02 janeiro, 2009

Des-dobra-mentos I e II





I


Foi então que ele viu, após ter escutado a história narrada pela voz suave - e ao mesmo tempo dura - e pausada do seu professor-preceptor, o mago-mor, que a vida era composta de... esferas.

Ele percebeu que emoção e razão, sentimentos e pensamentos são esferas, círculos, perfeitos e independentes que - magia das magias - podiam se unir e formar um todo perfeitamente circular... como o dia que dá passagem à noite, a lua ao sol, a vida à morte e a morte à vida, sendo que, nessa perfeição inacabada ficava extremamente difícil identificar o ponto exato - fração da realidade - em que um se transforma no outro.

Como era possível saber o instante em que o dia se transforma em noite e a noite se transforma em dia e assim... sucessivamente dia após dia e noite após noite?


Soube, então, que essas esferas... formavam ELOS de ligação; anéis concêntricos, sobrepostos, superpostos e atravessados por n outros anéis numa infinidade de possibilidades e de... possíveis!


II


Lembrou-se, ainda, da advertência feita pelo mago: Preste atenção aos detalhes... implícitos.

Teria sido assim mesmo que ele falara? Não lembrava...
Lembrava, isso sim, de cada detalhe... de cada detalhe!

Como sempre acontecia, quando algo lhe era ensinado na hora certa - e isso sempre acontecia com o mago - fixou profundamente na sua memória os acontecimentos da história.

"The gods of Love and Reason Sought alone to rule the fate of Man."
Houve uma época em que os deuses governavam o destino dos humanos... porque não havia ainda a noção de livre arbítrio. Ele começava a ver as implicações que isso tinha no desenvolvimento dos povos e dos sujeitos.

Desenvolvimento? Séculos se passaram sem que os sujeitos pudessem decidir por si próprios... estavam acorrentados às tradições e preceitos que seu tempo lhes atribuia como certos.
O livre arbítrio possibilita o rompimento, a ruptura, com a decisão do que era considerado como certo pelas autoridades da Terra e pelos deuses do Olimpo. Um perigo... para eles e para o próprio sujeito.

Os deuses do Amor e da Razão poderiam correr perigo... mesmo! Ainda hoje correm, pensou, inflamado por esses perceptos e raciocínios instantâneos: não cumprir um ritual, não fazer - ou fazer errado - o que é lei e tradição é uma heresia, uma abominação. Mesmo na magia... há rituais acadêmicos. Riu de si próprio, satisfeito com o bom humor.

E é possível fazê-los... só para aprender.


É necessário fazê-los, corrigiu-se. Como disse o mestre: O dedo que aponta a lua, não é a lua!

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