11 fevereiro, 2009

A Janela, por Martha Medeiros






Outro dia um homem escreveu uma carta comovente.
Para um site de mensagens...
Dizia ter vivido 12 anos ao lado de uma mulher.
Excetuando-se aquele período de paixão
Que caracteriza todo início de relacionamento,
O resto do tempo que passaram juntos
Foi pouco estimulante.
Almoçavam juntos, viajavam de vez em quando,
Transavam regularmente, riam das mesmas piadas,
Mas a verdade é que
Ele não prestava muita atenção nela.
Havia se acostumado com sua presença.
Até que um belo dia ela pediu as contas.
Arrumou a mala e se foi.
Cansou de não ser percebida.
E só aí ele caiu em si.
Disse-me este senhor que bastou
Dez minutos longe dela para descobrir
O quanto a amava.
Durante os 12 anos de convívio,
Ele estava mais preocupado com
As seduções externas:
Trabalho, futebol, e sim, outras mulheres,
Ainda que passageiras.Por um erro de avaliação, ele não considerava que

Aquele almoçar junto, viajar junto,
Transar e rir das mesmas piadas
Pudesse ser também chamado de amor.
O amor que ele via anunciado nas revistas
E o amor que os seus amigos
Diziam estar vivenciando
Pareciam muito mais verdadeiros do que
Aquele amor que ele tinha em casa,
Desglamurizado,
Com cenas que pareciam em preto e branco.
"Sou uma besta", ele concluiu.
Somos, meu amigo, todos umas bestas.
A gente pode estar vivendo uma relação tranqüila,
satisfatória e afetiva,
Mas sempre tem a maldita janela
Nos chamando lá para fora,
Iludindo a gente de que há algo mais tentador,
Mais desafiante do que aquilo que temos nas mãos.
Como muitos ganhadores de loteria
Que continuam a jogar,
não nos basta o quão rico já estamos:
Queremos mais.
E de olho no futuro,
Desprezamos o que temos de melhor,
O presente.

É difícil descobrir tarde demais

Que se ama alguém.
Além da dor da saudade,
Tem a dor de ter sido estúpido.
Damos valor às pessoas apenas
Quando elas não estão mais por perto,
Os velórios chorosos estão aí para provar.
Até inimigo sai falando bem do morto.
Só que o morto já não pode escutar.
Este homem não teve sua mulher de volta.
Decidida, ela tomou seu rumo.

"O que faço agora?"
Ele se pergunta. Sofra, meu caro.
O sofrimento é a melhor penitência
Para não reincidir no erro.
E da próxima vez,
Saia um pouco da janela.


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