14 setembro, 2014



Um coração que fugiu
E perdeu-se por aí.


Desconfiado, tem medo de fantasmas
E masca chicletes de boca fechada
Na fila do cinema ou nas beiras das calçadas.

E passa calado, silencioso
De olhos arregalados, admirados
Das gentes e ruas e frentes
Das casas e praças
E duendes de jardim.

Passa medroso, assombrado
Boquiaberto, encantado
Com os beijos no outdoor
Com os letreiros néon
Com prédios e luzes e estrelas
E livros de cabeceira
E roseiras e jasmins.

Um coração de trouxinha na mão
Que fugiu e perdeu-se
E não sabe voltar

Um coração distraído
Atrapalhado e esquerdo

Que faz ruído quando corre de braços abertos
Por entre outros braços abertos

Ruído miúdo
De coração fugitivo que corre e tropeça
Sem jeito
Num outro peito
Num outro peito.
.
(Flávia Brito)



Nenhum comentário: