05 dezembro, 2008

A raiva e as religiôes: luz que vem do sutra O Sutra Avatamsaka



A raiva é um sentimento indesejável, intolerável e banido na maioria das tradições filosófico-religiosas. Não se deve agir (ou ainda pior, reagir) com raiva, preconizam. Ela é proscrita... por causa do seu poder de mudança...No Sutra Avatamsaka do Budismo Mahayana não é assim.
A raiva é vista como verdade. Ponto. Não é boa e não é ruim. Ponto. Veja:“O Sutra Avatamsaka ensina a visão de que tudo é verdade. No ensinamento do Budismo Hinayana, por ex, ficar zangado e agir com raiva não é um bom estado. Porém o Sutra Avatamsaka mostra a visão extremamente abrangente do budismo Mahayana: como tudo o mais no universo, a raiva também é verdade.Por ex, uma criança desobedece e brinca numa rua perigosa. Seus pais vêem isso e ficam muito zangados. O pai repreende ou mesmo dá uma palmada na criança. “Quantas vezes eu disse para não fazer isso?” A desobediência da criança é verdade: Não é boa nem ruim. A raiva do pai é verdade: não é boa nem má.
A reprimenda e a palmada também não são nem boas nem más, elas também são a verdade. Enquanto a visão Hinayana é tentar não agir com raiva, nesta visão – a do Avatamsaka –a raiva, a repreensão e a palmada destinam-se a prevenir que a criança cause dano para si e para os outros. São simplesmente verdade.” (A Bússola do Zen. Mestre Zen Seung Sahn. Bodigaya. p.175)

Desde Freud e dos estudos da psicanálise... sabemos o poder terrível e bombástico que possui a raiva reprimida. Um dia, explode.Podemos ver a raiva como um sinal, um indício, um aviso de que algo não vai bem... algo está passando (ou passou) dos limites e precisa da nossa atenção. É preciso agir e fazer algo... para redefinir a situação e ou definir uma Nova situação. Nesse sentido, penso, a raiva é grande ferramenta para operar... mudanças no estado (ou status quo) das coisas instituídas.A raiva é um instrumento de desassossego, de indignação... de não conformidade!Se todos agíssemos com a raiva e lidássemos bem com ela (assim como lidamos e consideramos como dignos da nossa humanidade o amor, a tolerância, o carinho, a esperança, a alegria, a felicidade... ad infinitum) – paradoxo dos paradoxos – talvez o mundo não teria... tantas) guerras.Longe de fazer uma apologia da violência ou de estimular o uso irracional e irascível da raiva... já aviso para os mais afoitos e impulsivos... busco apenas mostrar que esse sentimento é tão verdadeiro como o são outros... e que ele, o sentimento de raiva, também pede canal de expressão... e é humano, possui fluxo e é impermanente. A raiva é verdade... também... como tudo!Desejo que você conheça e aprenda a lidar cada vez mais com a sua raiva... ela opera... milagres!

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