19 novembro, 2009

A dor invisível, ou sobre a falta e o excesso de lentes: uma breve análise institucional



Aconteceu numa sexta-feira, 13, semana passada. Parece que a "bruxa
tava solta".
Mas aqui, os personagens-reais foram outros: um homem e uma mulher. Ele aparentando 20 anos; ela, menos de 40. Idades presumíveis.


Dois sujeitos em vários atos, concomitantes, num mesmo cenário: a emergência de um hospital na capital gaúcha. Ele, "um paciente" internado. Ela, familiar de "uma outra paciente" igualmente internada.
Eles não interagiram, ambos ocupados, que estavam, com sua própria dor: a dor de serem invisíveis um ao outro... e aos demais.

Cenário:
Corredor de circulação pública do serviço de emergência de um hospital. Duas recepções, uma aberta e sem vidros. A outra, fechada e com uma porta transparente. Ambas sem funcionários, na maior parte do tempo.

1. Ele
Primeiro ato

Apareceu, vindo diretamente da unidade de internação da emergência, vestido à rigor. Os pés descalços. O corpo parcialmente coberto por aquela... camisola (?), túnica (?) que os "pacientes" recebem ao "baixarem". Nos olhos trazia expectativa. Indispensável angústia. Procurava alguém... ali.

Quem?

Aparentemente - primeira impressão - parecia "psicótico" - jargão usado para designar... um estado mental de quem não está adaptado à realidade. Ombros curvados para a frente. Caminhar lento. Olhos muito abertos... com expresssão de expectativa... contida, e que não fixavam os transeuntes.

Segundo ato

A passos lentos e com as mãos ocupadas em segurar levemente a camisola (?), circulou por todo o ambiente. Idas e vindas. Prá lá e prá cá. Sempre em silêncio.

Foi até outro "setor" que atende "pacientes" vindos de ambulância, convênios e SUS, numa área igualmente comum (e adjacente à emergência)... ao público em geral.
Tecnicamente... ele não poderia estar ali.


Enquanto se desenrolava seu caminhar descalço... e sua procura, eu o observava. Percebi, após alguns minutos, que ele não estava psicótico, mas, sim, envergonhado (!), muito envergonhado e sem-jeito: incrivelmente tímido. Possivelmente em consequencia da situação mesma em que estava mergulhado, pensei.

Ele não "encarava as pessoas" que estavam passando, ainda que sua procura "desfocada" continuasse e seus olhos... buscassem... alguém. Não estabeleceu contato visual comigo nenhuma vez, embora - eu percebi - tenha notado que estava sendo observado. Ele só estabeleceu contato comigo quando me dirigiu a palavra.. mas isso foi mais tarde.. quase meia hora depois...

Quem passava?
Técnicos de enfermagem, médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, residentes, público em geral, composto de familiares e ou acompanhantes de pessoas que haviam sido trazidas ou vieram para ser atendidas na emergência. Falavam sobre o plantão, o fim de semana que chegava, a substituição de um colega e outras banalidades do seu cotidiano... enquanto cruzavam os corredores largos e, apesar do
movimento, cheios de espaço. Alguns se abraçavam, cumprimentavam e trocavam rápidas confidências. Ela, a mulher da cena concomitante, também estava lá.
Nenhum destes deu atenção ao caminhante descalço de camisola (?)!
Decorridos cerca de 30 a 40 minutos nessa muda e descalça caminhada ele veio falar... com quem? Adivinhem! Comigo, claro!

Imaginei que ele estaria querendo fugir.
Que coisa (!)esse imaginário da gente que vai catalogando e criando situações mentais e figurativas... imagens em movimento. Ainda bem que nem sempre as primeiras impressões são as que ficam...


