JORGE DE LIMA (1895-1953)
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E tudo haveria de ser assim, para contemplar-te sereno, ó morte,
e integrar-me nos teus mistérios e nos teus milagres.
Agora vejo os Lázaros levantarem-se
e...
19 abril, 2011
U de Uno, por Gilles Deleuze, ou sobre os universais e as singularidades: n - 1
U de Uno
CP: U, V, W, X, Y, Z. É o fim e vamos ser rápidos. U de Uno; V de Viagem; W de
Wittgenstein, X, o Desconhecido, Y vamos deixar para os neo-platonicianos e Z fecha e
ilumina. U é Uno.
GD: Uno.
CP: Sim, Uno. A Filosofia ou a Ciência cuidam do universal. No entanto, você diz que a
Filosofia deve manter contato com as singularidades. Existe um paradoxo?
GD: Não há paradoxo, porque a Filosofia, e até mesmo a Ciência, não tem nada a ver com
o universal. São idéias preconcebidas de opiniões. A opinião sobre a Filosofia é que ela
cuida do universal. E a opinião sobre a Ciência é que ela cuida de fenômenos universais
que podem se repetir. Mesmo se pegar a fórmula de que todo corpo cai, o importante não é
que todos os corpos caem e, sim, a queda e as singularidades da queda. Que as
singularidades científicas como as da matemática, da física ou da química, como ponto de
congelamento, sejam reproduzíveis, tudo bem, mas e daí? São fenômenos secundários,
processos de universalização. Mas a Ciência não cuida de universais, mas de
singularidades. Quando é que um corpo muda de estado e passa do líquido para o sólido,
etc.? A Filosofia não cuida do Uno, do ser, nada disso.Tudo isso é besteira! Também ela
cuida de singularidades. Seria preciso perguntar o que são as multiplicidades. As
multiplicidades são conjuntos de singularidades. A fórmula da multiplicidade é “n menos
1”. Ou seja, o 1 é sempre o que deve ser subtraído. Acho que há dois erros que não devem
ser cometidos. A Filosofia não cuida de universais. Há três universais. Poderíamos
relacioná-los. Há os universais de contemplação, as Idéias, com um I maiúsculo. Há os
universais de reflexão e os universais de comunicação. É o último refúgio da Filosofia dos
universais. Habermas gosta muito dos universais de comunicação. Isso implica definir a
Filosofia como contemplação, como reflexão ou como comunicação. Os três casos são
cômicos. É uma palhaçada. O filósofo que contempla, tudo bem, é muito engraçado. O
filósofo que reflete não é engraçado. É pior, porque ninguém precisa de um filósofo para
refletir. Os matemáticos não precisam de um filósofo para refletir, um artista não precisa
procurar um filósofo para refletir sobre a pintura ou a música. Boulez não precisa dele para
refletir sobre música. Dizer que a Filosofia é uma reflexão segura é desprezar a Filosofia e
o motivo de sua reflexão. Não precisa de Filosofia para refletir. Quanto à comunicação,
nem se fala! A idéia de que a Filosofia seja um consenso para comunicar a partir dos
universais da comunicação é a idéia mais divertida que já vi. A Filosofia não tem nada a ver
com comunicação. A comunicação se basta. É uma questão de opinião e de consenso de
opinião. É a arte das interrogações. A Filosofia não tem nada a ver. Como já disse, a
Filosofia cria conceitos. Não é comunicar. A Arte não é comunicativa, não é reflexiva, nem
a Ciência, nem a Filosofia. Não é contemplativa, nem reflexiva, nem comunicativa. É
criativa. Nada mais. A fórmula é “n menos 1”, eliminar a unidade, eliminar o universal.
CP: Então, os universais não têm nada a ver com Filosofia?
GD: Não, nada a ver.
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A cláusula
Claire Parnet [1994]: Gilles Deleuze sempre se negou a aparecer na TV. Mas atualmente
ele acha sua doença tão parecida com a petite mort, da canção de A. Souchon, que mudou
de opinião. Mantive, porém, sua declaração [“a cláusula”], feita em 1988, no início da
filmagem:
Gilles Deleuze [1988]: Você escolheu um abecedário, me preveniu sobre os temas, não
conheço bem as questões, mas pude refletir um pouco sobre os temas... Responder a uma
questão, sem ter refletido, é para mim algo inconcebível. O que nos salva é a cláusula. A
cláusula é que isso só será utilizado, se for utilizável, só será utilizado após minha morte.
Então, já me sinto reduzido ao estado de puro arquivo de Pierre-André Boutang, de folha de
papel, e isso me anima muito, me consola muito, e quase no estado de puro espírito, eu falo,
falo ...após minha morte... e, como se sabe, um puro espírito, basta ter feito a experiência da
mesa girante [do espiritismo], para saber que um puro espírito não dá respostas muito
profundas, nem muito inteligentes, é um pouco vago, então está tudo certo, tudo certo para
mim, vamos começar: A, B, C, D... o que você quiser.
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