20 janeiro, 2009

CAMINHO DAS ÍNDIAS I: Comentários descartáveis mas não desprezíveis



Bahuan e Maya (Márcio Garcia e Juliana Paes), os protagonistasFoto: TV Globo/João Miguel Júnior


Começou.
Começou a nova novela da Globo, assinada pela experiente Glória Perez.
Há muito, desde que ouvi pela primeira vez (e em primeira mão - no blog de uma brasileira que mora em New Delhi), estou na expectativa. Não me frustrei... logo eu que não asssiti a nenhuma novela neste milênio... de nove anos (risos)!

Cenários luxuriantes, como era de se esperar; palavras em hindi e sanscrito, que possivelmente devem estar dificultando o entendimento de quem não conhece os termos e aspectos básicos da cultura do país; tomadas externas belíssimas e fiés, mostrando algo do cotidiano abarrotado de pessoas, animais e intenso movimento nas ruas; cores e... quase cheiros (eu que já estive lá... chego a sentí-los!); belezas e belezas e mais belezas... tudo em dois capítulos, já que começou ontem, dia 19/01/09.
Lindo!

As cenas e os dramas que ocorrem na Índia são as que estão chamando mais a minha atenção, apesar de alguns equívocos terríveis.
Quando a narrativa, ou os acontecimentos se voltam para o Brasil... é de chorar. Muito ruim e sem graça...

Juliana Paes está linda e Marcio Garcia também. Ambos muito bem nos seus respectivos personagens. Uma bela caracterização... apesar dos pesares...

Soa estranho Juliana de cabelos soltos ao vento, coisa que as indianas raramente fazem; a maioria delas usa tranças de longos cabelos negros.
Também soa estranho (para não dizer, nesse caso, completamente fora de propósito) que Márcio tire os sapatos em frente a deidade de Sri Ganesh, algo impossível de acontecer num templo, já que os sapatos são tirados muito antes de se chegar ao nicho onde está a imagem do deus... na verdade, são deixados fora e antes de adendrar-se ao templo... numa verdadeira montanha de sapatos, chappals (sandálias) e alguns tênis.
O mesmo vale para Raj, que os tirou DENTRO de casa...
Furo!

A trilha sonora, ainda que muito bela e eficiente, pelo impacto sonoro... me parece inadequada porque foram usadas duas músicas [uma delas: Azeem-O-Shan Shahenshah - uma canção genuinamente muçulmana numa trama hindu(ista)] do Jodhaa Akbar, filme lançado em fevereiro e que retrata a vida do Imperador Akbar... em cenas relacionadas ao poder e à guerra...
Penso que teria muitas, milhares mesmo, de outras opções... nas (também) milhares de trilhas sonoras dos filmes de Bollywood, como é chamada carinhosamente a indústria cinematográfica da Índia em Mumbai (ex Bombaim) e que faz mais filmes que a Hollywood de Los Angeles, Califórnia.

Detalhes.
Detalhes que fazem diferença.
Só.

Os costumes da cultura e a cultura dos costumes (já que na Índia a tradição do "sempre foi assim e assim continuará sendo" - ainda que muitas mudanças estejam acontecendo em processo acelerado) está sendo marcada a ferro e fogo, quase de forma estereotipada... no desenrolar das cenas e acontecimentos: nada mais óbvio.
Imagino ser muito difícil querer trazer para cá... milênios de história e religião.
Nesse sentido, a equipe de produção e direção estão de parabéns... os dois primeiros dias da novela já estão emplacados, "apesar de tudo".

Um dos únicos países politeístas do mundo, a Índia chama atenção pelo exotismo dos cenários, pela diversidade religiosa (apesar de que, até agora, não apareceu nenhuma referência aos sihks, cristãos, jainistas, budistas e muçulmanos, dentre outros, (claro que isso também é querer demais! Embora já tenha aparecido alguns deles caminhando pelas ruas!)... e por outros milhões de motivos, tal qual o número de deuses, aliás, devidamente citados nos minutos iniciais da trama. Isso dá ibope. Alguém duvida? Claro que não!

Seja como for, estou em franca torcida para que o argumento e a narrativa possam continuar no tom que começou, sem aquelas mudanças bruscas, tão comuns na globo, por causa da audiência.
Ingenuidade?
Pode ser...
mas, também, ... desejo!

A fórmula já deu certo antes, em "O Clone"... alguém lembra? Muitos!
A cultura muçulmana em destaque... InshAllá!
Até se perder completamente na mesmice de sempre e na repetição da baboseira que beirava o ridículo-patético.

Que o mesmo não aconteça com essa "Caminho das Índias": Om evam saraswati namah (mensageiro da deusa Saraswati), a deusa do conhecimento e da sabedoria, bem como das artes em geral e da música em particular.

Apesar de Maya - Juliana Paez - ser "moderna", trabalhar à noite num call center e sair para encontrar-se (de cabelos soltos) com um desconhecido (Marcio Garcia, muito alto e forte para os padrões indianos) na frente do Taj Mahal (que é em Agra, mas é apresentado, ainda que sem referências explicitas, como se fosse nos arredores de Jaipur)... vale a pena ver... pela beleza dela E DA ÍNDIA... E PARA, NO MEU CASO, RELEMBRAR...

Saudades!
SAUDADES!!!

Só mais uma: espero que o anunciado beijo que prometia sair no final do primeiro capítulo (uma heresia completa no que concerne aos filmes feitos na Índia, salvo produções independentes ou estrangeiras rodadas com atores indianos) leve algumas semanas, quem sabe, meses.... para acontecer!
Tudo para ser fiel à Índia, sem ficar aculturando, ou desaculturando e abrasileirando... o país dos deuses!

Estarei atento e assistindo... por enquanto!
Alguns amigos e leitores pediram minhas "impressões iniciais"... ai estão.

NAMASTE



Um comentário:

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Eu, que não sou noveleiro, fiz esses três comentários no blog do click RBS.... risos... não resisti. Tinha cada coisa escrita que não aguentei;

1.

Pois eu estou gostando da estética. Das roupas, das cores, das cenas externas feitas em Jaipur, Agra. Muitas gafes e alguns equívocos... mas, digam-me, como tentar passar aspectos culturais de milênios de tradição, historia e religião na globo? Estou vendo, depois de muitos anos SEM LIGAR NA GLOBO... porque gosto da Índia... e para rever os lugares onde já estive. Juliana Paes está linda, apesar dos cabelos soltos... que quase não são vistos assim nas mulheres indianas...

2.

Que ninguém se iluda: mortes nas ruas, abortos e assassinatos de meninas para evitar o fardo do dote, comer ratos e assuntos do gênero, que retratam a Índia pobre NÃO APARECERÃO na novela da Globo! Pobreza não dá audiência e nem ibope, portanto, esqueçam. A Índia que Glória Peres vai mostrar é uma Índia estereotipada, mas ainda assim ... é Índia. Ter visão e raciocínio crítico não é sinônimo de ferocidade destrutiva. A novela promete fiascos e gafes, mas terá coisas belas também. VE QUEM QUER.

3.

Só para terminar:"quem conhece a verdadeira Índia" sabe que a novela da Globo não será, mesmo, fiel à complexidade desse país e decididamente não mostrará nem um décimo da sua realidade sócio-cultural-política-religiosa etc. Se alguém está querendo CONHECER a Índia... deve ir para lá muitas vezes, ler, estudar, assistir filmes... Querer conhece-la pela novela é impossível e ilusório. A globo sempre dá "pérolas aos porcos". A questão é sair do lugar do porco... e buscar conhecer mais e de verdade.