Terceiro ato
Eu estava no balcão de informações-sem-funcionário e sem lugar para sentar e eram cerca de 18h30min. No mesmo passo lento chegou segurando a camisola (?) - que
estava amarrada de lado - e, olhando-me diretamente, perguntou - olhos nos meus olhos:
- O senhor tem um celular para me emprestar?
- Sim, respondi encarando-o, enquanto me explicava que queria fazer contato com sua mãe ou tia que estavam na frente do hospital... (poucos metros distante de onde estávamos).
Disse-me que faria a ligação a cobrar. Falou com uma delas (na minha frente e sem se ausentar com meu telefone) e me devolveu o aparelho agradecendo.

Disse-lhe:
- Estou observando você e acho que Você é um paciente-impaciente!

Um suave e doce sorriso - que não revelou seus dentes - foi a resposta.


Quarto ato
Ainda me olhando o tempo todo, contou-me da sua situação. Estava lá porque havia feito, há meses atrás, uma cirurgia na boca e que, recentemente, tinha ocorrido um sangramento, motivo pelo qual baixou na emergência. Supunha que havia se rompido alguma "veiazinha"... e agora, esperava ser liberado para ir para casa, já que sua alta
estava confirmada... há horas.

Não havia sinal algum, externamente falando, da tal cirurgia.

Ficamos conversando ainda por alguns minutos, até chegarem as duas mulheres... que ele chamou pelo celular.

Ele sentou-se numa cadeira de rodas que estava por alí, já que não havia outros assentos, a não ser na tal recepção com a porta de vidro... que ficava um pouco mais adiante.
As duas mulheres se abaixaram e ficaram conversando com ele...
Num dado momento, uma delas dirigiu-se a um técnico de enfermagem que passava e perguntou onde poderia conseguir um "pró-pé." A resposta foi rápida (ele parou, olhou-a e respondeu com "simpatia e educação") e precisa: no almoxarifado, que fica "em tal lugar"... (explicou onde e como chegar lá.)

A mulher agradeceu e ficou parada... como que pensando sobre as explicações do atendente e avaliando suas condições de chegar ao tal almoxarifado. Alguns minutos depois foi buscar um pró-pé que conseguiu, pasmem, numa outra parte da emergência, alí mesmo, bem pertinho, numa outra parte de "acesso restrito" da emergência... onde foi atendida por alguém que não vi.

Tudo surrealista e dantesco: alguém que não poderia estar ali, ficou circulando nesse lugar - agora já configurado como um não-lugar - por quase meia hora. Um local proibido à "pacientes"... sendo atendido (por familiares) e sentado numa cadeira de rodas... recebendo um pró-pé de um funcionário que nem poderia ter atendido a esse inusitado pedido.
Ele, o rapaz de 20 anos presumíveis estava... INVISÍVEL.


2. Ela

óculos de grau. Aparência comum, mas... de cansada, com olheiras. Mochila nas costas. Roupas confortáveis e informais. Olhar aquoso. Boca rígida.

Concomitantemente e no mesmo cenário, uma outra cena se desenrolava num tempo superior ao do narrado acima.

Quando "ele" chegou com seus pés descalços e sua camisola (?), "ela" já estava lá e, havia muito, conseguira a atenção de várias pessoas, as mesmas, que estavam circulando por alí.
Por quatro vezes falou com um médico e por mais algumas outras vezes, conversou com outros funcionários do hospital que, consegui perceber, estavam "à par" do "caso" da sua mãe, internada desde aquele dia, de novo, por múltiplas causas.

Em todas as conversas que teve com esses interlocutores, o assunto se referia ao estado em que se encontrava sua mãe.
Termos técnicos, usados em profusão, davam conta de falar de um tumor cancerígeno que supostamente não havia crescido e que havia sido combatido com a quimioterapia... mas que alterava o HGT, o apetite, e, agora estava com infecção pulmonar e assim... e... e... e... infinitamente.
Não eram conversas "curtas", rápidas... Até que ela pudesse desfilar aquele rosário de palavras, perguntas e indagações... o tempo passava e, me pareceu, seus interlocutores... se cansavam ou entediavam.

