20 novembro, 2008

Um sonho de criança






Não consigo mais esquecer do menino que pediu ao papai-noel ("maldito bom velinho") pelo correio no ano passado... um filhote de elefante.

Essa situação voltou à tona porque na "turma de formandos" desse ano, pasmem, uma agencia de eventos, tipo isso, fez aqui em Porto Alegre, um curso de formação de papai-noéis para atender as necessidades do mercado... natalino.
Um dos critérios para se inscrever... era ter barba natural... que meigo!
A turma desse ano não só se formou com em evento de grande publicidade real... como desfilou pela cidade inteira e visitou os principais shoppings center da cidade, em ônibus de linha TURISMO. Babem. Foi inesquecível.

Bem, voltando ao menino e seu sonho de ganhar um elefante de presente (que amor, imagine só... até onde vai a possibilidade atípica de uma criança sonhar... nos dias loucos de hoje). O papai noel que estava de "plantão na ocasião" conseguiu demover a criança de receber esse impossível e inusitado presente "irreal".
Não sei como terminou a história e, não é isso o que importa no presente momento.
O que importa, são os desdobramentos...

1. O menino não ganhou o filhote de elefante. Ganhou alguma outra coisa. Quem sabe um... cachorro? Uma bola? Um joguinho de quebra-cabeça?
O elefante poderia ser.. de madeira, de porcelana, de plástico... mas um elefante.
Poderia ser convidado a passar uma tarde no zoológico... a maneira mais próxima de realizar "uma parte do seu presente".
Uma colega sugeriu que fosse explicado para a criança que o elefantinho iria sentir saudades da mãe dele... se fosse tirado dela... e que ... e que...

2. O tal papai-noel pareceu sentir-se muito orgulhoso por ter convencido a criança a desistir do irrealizável presente. Matou, com isso, um sonho de criança.
Mais... desestabilizou a possibilidade de sonhar... com seu mega-realismo orgulhoso.

Ora, não estou aqui para julgar o papai noel como entidade do imaginário, ele próprio em franco processo de decadência... qual a criança de 5 anos que ainda acredita em...? Poucas, muito poucas. Ainda bem. E nem, tampouco, para julgar a "pessoa-persona" do tal papai-noel.
Quero é marcar o apunhalamento da sensibilidade... afinal, o menino não pediu uma bola, nem um video-game e nem um carrinho... ou qualquer dessas coisas que o mercado hiper-estimulante tem aos milhões.
Ele queria... um filhote de elefante!!!

3. Muitos entenderam a questão sob a ótica dos limites. A criança, sua mãe, (ninguém falou no pai, por que será?), sua família e a sociedade, inclusive... não colocam limites para as crianças e daí... bem, essas coisas acabam por se deflagrar.
Noutros termos: como é mesmo que se chegou a permitir que tamanha "heresia-sunita" chegou a ser escrita e, pasmem, enviada pelo correio, lida e ainda comunicada na mídia?
Ora, é claro que a família dessa criança não se ocupou da questão. Mas, só por esse motivo... é que se viu que, sonhos, não podem ser sonhos irrealizáveis ... eles devem ser sonhados com critérios de realidade... sonhos plausíveis. Mesmo numa criança pequena.
Que espanto.

4. O que está em pauta, é o próprio ato de desejar... sonhar... querer... e buscar.
E entrou, como convidado-não-convidado, a máquina de destruição de sonhos... não há elefantes de verdade para vender no mercado brasileiro, então... esse sonho é in-sonhável. Ponto.

5. Feriu-me, a situação! Fosse eu o papai noel, teria dado outro rumo à questão.
Desejo que essa criança ... e todas elas e todos as pessoas, de qualquer idade, não massificadas por essa lenga-lenga consumista-desenfreada, continuem sonhando seus sonhos in-sonháveis.
Eles transformam o mundo...

A questão é... que eu jamais seria um papai noel.
Poderia ser um palhaço, um gnomo, um mago, um cidadão sensível...

Para finalizar quero "dizer" que abomino papai-noéis que só tem barba branca natural, mas não tem espaço para deixar fluir, através dele, do seu corpo, da sua mente, do seu coração um devir criança, um devir sensibilidades atípicas, um devir sonho, um devir fantasia, um devir diferencial.. que clama por... diferença.

Ele não queria uma boooola; ele queria um... filhote de elefante!
10 para a criança.
0 pro...

Um comentário:

Angela Regina disse...

Ah!
Tema facinante o sonhar...
Acho que sou daquelas pessoas que gosta de ficar próxima aos sonhos, observar os sonhos, mesmo os que já moreram...Sempre encontro coisas incríveis...Aprendo tanto...
Obrigada por me lembrar!