Terá aquilo, aquele ou aquela que nos é i-r-r-e-s-i-s-t-í-v-e-l... um fim?
Supunha eu, que sacrilégio, que a nossa separação, ou, noutros termos, o seu afastamento, transformaria você em alguém resistível, que não mais me tiraria do chão, não mais me deixaria sem ar e não mais faria meus olhos lhe procurar em todos os cantos... e esquinas.
E Era verdade mesmo. Tudo isso aconteceu, desde o momento em que me obstinei a seguir essa disciplina monástica de ficar longe de você e longe, isso é o mais difícil, das minha idéias a seu respeito. Pensamentos e memórias de afetos e desejos que teimosamente resolvem se intrometer na minha vida consciente.
Consciente?
Não só... já que sonho com você. Também isso... acontece.
Mas, nessas idas e vindas da experiência, fui mantendo você longe o suficiente para ser apenas a memória de um real passado, ou seria a memória de um irreal passado?
Sabemos que o imaginário produz realidade e que o virtual é produtor de real.
Ora, você sempre foi real.
Toquei seu corpo.
Tomei você em meus braços.
Lhe falei e lhe ouvi.
Mais de tudo: olhei para você em mundos de tempo infinitos! Cada gesto, cada movimento, cada chegada e cada partida eram uma constelação de universos, sempre repetidos, mas a cada vez de forma diferente, da beleza ímpar sua e desse seu jeito absolutamente encantador... que me enlouquece.
De novo a volta do absoluto!
Bastou um encontro com alguém comum a nós para que as breves notícias a seu respeito puxassem todo o irresistível de volta: agora eu sei onde você está, com quem e o que faz. Agora posso ir ver você de novo e de novo e de novo... e matar toda essa saudade enclausurada que me ativa o desejo de você... por perto, ao alcance dos meus olhos e das minhas mãos.
De que adianta? Se você, mesmo sendo real, nunca deixou de ser virtual? Se mesmo estando comigo, nunca, de fato, esteve?
De que adianta essa minha vontade de olhar e ver, se o essencial em você está completamente escondido... e inacessível?
Hoje, mais uma vez, depois de anos, O IRRESISTÍVEL bateu à minha porta, na forma de suaves notícias - suas - que chegaram:
minhas pernas balançaram, o coração acelerou e a
vontade de te ver-olhar-e-nunca-mais-párar-de-te-olhar
voltaram a tomar conta de mim.
Socorro.
Eu não consigo mais párar de te olhar quando começo a te olhar...
Te vejo até mesmo na tua ausência!
O irresistível que se transformou em resistível
e agora quer voltar a ser irresistível...
Não! Chega!
Chega meu caro mito-reconhecido-como-mito!
Tudo de novo... NÃO!
Ponto.
Somente um esforço grande aliado a uma disciplina que se garante pela prática continuada me possibilitou ... resistir.
Tarefa difícil, considerando-se o muito que você representa para mim e o muito de .. tudo... que lhe devoto.
Resistir ao irresistível é uma oportunidade de nada mais "daquilo tudo de novo" voltar a acontecer.
Nem poderia. Você não é mais você. Eu não sou mais eu.
Nós não somos mais nós... depois daqueles encontros-desencontros... que tanto sacudiram nossas estruturas.
Nossas?
Sim, nossas, embora, penso eu, pelo que deduzo de você, você imagine que só eu fui afetado pelo conhecimento que fizemos one by one.
Breves momentos em que o desejo de VER (você) tomou proporções de VIDA AGORA (para nós... afinal... tudo poderia ser diferente! Poderia?)
Mas, felizmente para mim (quanto à você, nem mais me dou ao trabalho de considerar e hipotetizar - já foram tantos os monólogos que fiz... com você! - porque cansei de esperar e de apostar) essa volta do irresistível teve duração FINITA.
Bastou dialogar com o passado e reavivar as memória do real-como-real para puff... desintegrarem-se as pretensões de "tudo de novo!
Que alívio!
Você já não tem poder sobre mim. Eu o tenho!
Adeus ao irresistível!
Até um próximo encontro.
(Claro, porque sei que o irresistível, qualquer um deles, sempre volta...)
Teoria
Será possível decidir o que fazer?
Um outramento possível e atual, que se dá através de agenciamentos coletivos e de fluxos incontroláveis do desejo de vida está na medida do possível associado às intempestivas violações da identidade reconhecida:
Eu sou eu
Eu amo você
Eu sinto a sua falta
Eu quero ver e saber de você
Que eu?
Que você?
Que nós?
Um outramento que se define pela recusa de eu-apaixonado, eu-com-saudade, eu-querendo-lhe-ver-e-saber-de-você possibilita sensações e montagem de territórios singulares para a experimentação de outros estados de mim; um eu desplugado do desejo simbiótico desse nós.
Nós de nós que não foram desfeitos.
Nós de nós que se desmancharam, sem terem sido novamente tecidos (a não ser quando do retorno do (quase) irresistível (que se tornou) resistível.
Um processo de singularidade assim montado, pela recusa de você, engendra mundos de eu-para-comigo-mesmo-a-revelia-da-sua-existência.
Resistência?
Resistência política definida por um forte desejo de saúde e bem estar psíquico: manter-se longe das suas maquinações maquínicas.
Mas e o maquínico que reinventa encontros e atualizações do encontro de nós que não somos mais nós?
Ele continua a operar no meio social, nas conversas de informalidade, no imaginário que teima em fazer conjecturas de possíveis, nas expectativas de que tudo pode ser diferente... de antes.
Ora, mais do que tudo, é necessário apostar na fragrância da diferença que se movimenta nessa resistência à você. Dizer não ao irresistível é dizer sim à vida, no seu fluxo de mudança e despersonalização.
Novos mundos são possíveis e de fato acontecem fora dessa tresloucada paixão amorosa que parece não ter fim até mesmo quando já acabou de fato.
Esse é o convite para todos aqueles que querem bater as asas e voar para um lugar longe dos afectos do aprisionamento simbiótico.
Tudo em você me seduz e encanta.
Tudo de você me seduz e encanta.
Nada de você me seduz e encanta.
Tudo e nada são palavras grandes, generalizantes e inebriantes que não podem mais ter lugar num universo de resistência ao irresistível.
Pode haver desejo, sedução, interesse, saudade... e o resto todo que os eternos (outra palavra grande e gorda!) apaixonados sentem e inventam para si e para seus amores-apaixonantes acreditarem.
Pode haver, também, e essa é a ferramenta decisória para ser usada nesses casos de visita do, de novo... irresistível, passagem do amor paixão ao amor decisão.
Não se trata aqui de fugir das sensações de mundo nem de não se entregar ao movimentos de desterritorialização que afectos e afetos assim intensos provocam, mas de insinuar a existência de outros mundos possíveis depois da, já conhecida, hecatombe.
Existe vida depois de você.
Existe vida depois de vencer o irresistível.
Existe vida... anyway.
A vida existe e ela está aqui e agora!