Após a terceira vez que falara com o médico, que já visivelmente evitava olhá-la enquanto ele próprio passava "prá lá e prá cá", já que continuava a passar pelo "cenário comum" a nós todos que estávamos ali, ela começou a chorar... silenciosamente, mas, visivelmente.
Ela chamou o médico - quarta conversa - e, depois de repetir todas as suas angústias com os mesmos termos técnicos e com as mesmas referencias e perguntas, ele respondeu que o estado de saúde da mãe dela era muito precário e que ela poderia vir a falecer (disse isso "delicadamente" mas com certa... ênfase (?).

Ela agradeceu a atenção dele e, após alguns minutos, saiu.
Foi sentar-se numa cadeira... (na recepção com a porta de vidro transparente... e que também estava sem funcionário) e... fechou a porta.

Continuou chorando, silenciosamente.

Minha primeira impressão era de que ela estava sendo muito impertinente e chata, repetindo aquilo tudo. Parecia-me que estava "se vitimando". Claro que percebi que estava sofrendo e preocupada, ocupada, na verdade, com todos os poros do seu ser, com a mãe... ali... doente e internada.
Pensei: quero ficar longe dela, senão... vai me alugar e ficar falando isso tudo de novo.
Mudei de idéia.

Enquanto tudo isso estava acontecendo, eu, afetado por quase três horas de espera em pé e pelas informações contraditórias a respeito do motivo que estava me colocando naquele lugar (não vem ao caso aqui explicitar qual era, embora não tenha sido um motivo profissional) e profundamente chocado com o que comecei a nomear como "a invisibilidade da dor e das dores"... fui sentar-me ao lado dela, par confirmar, ou não, se ela iria me alugar.

Não foi um ato de bondade e não quis fazer papel de anjo encarnado. Estava igualmente cançado e chocado com tudo aquilo que estava acontecendo... comigo, com eles, ele e ela, e, mais ainda, com o que estava vendo como a loucura institucional presente... ali.

Me enganei.
Ela começou a perguntar sobre mim e sobre o que eu estava fazendo alí. (Ela ouvira fragmentos enquanto eu falava, num dos instantes em que busquei informações no atendimento, logo que cheguei e HAVIA um funcionário no local... quase três horas antes no tempo medido... do relógio. Conversamos sobre mim e...

Foi então que ela começou a falar sobre si e sobre seu estado... não mais o da mãe, notei, mas o seu.

Contou-me que sua vida estava acabada. Que não tinha mais tempo para nada. Que fazia papinhas para a mãe - que estava com 31 quilos - e sucos... a cada duas horas... e que, por mais que fizesse, sua mãe continuava perdendo peso. Que trocava as fraldas que a mãe usava. Que tinha marido e filho. Que deixara de trabalhar para cuidar da mãe.
Que tinha "um patrocinador" (foi essa a palavra que usou e que eu não questionei) que a auxiliava financeiramente. Que tinha a limpeza da casa para fazer... e que estava fazendo, pasmem, mestrado. E contou-me que... que... que...

Ouvindo isso tudo e percebendo o múltiplo e complexo desdobramento que ela estava fazendo para tentar dar sentido à sua vida e à doença da mãe, pensei que ela era profissional da área da saúde e que estava fazendo algum mestrado nesse sentido
Me enganei.

Era pedagoga e estava fazendo mestrado em educação!
- Como consegue? Perguntei.

Não conseguia. Estava com os prazos vencendo e não conseguia sentar para escrever.. e se conseguisse, provavelmente não teria cabeça para pensar... e nem para ler. Estava exausta. Sentava na frente do computador de madrugada... mas estava triste, insegura, com medo, preocupada...

E assim, ficou falando sobre seus temores e dores. Ela falava sobre "as coisas da vida" (dela) e eu senti vontade de falar sobre "a vida das coisas".
Disse-lhe:

-Acho que essa situação já passou longe das suas possibilidades. Penso que precisamos desistir dessa onipotência... dessa idéia de que podemos TUDO. Nós não podemos!

