23 setembro, 2014



Há momentos de fôlego necessário, de interiorização, de só ouvir, de recompor-se. Os poetas também são humanos. Diria mais: os poetas são menos que humanos. Estes, os humanos, se esquecem da poesia e apenas a sentem nos cotidianos, ornando a eternidade no luzir do esquecimento de que tudo finda ou se dispõe a alguma forma de transformação; aqueles, os poetas, precisam se lembrar da poesia na ilusão que a eternidade reside em palavras que se diluem numa borracha insegura e invertebrada.
O poeta em mim às vezes se cala, quer quedar-se na contemplação, aliviar a tensão dos dedos e meter-se na camuflagem do silêncio para acalentar as próprias antenas na multidão. Poetas são quase humanos, seres poucos querendo beber de uma humanidade tanta. O poeta é um sempre devir. O ser humano é a inveja dos anjos.

Carlos Tenreiro


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