08 janeiro, 2009

A solidariedade e o fanatismo salvacionista ou, trata-se mesmo de ser agradável ou falso?


Ajudar alguém é nobre e, tão mais nobre é, quando se ajuda a quem pediu auxilio! Essa é uma via de duas mãos: pedir auxilio, ajuda, força é a dignidade dos seres que sabem não poderem tudo e que abandonam seu ego onipotente e estendem a mão para ser pega por... alguém! Que alguém é esse?

A solidariedade é um valor caro à quase todos as tradições religiosas... e é recomendada enfaticamente nas práticas cristãs mais conservadoras como uma necessidade que auxilia a depurar o espírito, tornando-o mais puro e digno de bençãos. Mas o dito "auxilio desinteressado" não se perpetua somente no cotidiano dos que estão mergulhados nesses valores, mas também entre aqueles que, mesmo não tendo uma prática espiritual, por assim dizer, diuturna, são atravessados por um quase incontrolável desejo de ajudar. De ajudar o outro, ao outro. Por vezes, esse desejo toma as formas de um egoísmo insuspeitado e inquestionável para o sujeito em pauta, dito de outra forma, para o Ego do sujeito em questão.

Querer ajudar... pode ser uma bela maneira de atrapalhar!

Tomar a iniciativa pelo outro e para o outro, com o discurso e a INTENÇÃO de auxiliar o outro a resolver seus conflitos e por fim ao seu sofrimento e dúvidas, pode, e na realidade quase sempre está, estar escondendo um temível desejo de se sentir útil... útil para si mesmo. Cabe perguntar: como pode uma pessoa que se sente inútil, se sentír útil para um outro, se não se sente útil a si própria? Isso é possível?


Sim, através da expiação dos sentimentos de culpa. Expiação? Fazer de conta que não me sinto culpado e disfarçar meu mal estar ajudando a quem não solicitou auxílio.


Assim: uma coisa, é auxiliar uma pessoa que não está bem, que tem consciência disso e que quer e formulou um desejo e uma necessidade de ser ajudado; outra, muito diferente, é tentar Impor uma solução, para o outro, a partir das próprias convicções... e a partir daquilo que é bom ou foi bom para mim.


No primeiro caso, temos a situação de uma pessoa dona e portadora de sua dignidade, com vontade própria e que reconhece seus limites, sabendo formular o que necessita e um "ajudante" solidário - e talvez até amoroso - que sabe o que fazer e no que é útil... dispondo-se a praticar essa ação por vontade própria e sendo reconhecido pelo outro: benefício para ambos.


No segundo caso, temos uma pessoa passiva e dependente, imersa em suas problemáticas e não desejosa de auxílio - ela, por mais que se queixe, quer deixar tudo como está, pelo menos por enquanto, e não mudar nada... e então entre em atrito ou se submete ao desejo do suposto ajudante; mais fonte de conflito. E temos "um ajudante" que não quer ajudar a não ser a si próprio: dono de um desejo mórbido de resolver os problemas do outro, foge dos seus próprios, julgando ao outro como sendo incapaz de tomar iniciativas e de formular o que necessita... Cenário montado para um desempenho dramático: o salvador e sua vítima! Repetição de uma mesma prática: enquanto ajuda o outro, não ajuda a si próprio; enquanto é ajudado, não se ajuda. Mútua dependência.


Mas, e quando o outro não pode ou não consegue formular o que necessita?
Fuga escapista dos ajudantes de plantão! Mesmo em condições físicas e/ou mentais severas podemos ver quem necessita de auxilio formular o que precisa. Com a palavra, com gestos... através dos olhos! Assim, atribuir ao outro a possibilidade de solicitar auxílio, é apostar na sua condição de gerir a própria vida e dela se apossar, tomar posse, enquanto um sujeito de ação que pode decidir seus rumos. Significa acreditar que o outro é capaz (e não o oposto, ficar supondo de que ele é incapaz) de reconhecer seus limites e limitações, tal como nós próprios... quando não somos invadidos por desejos salvacionistas.

"De boas intenções o inferno está cheio"... diz o ditado. Claro, intenções geralmente são assim chamadas quando a ajuda oferecida NÃO deu certo e quando ouve algum tipo de desencontro entre a necessidade não formulada da vítima e a ajuda imposta pelo salvador!


