27 novembro, 2008

O Rouxinol e a Rosa





Adaptação do conto de Oscar Wilde,

por Lady Foppa



Um rouxinol vivia no jardim de uma casa.

Todas as manhãs, uma janela se abria...

...e um jovem comia seu pão,

Enquanto olhava a beleza do jardim.

Sempre caiam farelos de pão no parapeito da janela.

O rouxinol comia os farelos, acreditando

Que o jovem os deixava de propósito para ele.

Assim, criou um grande afeto por aquele que

Se preocupava em alimentá-lo...

...ainda que com migalhas.

Um dia, o jovem se apaixonou.

Mas, ao se declarar, sua amada impôs uma condição

Para retribuir seu amor:

Que na manhã seguinte ele lhe trouxesse

A mais linda rosa vermelha.

O jovem percorreu todas as floriculturas da cidade,

Mas sua busca foi em vão.

Nenhuma rosa... Muito menos vermelha.

Triste, desolado,

Ele foi pedir ajuda ao jardineiro de sua casa.

O jardineiro declarou que ele poderia presenteá-la

Com petúnias, violetas, cravos...

Qualquer flor, menos rosas.

Elas estavam fora de época;

Era impossível conseguí-las naquela estação

O rouxinol, que escutara a conversa,

Ficou penalizado com a desolação do jovem

Teria que fazer algo para ajudar seu amigo

A conseguir a flor.

A ave então procurou o Deus dos Pássaros, que falou:

- Você pode conseguir uma rosa vermelha

Para o seu amigo...

...mas o sacrifício é grande e poderá custar-lhe a vida!

- Não importa, respondeu a ave.

O que devo fazer?

- Bem, você terá que se emaranhar em uma roseira,

E ali cantar a noite toda, sem parar.

- O esforço é muito grande; seu peito pode não agüentar...

- Assim farei, respondeu a ave.

É para a felicidade de um amigo!

Quando escureceu,

O rouxinol emaranhou-se em meio a uma roseira

Que ficava em frente a janela do jovem.

Ali, pôs-se a cantar seu canto mais alegre,

Pois precisava caprichar na formação da flor.

Um grande espinho

começou a entrar no peito do rouxinol,

E quanto mais ele cantava,

Mais o espinho entrava em seu peito.

Mas o rouxinol não parou.

Continuou seu canto, pela felicidade de um amigo.

Um canto que simbolizava gratidão, amizade.

Um canto de doação, até mesmo da própria vida!

Pela manhã, ao abrir a janela,

O jovem se deteve diante da mais linda rosa vermelha,

Formada pelo sangue do rouxinol.

Nem questionou o milagre, apenas colheu a rosa.

Ao olhar o corpo inerte da pobre ave, o jovem disse:

- Que ave estúpida! Tendo tantas árvores para cantar,

Foi se enfiar justamente em meio a roseira

Que tem espinhos.

Pelo menos agora dormirei melhor,

Sem ter que escutar seu canto chato.




Quem já sofreu a dor da ingratidão, gerada pela falta de reconhecimento e pelo descaso, entende a mensagem dramática desse texto. Doar-se até morrer; morrer de tanto amar e doar-se... e ser desprezado.

É muito triste mas, infelizmente,...

Cada um dá o que tem no coração...

E cada um recebe com o coração que tem...


Fábula: morrer de amor, por amor...

Realidade: até onde vai a doação? A entrega?

Mito: eu tenho o poder da sua felicidade nas minhas mãos...

Aprendizagem: amor incondicional!

Medo: de uma tal morte.

Coragem: de uma tal doação...

Pergunta: onde está o amor próprio do rouxinol?

Pergunta 2: A ilusão gera amor?

Pergunta 3: O jovem era egoísta?

Pergunta 4? Será que o jovem é mesmo ingrato?



É possível ver o rouxinol como um abnegado, amoroso e desapegado, que dá seu amor e afeto... incondicionalmente; e, dá para vê-lo, também, como um imbecil iludido, encantado com a possibilidade egoísta de fazer o outro feliz, tornando-se, assim, a vítima do próprio desejo... e se vitimando para salvar o outro.

Alguma outra forma de ver?





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