21 novembro, 2008

A Dificuldade de agradar a todos




Foto da amiga Jussara B. Click feito na Índia no ano passado.


Já dizia uma das minha mestras: o óbvio precisa ser dito.


Este texto, na verdade uma parábola de um autor desconhecido (assim me foi enviado e eu estou repassando), fala de algo absurdamente verdadeiro, inevitável e repetidamente esquecido.
Poderia ser chamado também de "não é possível agradar a gregos e troianos, a xiitas e sunitas, a homens e mulheres, a católicos e protestantes, democratas e republicanos"... etc.

Quantos se preocupam, pré-ocupam e se fixam na opinião alheia?
Milhões!

Desnecessário, porém útil, lembrar que não podemos evitar ou controlar a opinião e/ou o julgamento alheio aos nossos feitos e atos.
Não podemos passar a existência inteira (até mesmo um dia inteiro... rsrsrsrsss) agradando a todos.
ponto

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A Dificuldade de agradar a todos


Em pleno calor do dia um pai andava pelas poeirentas ruas de Keshan junto
com seu filho e um jumento.
O pai estava sentado no animal, enquanto o filho o conduzia, puxando a
montaria com uma corda.
"Pobre criança!", exclamou um passante, "suas perninhas curtas precisam
esforçar-se para não ficar para trás do jumento.
Como pode aquele homem ficar ali sentado tão calmamente sobre a montaria,
ao ver que o menino está virando um farrapo de tanto correr.

O pai tomou a sério esta observação, desmontou do jumento na esquina
seguinte e colocou o rapaz sobre a sela.
Porém não passou muito tempo até que outro passante erguesse a voz para
dizer:
Que desgraça! O pequeno fedelho lá vai sentado como um sultão, enquanto seu
velho pai corre ao lado.

Esse comentário muito magoou o rapaz, e ele pediu ao pai que montasse
também no burro, às suas costas.
Já se viu coisa como essa?, resmungou uma mulher usando véu. Tamanha
crueldade para com os animais!
O lombo do pobre jumento está vergado, e aquele velho que para nada serve e
seu filho abancaram-se como seu o animal fosse um divã.

Pobre criatura! "Os dois alvos dessa amarga crítica entreolharam-se e, sem
dizer palavra, desmontaram.

Entretanto mal tinham andado alguns passos quando outro estranho fez troça
deles ao dizer:
Graças a Deus que eu não sou tão bobo assim!
Por que vocês dois conduzem esse jumento se ele não lhes presta serviço
algum, se ele nem mesmo serve de montaria para um de vocês?

O pai colocou um punhado de palha na boca do jumento e pôs a mão sobre o
ombro do filho.
"Independente do que fazemos", disse, sempre há alguém que discorda de
nossa ação.

Acho que nós mesmos precisamos determinar o que é correto".



Um comentário:

Cerikky.. Cesar Ricardo Koefender disse...

Difícil mesmo, é aceitar que não estamos agradando...
Difícil mesmo, é dizer que não estamos satisfeitos com "o ocorrido".

Ainda nessa semana, uma pessoa me disse que sua irmã, por telefone, após ter escutado um breve relado, afirmou:

- Nem os mosquitos da dengue te querem, mas tu tá mal hem!
Nem os ladrões querem saber de ti!
(referindo-se a um assalto ocorrido num ônibus). (Risos!)

Pensando tratar-se de uma "mera brincadeira" íntima entre irmãs bem humoradas, ainda que tenha me causado estranheza o relato e o tom da narrativa... vim a saber que a tal irmã tem o hábito de usar expressões pejorativas e "brincalhonas" para "descontrair" e, depois... solicitar algo, um favor, um empréstimo... qualquer coisa, que faça com que essa pessoas se sinta útil.

A tal pessoa nunca disse para a irmã que não gosta e não se sente bem com tais comentários jocosos; ao mesmo tempo permite que sejam feitos "para não criar caso".

Ora, esse é um exemplo bem comum da banalização da violência dissimulada e do desrespeito a si próprio e ao outro.

Não problematizar, não indagar-se, não dizer, não expressar o que sente, aqui, não tem nada a ver com a individualidade das duas pessoas em pauta, mas tem a ver com essa crescente subjetivação onde o individualismo ganha espaços cada vez maiores e onde os sofrimentos, pequenos e grandes, perdem território para as aparências de fortaleza intocada.

O "desejo de imagem" é tão forte que o sujeito, mesmo ressentido, assume expressão de jogador de pôquer, intocado pelos acontecimentos, ou, pior, ri... como se nada estivesse acontecendo... e se transforma em objeto de consumo do "desejo de imagem"... do outro.

Mais valia, lucro das aparências.
De quem?
De ambas. Cada uma, a seu modo, "fica na sua".
Quem perde é o vínculo e quem ganha é a mesmice e o descaso.

Longe de fazer uma apologia dos bons costumes, da moral e das atitudes "politicamente corretas"... estou apontando o grave fato social - que produz e reproduz sintoma e mal-estar - pois o que o outro pensa ou deixa de pensar e sentir... NÃO INTERESSA.

Num extremo do individualismo, o excesso de cuidado consigo próprio; no outro, o excesso de "descuido" com o outro.
Relações loucas essas.

Sou francamente favorável às atitudes politicamente In-corretas!