19 novembro, 2008

A terceira tarefa para amar, por Bel Cesar




Na terceira tarefa, Afrodite entrega a Psiquê um recipiente de cristal que ela deve encher com águas que alimentam os rios dos Infernos.

Essas águas caem do mais alto penhasco de uma montanha imensa, praticamente impossível de ser escalada e, além disso, como é guardado por perigosos dragões, não há como aproximar-se dele, mesmo que rapidamente.
Mais uma vez, Psiquê se desespera por considerar-se incapaz de realizar essa tarefa impossível. No entanto, Zeus manifesta-se como uma águia, voa até ela, pega a taça de cristal, enche-a no rio e a devolve para Psiquê.

Parece tudo tão fácil quando a Divina Providência surge para nos ajudar!
Após ter aprendido a discernir suas necessidades e a cooperar com as necessidades alheias, agora o desafio consiste em adquirir visão para distinguir e alcançar o que se deseja. Quando aprendemos isso, adquirimos a capacidade de visualizar padrões e de agir de forma decisiva por nós mesmos.

Mas o segredo, segundo Robert Johnson em seu livro
She, consiste em saber fazer uma coisa por vez, e fazê-la bem feita: “O aspecto feminino da psique humana tem sido descrito como uma consciência difusa. A natureza feminina é inundada pelas infinitas possibilidades que a vida proporciona e vê-se atirada a todas elas quase que de golpe. E a grande dificuldade é que ninguém pode ter ou ser muitas coisas ao mesmo tempo.

Algumas das possibilidades que nos são dadas se contrapõem e - portanto - temos de escolher. Como a águia, que tem visão panorâmica, temos de focalizar um ponto no longo rio, mergulhar e trazer uma só uma taça de água”.


O mito nos ensina agora que para amar é preciso escolher e sentirmos-nos satisfeitos com nossas escolhas. Isso não significa que estaremos saciados quando encontrarmos o amor em nossas vidas, mas que agora devemos assumir um compromisso com ele.
Segundo o budismo tântrico, temos a capacidade de gozar da felicidade ilimitada ao nos libertarmos das ilusões que normalmente poluem nossas busca do prazer.

Ao contrário do que comumente se pensa, não há nada de errado no experimentar prazer e gozar a vida. O erro está no modo confuso com o qual nos agarramos a estes prazeres, fazendo-os com que se transformem de uma fonte de felicidade em um motivo de dor e frustração.
Lama Yeshe escreve em seu livro “O caminho do Tantra”: “A questão é que nossa procura pelo prazer está direcionada aos objetos externos do nosso desejo. Quando não conseguimos nos apropriar deles, ou os perdemos, sentimo-nos frustrados e perdidos. Por exemplo, muitos entre nós procuram o homem ou a mulher dos nossos sonhos, alguém que seja uma fonte ilimitada de felicidade, mas apesar de já termos colecionado uma longa série de relacionamentos com homens e mulheres, estes sonhos permanecem sempre ilusões inatingíveis. "O que não chegamos a entender é que dentro de nós existe uma fonte infinita de energia masculina e feminina.

Portanto, muitos de nossos problemas surgem porque ignoramos ou suprimimos aquilo que já temos dentro de nós. Os homens procuram se esconder de seus aspectos femininos e as mulheres têm medo de experimentar a sua energia masculina. Como resultado, nos sentimos constantemente separados de algo de que temos necessidade. Como não nos sentimos completos e, portanto, cheios de expectativas, nós nos voltamos para os outros para encontrar as qualidades que pensamos não ter, na esperança de atingir certo grau de completude.


Como resultado, nosso comportamento é, em grande parte, viciado pela insegurança e a possessividade. Na realidade, todos os problemas do mundo - da ansiedade de uma única pessoa à guerra entre nações - podem ser criadas por esta sensação de não sermos completos”.
Enquanto nossas energias femininas e masculinas estiverem fragmentadas e desequilibradas, seremos dependentes da companhia dos outros, e, ao nos sentir incapazes de encontrar satisfação, vamos saltar de galho em galho. Por um lado, quanto mais desejarmos um objeto, mais perturbados ficaremos por não obtê-lo. Por outro lado, quando chegarmos a obter aquilo que desejávamos tanto, passaremos logo a considerá-lo como imperfeito. Se não soubermos nos compromissar com o amor, iremos logo procurar um novo relacionamento, gerando expectativas tão irreais quanto as anteriores.

Desta forma, nossa vida torna-se um contínuo vai e vem: trocamos uma coisa pela outra sem nunca nos aproximarmos realmente da felicidade desejada e da paz interior.
Em outros termos, podemos dizer que a terceira tarefa nos ensina a rever e a esclarecer nossa noção de prazer e satisfação. Certa vez, ouvi Lama Gangchen comentar que pessoas rápidas precisam de métodos lentos e pessoas lentas precisam de métodos acelerados. Um relacionamento afetivo é um poderoso método de autoconhecimento. Não importa há quanto tempo você está envolvido numa relação: neste ponto da jornada, o importante é ser perseverante.

Aprofunde seus relacionamentos antes de torná-los descartáveis!
Confira na próxima semana a última e mais difícil tarefa de Psiquê: a descida aos infernos, um teste pelo qual as pessoas raramente aceitam passar.



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