a imaginação
são forças potencializantes
de formação de real (idade).
2 comentários:
Um poder da mente?
Será amor mesmo? Sei não...
.
Aqui 'amor' - o substantivo masculino abstrato - tem suas fronteiras abertas e pode facilmente se confundir com beleza, paixão, idealização, fascínio, encantamento, obsessão.
Pode mesmo se confundir com a potência criativa dos poetas amantes das idéias de amor, paixão, fascínio, beleza, enfim... com todas essas.
Claro que sempre há, imagino, uma musa inspiradora - ou um muso - que se transforma no CANAL de experimentação e afetação do escritor que assim 'define' seu 'objeto' e o que por ele... sente, pensa, deseja, quer.
Por vezes é o próprio querer... o próprio escrever... o próprio desejar... que é o GRANDE objeto do amor, da paixão ou de ambos.
Sim, nesse último sentido, é um poder da mente.
Não de uma mente abstrata que está estratosféricamente longe do 'objeto'... mas está estranhamente presente COM O CORPO mental e físico ENVOLVIDO COM ESSE SUJEITO-OBJETO (A MUSA OU MUSO).
Seu pelo comentário com outro texto do Fernando Pessoa aborda essa questão também.
Vou para lá... comentar.
rs
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