18 novembro, 2008

FOI ASSIM





assim
que te vi eu soube que era vc, pois meu coração quase parou...

foi aquele encontrão em todos os sentidos, eu vinha distraída olhando as gaivotas, e vc distraído vinha, em plena tarde de outono, mar revolto, cinzento , ondas espumantes e raivosas...sei lá, vc tinha um ar sério, talvez algo não fôsse bem pro seu lado, e sem querer nos esbarramos, tão de frente que quase caí, mas foi nos seus braços que fui parar, e nesse instante o mundo parou, o mar parou, as gaivotas congelaram no ar e eu tbm.
por um momento pensei que estava com o controle remoto nas mãos, a cena muda, estática, e a gente esperando voltar ao ar...voltamos, mas nada mais foi igual, quando olhei seus olhos, tão da cor do mar cinza-esverdeado,meio aguado, tive vontade de me afogar neles, de ir bem fundo e nunca mais voltar, nem sabia mais onde era o oceano e onde era o seu olhar...

a gente podia ter seguido em frente,bastava um pedido de desculpas, um aperto de mão talvez, mas o destino nessa hora queria mais, e eu também, e claro, vc também quis mais...

não houve aperto de mão nem pedido de desculpas...sentamos ali mesmo na areia, as ondas molhando meu vestido e lavando minha alma...foi assim que começou o grande amor de nossa vida, te contei tudo de mim, e tudo de vc, vc contou, de suas angustias, de seus temores, de sua pobreza, de seus filhos pequenos...ahhhh....tanta coisa que vc falou, que vc queria se abrir, soltar sua mágoa, despejar tôda aquela tristeza, e eu ouvi, ouvindo vc e a voz do mar se confundindo, a noite chegando, o frio me alcançando devagar...

Dia seguinte, sem que nenhum de nós houvesse dito ou marcado, lá estávamos de novo, a mesma praia, a mesma neblina subindo do mar cinza-esverdeado, tal e qual seu olhar, menos trágico talvez, seu sorriso mais ameno...um certo nervosismo no ar, uma ansiedade que logo sucumbiu ao nos jogarmos nos braços um do outro, numa necessidade tão devastadora quanto o rugido do mar...


Dez anos foi o quanto durou aquele nosso amor tão impressionante, tão destoante, mas tão feito de entregas e conformações...seus olhos perderam o cinza eficaram mais verdes, e enquanto seu cabelo enegrecia e avolumava, o meu embranquecia e perdia o viço...vc encorpava e eu definhava...era natural, muitos anos nos separavam, mas nada disso importava para mim, nem para você

te ajudei em tudo que pude,restituí sua dignidade e vc me deu o amor maior que sonhei,foi um amor assim todo cheio de trocas, eu te dava a sonhada paz, vc me dava o verdadeiro afeto...nunca em teus olhos eu vislumbrei uma sombra de desamor, de cansaço ou tédio...mas o tempo inexorável passava e eu sabia que as diferenças se acentuavam, que já não tinha a beleza de antes,não que vc me tivesse amado pela beleza exterior, não, era meu ser, meu jeito de ser, eu sei que era, mas também sabia que o abismo cada vez mais se abria entre nós, e já começava a ver certos olhares preocupantes nos teus verdes olhos, ao me despir, ao expor meu corpo maduro e sem vaidades...claro que você negava ao ser inquirido, a saber se desejava que eu tomasse alguma providência em relação, sei lá, plástica talvez, certos tratamentos...mas você nem quis me ouvir, fez-me crer que que nada mudara, mas eu sabia que mudara sim e soube bem mais quando te vi com outra, bem jovem, muito jovem e linda...e você parecia encantado...

A briga foi feia, primeira e única, palavras já não surtiam efeito e fui embora, era o que tinha a fazer, deixar você livre, porque te amava...

Agora estou aqui no seu enterro, coração destroçado...,quando o mar devolveu seu corpo baleado e fui chamada para identificar, foi como aquele dia em que meu coração quase parou...aquela tarde de outono em que nos encontramos e juramos amor eterno, e eterno será, fique em paz meu amor, não se preocupe por mim, me arranjarei sozinha.
Não encontraram seu assassino e vc se tornou mais uma estatística da violência urbana



PS-Não receie por mim, não serei presa.
já me desfiz da arma...
Mariza.a.m






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