21 setembro, 2014



Da Chegada do Sol
Quando vejo-te, sol, atravessando as paredes, sinto teus raios alvorando meu espírito. Das copas de meus pensamentos fluem róseos desenhos de nuvens num dedilhado de céu. É a aurora! Bem-vinda é a luz que beija os subsolos, que acalenta o fruto ainda não nascido, que lavra os verdes, que empluma os pássaros. Quando a semente irromper para além da superfície e o bater de asas ondular o ar de cachos, teus raios se farão em risos, provocarão estrondos, destruirão todos os asfaltos velhos, destronarão todos os brilhos falsos.
Senta-te então ao meu lado, sol, inclina tua crista de raio, despeja teus olhos de mãe-maior, acalenta com teu ventre vulcanizado o breu de minha pele breve. Encostarei minha fronte em teu corpo nuclear e, quando eu já estiver carbonizado, beijarei-te também os lábios... e finalmente seremos um só.

(Carlos A. F. Tenreiro)


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