17 novembro, 2008

O irresistível (e a esfinge!)






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O irresistível nos joga numa corrente de pura intensidade. Como uma tempestade, arrasta, puxa, consome, troveja e redemoinha, atira, levanta, mata e dá nova vida.
O irresistível aprisiona, sodomiza... Estende o desejo ao limite do intolerável

Não!

Ultrapassa todos os limites possíveis e, como um vício, pede sua atualização de desejo e saciedade, cada e cada vez mais.
Impossível-possível, que se atualiza num interminável retorno da diferença de si mesmo.

Cada ângulo, faceta, curva, repouso, movimento... cada átomo pede mais e mais de você de novo e de novo...

Com a sua  mão de ferro, disfarçada de pluma, você me pegou, pegou esse outro de mim que eu nem sabia que existia... e guardou! Guardou egoistamente para uso próprio. Narcisista. Perverso...Amando... A mando seu!.

O irresistível torna-se uma morte do passado porque aposta, convida, exige... um puro presente. 
Despersonalização.

Não sou eu quem ama e deseja... é um outro... um outro, desconhecido de mim... e incontrolável.
Ai. Ai. Ai.
Dor, dor, dor.

Não é possível suportar um orgasmo permanente.

É sim... e eu quero mais de você e de mim... Agora e sempre!

O irresistível aponta para um eu desconhecido e apresenta um outro desconhecido para esse eu: cataclisma. Tudo o que julguei viver até agora é nada..., Quando me atiro em você e quando espero você se moldar a mim... sou pura intensidade desse encontro.

O irresistível nos mostra as outras faces... Sobreposta, superposta, deslocadas de um centro já não unificador: deslocamento de um sabido, conhecido... que me toma... e atrai na sua direção... me trai, na sua direção!

Quero mais e mais de você e desse sentir que você arranca de mim.

O irresistível nos mostra um presente de puro prazer e um futuro totalmente inventado e ilusório... real apenas como imaginário!

Socorro. Preciso de ajuda. Quero mais, mas não posso!

Você na sua placidez e imobilidade de um ima vivo nada faz... só me tortura com sua presença – ainda que imaginária - promessa de movimento, prazer e saciação.
Os olhos vêem o invisível do visível em você. Sentidos hipe-aguçados.
Os ouvidos escutam a música da permanente sonoridade sua...

O toque só faz estremecer cada átomo dos corpos...
Ai. Ai. Ai. Que prazer!
O irresistível nos leva para o apego do indizível e não enunciável.
Redundância... só para quem não o viveu!

Quero mais, mas preciso ter menos de você.

Qual esfinge na minha vida – decifra-me ou te devoro – você nunca fez a pergunta. 
Não era necessário...

Porque já me devorou, digeriu, aproveitou, consumiu e excretou o que de mim não precisava.

O que me facsina em você... já não é você... mas o próprio fascínio que você – com a minha ajuda – despertou e fez nascer em mim.

O irresistível nos arrasta para a consciência... Decepção!

O amor, e o desejo, e o vício, não foram eternos como prometia a atração indelével e inelutável!

Superação.
De você.
De mim.
Adeus... Estou livre de você e de seu poder sedutor.

Ainda quero... ah como quero... mas sei que não posso. Não posso.
Vou embora e deixo você com seu próprio mito de poder que, sinal e final dos tempos, você só possuiu por que eu o crie e o dei a você.
Você é minha obra. Eu sou o seu senhor. Papéis invertidos.

Mas, abdico, em nome do vivido, de escravizar-te... Oh! Esfinge!
Você fica, com seu olhar imóvel... a contemplar o deserto. Só aparência de poder.

Eu já estou no fluxo de saída. Adeus. Você fica com seu charme, com sua beleza, com seus enigmas...
...seu mistério não tem fim, mas é resistível...

Resistível! Ouviu bem?

Quando chegamos nesse ponto... Sempre precário, frágil e embrionário de suportar o irresistível... e a ele resistir, vencer... 

Entramos num outro devir antológico. Um outramento agora é possível: ser um outro!

Novos e diferentes presentes são possíveis e atuais.

Uma nova força nos invade e somos puro desejo de liberdade...
Já não somos escravos e nem senhores.
Somos o que estamos... sem sucumbir àquilo tudo outra vez!

O passado de desejo infreável fica como uma jóia rara: trancado no cofre do coração e usável somente em momentos muito especiais... acionados pela memória.

O presente que se estica e materializa... prescinde de você, Oh! Esfinge!

Esse irresistível... Pode ser uma pessoa-objeto, ou um objeto-pessoa; pode ser uma coisa, uma bebida, uma idéia, uma prática, uma droga (química ou não) um sonho, um relacionamento... um delírio híbrido ...de necessidade e carência.

Esse irresistível, poder dos poderes, foi um delírio atemporal - porque eterno na duração - sucumbiu a uma intensa necessidade e potência de vida... outra vida, agora inventada e desplugada do fascínio inebriante e alienante desse você...que por mim foi criado.

Que foi bom... foi! 
Muito bom!.
Mas acabou...

Agora... em frente... Outros me chamam e são por mim chamados.
Resisto a você porque desvendei alguns dos seus mistérios... porque abro mão de desvendar outros... mas, principalmente, porque com a sua ajuda – ainda que você não saiba disso – me voltei para mim, para meus mistérios e minhas facetas...

Olá...

(Cesar Ricardo Koefender - Cerikky)






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