Perguntei-lhe se já havia pensado em chamar alguém para ajudá-la. Um ou mais cuidadores para sua mãe? Uma clínica?
Não, não havia pensado nesses termos. Tivera a ajuda de uma faxineira que conhecia por quase vinte anos e que ia quinzenalmente limpar a casa. Decidira, após conselho do marido, chamar essa trabalhadora doméstica para trabalhar diariamente na casa, sem se envolver com os cuidados da mãe, os quais, considerava como sendo, ainda e, apesar de todos os apesares (e pesares!), tarefa sua.
A tal mulher veio, trabalhou alguns dias, menos de uma semana... e... não voltou mais. "Sumiu sem explicações", disse-me.

Continuava achando-a chata. Mas não me sentia oprimido e nem incomodado com sua narrativa... já que, agora, ela não estava mais repetindo "aquilo tudo de novo" que eu já havia escutado antes... Comecei a pensar que ela estava perturbada, se sentindo sozinha, sofrendo e inábil para lidar com tudo isso... ...desde uma ótica... diferente?


Fiquei cogitando...
O que disso é amor?
O que disso são sentimentos de culpa?
Quais os limites da solidariedade e do servilísmo?
Quais os limites da onipotência e da impotência-que-não-se-reconhece-como-impotência?
Dificuldade em delegar os cuidados da mãe a outra pessoa?

Enfim...

Nossa conversa terminou quando minha situação alí se resolveu e foi encaminhada satisfatóriamente. Graças á Deus!
Despedimos-nos com votos de boa sorte e tudo de bom...

De que invisibilidade falo?
De que dor(es)?
De que loucura institucional?

Numa linguagem bem simples, todos os profissionais citados acima estão preparados para atender, acolher, prestar socorro e realizar os procedimentos técnicos e especializados dos quais seus pacientes necessitam, já que todos têm formação, cada um na sua especialidade, experiência, e treinamento... desde que o paciente esteja sentado na frente da mesa, deitado na cama ou maca do hospital... em resumo: desde que ele esteja no lugar certo... que lhe compete. Se não estiver, toda a experiência vai por água abaixo! Foi o que aconteceu, com ele... e com ela.

Eles não estavam se comportando da maneira esperada.

Cada um deles, a seu modo, foram tornados (e se tornaram) invisíveis, inexistentes, insignificantes... inexpressivos e sem a capacidade de afetar outros seres humanos, que, por sua vez, estavam de "corpo fechado"... inacessíveis a qualquer coisa-pessoa-fato-que fugisse à regra e que não os colocasse em risco.
Que risco?
O de VER e PENSAR... que aqui são sinônimos de... agir!

Ambos aprisionados dentro do circuito senhor-escravo, do qual fala Nietzsche: um só existe em função do outro.

Como pode um paciente-vestido-de-paciente nos corredores da emergência de um grande hospital se tornar invisível - apesar-de-ter-sito-visto-com-os-olhos - para dezenas de profissionais que ali trabalham?
Como pode que, mesmo tendo lo visto, não o viram, já que, literalmente, nenhum deles sequer lhe dirigiu a palavra?
Como pode que outros, não profissionais e funcionários da emergência ou do hospital, igualmente "não o viram"?

Dizer que cada um estava envolvido com seus próprios problemas (embora isso TAMBÉM seja verdadeiro) é uma resposta simplista e senso-comum. Evidente que estavam. Mas isso não basta para deixar DUAS pessoas num plano de indivisibilidade.

Dizer que os profissionais estão estressados... que é troca de plantão... que... "não é meu paciente e não tenho nada a ver com isso"... é igualmente, embora também seja verdadeira essa possibilidade, reducionista e simplista (ainda que alguns funcionários sairam e entraram DA/NA PORTA DA QUAL ELE SAIU).