Fora desse extremo, há várias outras maneiras de exercer a solidariedade. Importante se faz saber aprender a solicitar ajuda e a oferecê-la, assim como saber a quem de fato solicitar o auxílio. O que um pode ajudar, outro talvez não possa.
Assim, perguntar, O que posso fazer para ajudar? Que tipo de ajuda espera de mim? No que posso lhe auxiliar? são questões colocadas que estimulam o necessitado não vitimizado a desenvolver o raciocínio e a ser agente de sua própria situação, ou mesmo tempo que possibilita o ajudante a decidir se o que lhe é solicitado pode ser por ele feito, ou não.

A solidariedade e o auxilio não culposo, não erguido sobre sentimentos de culpa, é uma benção, visto que todos temos limites e todos precisamos uns dos outros!


Variaçõe sobre o mesmo tema: precisamos abrir mão do controle e do egoísmo... para pedir e oferecer ajuda.


(Cesar Ricardo Koefender - Cerikky)
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O texto acima havia sido escrito em 10 de março de 2008 e, aproveitando a transcrição de postagens do outro blog para este, faço um diálogo com o texto abaixo, que recebi hoje.
Maneiras diferentes de falar sobre a mesma coisa, ou seja, o desejo, a compulsão e a NECESSIDADE de sair ajudando as pessoas, quase sempre pagando o preço do auto-abandono e desempenhando o papel do salvador, logo, logo, transformado em vítima.

Eu não colocaria, como colocou o Paulo Roberto Gaefke "a coisa" em termos de falsidade. Não acho que quem, neuroticamente, quer ajudar os outros seja falso. Penso que, de fato, a pessoa é movida por desejos cheios de boas intenções e, valendo-se de pressupostos religiosos, tenta fazer algo. Mas é a tal coisa: "de boas intenções o inferno está cheio".

Ações são importantes; intenções não. A não ser em raríssimos casos...

Penso que o que falta é informação, educação e saúde. Saúde mental.
E, claro, aprender a fazer confrontos com idéias enraizadas pela instituição religião e com práticas culposas, culpadas, viciadas.

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Agradável ou Falso?
(Paulo Roberto Gaefke)


"Eu não sei qual o segredo do sucesso,
mas o segredo do fracasso é tentar agradar
a toda a gente."
(Bill Cosby)



Pode apostar em uma coisa, quando você
deixa de fazer algo ou alguma coisa por você,
só para agradar uma outra pessoa,
você vai ser infeliz e de quebra
ainda vai reclamar de ingratidão em breve.

Fazer aquele papel de bonzinho,
querer agradar todo mundo 24 horas por dia
é uma maneira bem rápida de criar malucos e infelizes.
O conceito de bondade que anda pela Terra,
ainda é aquele de "serviçal",
ou seja; confunde-se amizade com escravidão
e amor com servidão.

Tem até gente que vive ainda pedindo
"prova de amor", "prova de amizade",
como se isso pudesse ser provado
com apenas um ato ou ação.

O bom conceito de bondade é o que envolve a justiça,
por isso Jesus reclamou
quando um homem se aproximou e chamou-o
de "bom homem". Jesus replicou na hora
e disse: "Bom? Por que me chamas bom?
Não há bom senão um só, que é Deus".(MT 19-17)

Jesus era justo, e pregava o amor ao próximo
e fazia a justiça.
Assim também deve ser a nossa vida,
pregar e viver a justiça,
por que não existe um só homem neste planeta
que é capaz de agradar a todos ao mesmo tempo.

Insista em querer ser bonzinho e agradável
e você vai se anular,
vai deixar de viver para servir aos outros.
O pior de tudo é quando você resolve
acabar com a "folga" aquela pessoa
que você acostumou muito mal, sempre cedendo
aos caprichos e desejos mais insensatos.

Quando você falar o primeiro "não" com vontade,
vai sentir a revolta, a mágoa,
e vai receber na cara toda a ingratidão
de quem só se aproveitou da situação.
Triste, mas é verdade.

Valorize-se e seja justo.
Se for preciso fazer algo para ajudar uma pessoa
e você pode fazer sem atrapalhar a sua vida, faça.
Se para ajudar uma pessoa
você tiver que deixar os seus esperando
ou tirar da sua família para ceder para outros, esqueça,
a verdadeira caridade começa na nossa casa,
e a sua primeira casa é o seu corpo.

Pense nisso!

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