Dizer que os profissionais da área de saúde em hospitais usam mecanismos de defesa para combater as ansiedade persecutórias, depressivas e fóbicas inerentes à sua prática profissional e institucional... é igualmente insuficiente.

Dizer que os dois envolvidos, ele e ela, não conseguiram apropriar-se do seu mal-estar e imputar-lhe a culpa... é tão dantesco quanto o próprio acontecimento em si.

Dizer que o estímulo social vigente na nossa sociedade de consumo que prega o individualismo e a negação do outro quando esse não é fonte de gratificação imediata... também não basta.

Dizer que a sociedade líquida produz amores, afetos e relações líquidas e
descartáveis... também é equivocar-se e simplificar.


O que dizer então?
O que aconteceu e como se produziu esse acontecimento?

Parece-me uma situação complexa.
Uma rede de fios muito sutis foi se formando, foi sendo tecida, tendo como coadjuvantes, todos os elementos citados acima, acrescidos da inviolabilidade dos saberes prontos - um novo fio - e da ausência de pensamento crítico no cotidiano.

As pessoas já não sabem pensar!

Olham para as coisas - e para as pessoas e para os acontecimentos- com uma tão grande incapacidade de avaliar e perceber o que está se passando à sua volta, que se colocam (e são colocados pela existência própria dos saberes prontos e tidos como inquestionáveis) na condição de escravos dessa percepção - saberes prontos - ficando assim impossibilitados de refletir sobre os dados dos seu perceptos imediatos, verificados no aqui-e-agora do seu tempo presente.


Ora, os saberes prontos funcionam em estados e situações que se repetem com um mínimo de variações e em condições ideais-reais e seguras: programa.

Estão... programados para agir... em situações específicas... e, nisso, podem ser muito

bons, competentes, sensíveis, humanos - com humanidade expressada - tecnicamente adequados e politicamente corretos.
A isso corresponde dizer que, se as variações fogem do esperado, ficam cegos, surdos e mudos... de fato.

Noutras palavras: não há lugar para o INESPERADO.

Não há lugar para o INUSITADO.
Não há lugar para a DIFERENÇA.
Não há lugar para o DESVIO DA REGRA.

As cenas protagonizadas por ele e por ela configuram claramente o que na Análise Institucional se chama de analisador espontâneo, ou seja, aquele que mostra algo que acontece, sem ter sido planejado, e que põe à descoberto (revela, põe na luz) toda a trama - sempre complexa e cheia de sobreposições e superposições em plano de imanência - e todo os dramas - no sentido da tragédia dos filósofos gregos - da fragilidade institucional e da ineficiência dos modelos e padrões instituidos.

O poder é algo que se exerce.
As relações de poder são exercidas no cotidiano, não só e apenas naquela conhecida frase que oficializa a verticalidade - fio de cima para baixo - e que diz: "manda quem pode e obedece quem precisa."
Isso não basta. É preciso MAIS para se tornar invisível!

Uma complexa rede de identificações cruzadas ocorre: afinal... todos somos humanos, temos problemas, precisamos trabalhar. Todos temos necessidades. Todos temos sentimentos, medos, afetos... e... e... e... e assim não nos afetamos porque somos todos iguais.
Também em nome dessa igualdade identificatória exerce-se o poder e se torna outros-iguais... em invisíveis.

O que se perde aí é exatamente A DIFERENÇA!

Ora, os problemas, angústias, necessidades e dores dele e dela absolutamente não são iguais, como espero ter deixado claro na pequena narrativa no início desse escrito.

A invisibilidade da qual falo, portanto, é aquela que se caracteriza por uma cegueira que provem do excesso de paradigmas prontos (para LER a realidade e viVER a vida) e da insensibilidade para com o inusitado e inesperado que apontam para DIFERENÇAS que estão pedindo, gritando para ter visibilidade... para se ATUALIZAR... para se presentificar - tornar-se presente-no-presente do aqui-e-agora-ENTRE-nós!

A(s) dor(res) de que falo é essa que se produz pela afirmação das n possibilidades e potências que podem, por assim dizer, traduzir, explicitar, por-em-ato... os nós-de-nós... num contexto em que, caso "houvesse olhos para ver" poderiam ser tecidos... outros fios, outras redes de... eficiência, humanidade, respeito, solidariedade, acolhimento, companhia, parceria e relações sociais... enfim... outras redes de ação conjunta.

A loucura institucional da qual falo é essa em que o especialismo se confunde com a especialização; a humanização se confunde com a humanidade; a moral se confunde com a ética; o individual se confunde com o social e o social se confunde com o individual. Uma loucura absolutamente comum e ORDINÁRIA que segmenta, separa,
dissocia, exclui e impossibilita os nascentes processos de singularização e subjetivação.

Ela está presente não só nos hospitais, mas também nas escolas, presídios, Universidades, atendimentos do telemarketing (essa sim, é ainda mais louca e produz um tipo de sofrimento invisível absurdamente intenso e repetitivamente agudo... enlouquecedor!), bem como nas famílias, motéis e até mesmo nos programas turísticos para "as férias."

No trânsito, no lazer, e na intenet...

Quem já não pirou com aqueles repetitivos e enfadonhos PPSs que falam que tudo está nas nossas mãos... que somos nós que decidimos o que queremos para nossa vida e... e... e... baboseira esotérica-espírita e indiana... que constituem por si só uma rede de mesmice paradigmática que anula qualquer possibilidade de diferentes conexões... com a mídia, a história, a vida psíquica, social, grupal... fios que podem ser tecidos com o amor, a raiva, a inconformidade, com a aceitação... com tentativas de mudanças e assim por diante... também.

Não basta repetir.
É preciso pensar... mas pensar um pensamento diferente. Pois... os pensamentos que aí/aqui estão, tipo alguns aqui analisados, não dão conta da nossa vida... que se quer mais viva e plena de si própria...

Bem vindo pensamento!
Bem vindos, pensamentos...
Bem vindo aos pensamentos...
Bem vindos, pensantes!

2 comentários:

Kátia disse...

Eu aguardava com ansiedade este texto, você bem sabe. Viu como chegou no momento exato?

Aqui é o lugar onde meus anjos falam comigo.
Sim, meuS anjos:
Há um que me acarinha...
Há um outro que me faz levitar...
E há um, o mais chatinho de todos, que faz com que eu veja a mais gritante da minha deficiência daquele momento e... me leva a enfrentá-la. Acabo polindo o sentimento 'bruto', e achando o agasalho para o meu frio.

É emocionante a maneira como você traduz sua sensibilidade. Emociona, contagia, faz pensar.
É um aprender-desaprendendo-reaprendendo... para MUDAR.
O ser humano, em geral, não faz uso do seu real potencial. Não se atreve a sair da mesmice, preferindo a rotina e os condicionamentos. Daí, o fraco desempenho, a baixa produtividade,
o mau atendimento... Não percebem que ao sair da mesmice há melhora nos resultados.

Pensar sempre, mesmo que doa, não é my dear?
Sair do comodismo do conforto, evitar rotinas de condicionamentos... Somente assim, quebraremos a frieza de um ambiente com muito, muito mais humanizAção.

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Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Sim minha querida Kátia. Pensar dói e possibilita sair do comodismo... acionando processos de mudança.

Este texto foi muito difícil de escrever. A experiência foi intensa na visibilidade que teve para mim.
Eu falo muito, mas muito melhor do que escrevo... hahaha.
Saberia falar sobre isso com naturalidade... mas... well... é isso.

O importante é que você está bebendo dessa fonte nosso, a crítica do cotidiano. Ela, por si só, é uma forte ferramenta para mudar esse estado das coisas da vida.

Obrigado por você sempre vir aqui e engrandecer o blog com seus comentários.

Um grande abraço, my dear.